[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Nesta entrevista a António Amorim, é certamente a declaração de maior impacto, por aquilo que significa para produtores de vinho e consumidores, que têm no chamado “gosto a rolha” um factor de risco para o seu produto ou para o seu momento de prazer enófilo. Mas o presidente e CEO da Corticeira Amorim aponta outros importantes desafios para uma indústria que está, claramente, numa boa onda.
TEXTO Luís Lopes
FOTOS Anabela Trindade
António Amorim, pode dizer-se, nasceu para isto. Ao leme da maior empresa mundial do sector, atravessou o período mais difícil da década de 2000, com a pressão concorrencial colocada pelos vedantes alternativos, e conseguiu recuperar a confiança do mercado na rolha de cortiça à custa de um gigantesco investimento em investigação, desenvolvimento tecnológico e sensibilização. Hoje, a rolha de cortiça cresce a um ritmo superior ao do mercado do vinho.
A guerra contra o TCA (tricloroanisole) está na fase final: problema resolvido nas rolhas de microaglomerado de cortiça, promessa de resolução, até 2020, nas rolhas de cortiça natural. Entretanto, na Corticeira Amorim já se trabalha para superar o novo desafio imposto ao sector: tornar o sobreiro uma opção mais apetecível e de retorno mais rápido para o produtor florestal.
António Amorim, 51 anos, sabe que não pode parar para contemplar as vitórias. O negócio da cortiça é feito de uma luta permanente pela optimização de processos, evolução tecnológica, melhoria de performance, criação de novos produtos, consolidação e conquista de mercados. Como nos diz, reiteradamente: “Nada está ganho, não chegámos ainda a lado nenhum e não podemos ter essa ilusão.”
Iniciou a sua carreira profissional muito cedo, com 22 anos, no Grupo Amorim, mas não foi logo para a cortiça, esteve na Imobiliária, na Hotelaria…
Na verdade, eu queria trabalhar na cortiça desde o início, mas o meu tio, Américo Amorim, não me fez a vontade. Fiz os meus estudos universitários em Inglaterra e depois uma formação ligeira em enologia em Bordéus, mas após um pequeno estágio na corticeira fui primeiro para uma empresa de telas de pneus pertencente ao grupo, depois veio a hotelaria, num projecto ligado à Accor e aos hotéis Ibis/Novotel, e a seguir a imobiliária, onde tive a responsabilidade de lançar aquilo que é hoje o Arrábida Shopping, além de outros projectos. Em 1996 houve uma mudança muito profunda na estrutura dirigente da Corticeira Amorim, com a saída de alguns quadros históricos, e, finalmente, o meu tio chamou-me para ficar responsável pela Unidade de Negócios Rolhas. Cinco anos depois, com a saída dele da gestão operacional da Corticeira Amorim, assumi o lugar de presidente e CEO da Corticeira.
A cortiça era uma inevitabilidade na sua vida?
Eu acho que fui educado e preparado desde o início para fazer aquilo que faço hoje. Nasci a um quilómetro da fábrica, as minhas férias de juventude foram passadas aqui em Santa Maria de Lamas, os meus sábados eram na empresa, o meu pai recebia clientes em casa semanalmente, eu ajudava nas visitas à fábrica porque tinha mais facilidade com o inglês, nas férias de Natal e da Páscoa íamos ao Alentejo ver os sobreiros e as herdades. Fui assim ganhando proximidade, afinidade, conhecimento e gosto por este trabalho. A minha maior surpresa foi o meu tio não me deixar entrar directamente na cortiça…
Ficou triste?
Na altura sim, claro. Mas o meu tio foi-me buscar uns anos mais tarde e consegui então fazer aquilo que sempre quis.
Falemos primeiro de cortiça para daqui a pouco falarmos de rolhas. Portugal tem cerca de 34% da floresta de sobro de mundo. O volume de matéria-prima é adequado às necessidades?
Portugal tem 34% da área, mas 50% da produção de matéria-prima. Espanha, por exemplo, produz 30% da cortiça. A produção de cortiça não é escassa, está ajustada ao nível de procura actual. Não podemos esquecer que na década de 2000 a 2009 a cortiça perdeu uma quota importante no mundo do vinho; se o mercado tivesse continuado a crescer ao mesmo ritmo, hoje haveria, é verdade, um desajustamento entre oferta e procura. Neste momento, essa relação está equilibrada.
Mantendo-se a retoma da cortiça e o crescimento continuado, no vinho e noutras bebidas, não irá haver escassez de matéria-prima no futuro?
Esse é o problema, a questão coloca-se não a curto prazo, mas sim a longo prazo. A cortiça tem um potencial enorme de crescimento no mercado, o sector tem uma ambição muito forte, queremos reafirmar as características únicas do nosso material, e como na floresta tudo demora décadas, se não começarmos agora a planear esse crescimento de oferta, daqui a sete ou oito anos vamos encontrar um desequilíbrio entre oferta e procura. É nessa vertente que estamos a trabalhar neste momento.
Como avalia a evolução do montado de sobro em Portugal? Qual é a tendência?
Nunca tivemos em Portugal tanta área ocupada com sobreiros e nunca a produção de cortiça foi tão pequena. O problema não está na área ocupada, mas sim na densidade existente. Tem havido alguma renovação, vamos em breve entrar num período onde poderemos beneficiar das plantações feitas entre 1995 e 2000, com esses sobreiros a iniciarem o seu ciclo de produção após 25 anos. A questão é que hoje não há quem invista num horizonte temporal de 25 ou 30 anos. Um produtor florestal já não investe para os netos, como fazia antigamente. Portanto, temos de encontrar uma forma de fazer com que o sobreiro seja uma espécie mais interessante para o produtor florestal. Ao mesmo tempo, é preciso renovar a oferta de cortiça existente, pois não havendo plantações novas o montado vai envelhecer e a qualidade da cortiça vai ressentir-se daqui a 30 anos. É por isso necessário plantar ou adensar as áreas existentes. E fazer com que o sobreiro dê mais depressa retorno ao produtor.
Como é que se consegue reduzir o ciclo produtivo do sobreiro?
Através de um sistema de irrigação gota a gota, conseguimos acelerar o crescimento inicial do sobreiro, de 25 para 10 anos. Este modelo tem sido testado e colocado em funcionamento em alguns produtores florestais e é acompanhado cientificamente, para validar os resultados. A aceleração do crescimento é apenas no ciclo inicial do sobreiro, após a primeira extração (que não serve para rolhas, como se sabe) a rega é retirada e o sobreiro segue o seu ciclo normal, de forma a que a cortiça tenha, na segunda, terceira e futuras extrações, a densidade e as características celulares habituais. Esta cortiça de sobreiros plantados e irrigados será assim igual à obtida através dos sobreiros de geração espontânea. A Corticeira Amorim está muito comprometida com a criação de novas plantações neste modelo.
Está satisfeito com os resultados alcançados até agora?
A primeira plantação, em Avis, foi feita em 2002 e a primeira extração ocorreu em 2010. Testámos uma segunda extração propositadamente cedo, quatro anos depois, aí já com calibre suficiente para rolhas, mas sem as características de vedação que pretendemos. E deixámos a cortiça crescer de novo, agora mais nove anos, estando a aferir periodicamente o seu crescimento.
Estamos entusiasmados com os resultados iniciais, de tal forma que comprámos recentemente uma grande herdade para experimentar nós próprios esta tecnologia numa escala muito maior. Vamos plantar em 2019, 2020 e 2021 e depois acelerar o ciclo até à primeira extração, voltando depois ao ciclo normal dos nove anos.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Acredita que, com a garantia de um retorno mais rápido, por um lado, e com os riscos de incêndio associados a outras espécies, como o eucalipto ou o pinheiro, por outro, o produtor florestal pode ser convencido a apostar no sobreiro?
Nós temos que fazer com que esta tecnologia dê ao produtor florestal um rendimento compensador. Ele investe no eucalipto porque tem um rendimento superior ao da cortiça. Emocionalmente, tenho a certeza de que, com base numa rentabilidade similar (ou mesmo superior), o produtor florestal irá preferir o sobreiro. O sobreiro é uma espécie autóctone, adaptada ao clima e aos solos daqui, e desde que exista alguma disponibilidade de água, o sobreiro plantado será uma excelente alternativa de investimento. Até porque face ao montado espontâneo (que representa 90% do montado alentejano), o montado plantado oferece uma densidade que pode ser até 7 vezes superior, com os enormes ganhos daí resultantes. Em Portugal, temos uma densidade de 50 sobreiros por hectare, que é baixíssima, e podemos ir às 250 ou 300 árvores. Tudo isto está a ser apoiado por intensa investigação e aquisição de conhecimento. A Corticeira Amorim é a entidade no mundo que mais sabe de cortiça. Mas quer também ser quem mais sabe de sobreiros. Estamos a trabalhar muito nesse sentido.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33127″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Acha que o sucesso do olival intensivo pode ser replicado nos sobreiros?
Sem dúvida. O sobreiro aceita terrenos menos férteis do que aqueles onde vemos o olival. Poderemos ver o sobreiro a crescer no Alentejo, a sua região natural, mas também noutras regiões do país, intervalando com esta espécie autóctone as manchas de monocultura de eucalipto. Acredito que, garantindo o rendimento, será uma opção bem acolhida pelos produtores e pelas autoridades florestais.
Vamos então falar de rolhas, começando pela vertente da sustentabilidade: produto natural, reutilizável, reciclável. Para além disso, sabemos que o montado é um ecossistema único. Comunicar a sustentabilidade e o perfil eco friendly desta matéria-prima face aos vedantes artificiais é importante para a indústria da cortiça?
É importante porque é uma vantagem diferenciadora face aos materiais que hoje concorrem connosco. Se fizer uma análise do ciclo de vida da rolha comparativamente aos produtos alternativos de plástico e alumínio, e se incluir a floresta, é evidente que a rolha tem uma contribuição negativa em termos de CO2, ou seja, retemos muito mais CO2 (através do montado) do que aquilo que emitimos. Esse é um aspecto diferenciador, apelativo, e que vai ao encontro das preocupações ambientais de consumidores e produtores de vinhos. A sustentabilidade é inerente à cortiça na floresta, mas também ao nosso processo industrial. É um processo não poluente, e que optimizamos em termos de consumo de água e energia. Sabia que 70% da energia que consumimos na fábrica é gerada pela queima dos resíduos da cortiça? E vamos aumentar em breve esse percentual, com a produção de energia fotovoltaica. A sustentabilidade é para nós uma bandeira, mas também um argumento em relação ao qual temos de nos sentir responsáveis. Mas não pode ser o único argumento a favor da rolha de cortiça.
A qualidade é sempre o mais importante, não é verdade? O que diz a um consumidor se este lhe perguntar sobre qual é melhor: a rolha de cortiça ou o vedante artificial, seja plástico ou alumínio?
Existem três grandes argumentos a favor da cortiça e o primeiro é a performance. A cortiça é melhor para o vinho. No caso da rolha de cortiça natural, a cortiça fornece ao vinho microxigenação, polifenóis, permite-lhe evoluir melhor. A cortiça acrescenta valor ao vinho, em termos qualitativos e também em termos de imagem. Não existe outro produto com a performance na rolha. Para o consumidor, um vinho com rolha de cortiça é um vinho de qualidade. Depois, temos a questão do ritual, do abrir da garrafa. E finalmente, a sustentabilidade. As muitas dezenas de estudos que realizámos junto de consumidores de todo o mundo, apontam para uma clara preferência (80 a 97%) pela rolha.
Em números redondos, a rolha de cortiça está em cerca de 12 mil milhões de garrafas, a screw cap (cápsula de rosca) em 4 mil milhões, a rolha sintética de plástico abaixo dos 2 mil milhões. Em termos de quota de mercado, a screw cap cresceu a um ritmo muito elevado entre 2004 e 2009, continua a crescer mas muito mais lentamente; a rolha de plástico tem vindo a decrescer desde 2007. O pior ano para a rolha de cortiça foi 2009, tendo vindo a ganhar mercado desde então. O que contribuiu para estas oscilações e para a tendência actual?
Entre 2000 e 2008 a cortiça perdeu uma quota de mercado muito significativa, fruto da emergência de alternativos. Primeiro o plástico, a partir dos mercados da Austrália e dos Estados Unidos, depois as cápsulas de alumínio, sobretudo impulsionadas pelos supermercados ingleses, sempre os grandes promotores dos produtos alternativos à cortiça. Hoje, com a constatação generalizada de que o plástico não aporta nada de positivo ao vinho (oxidação, dificuldade de repor o vedante na garrafa, etc.) a sua utilização caiu bastante. O plástico está desacreditado e associado a vinhos muito simples e baratos. As soluções técnicas encontradas pela rolha de cortiça para os vinhos de grande volume (as rolhas de microgranulado, por exemplo) e a competitividade de preço, tornaram-na muito mais atraente do que o plástico para as grandes empresas vinícolas.
Quanto ao screw cap, tecnicamente não são encontradas nenhumas vantagens relativamente à cortiça, mas tem uma vantagem funcional que é a facilidade de abertura. A Corticeira Amorim respondeu a isto com a criação da rolha Helix, que permite a mesma conveniência ao nível de abertura. Portanto, o que aconteceu entre 2000 e 2009 deveu-se a um trabalho de casa que a indústria corticeira não fez. Mas depois de uma fortíssima aposta na investigação e no desenvolvimento de produto, na eficiência operacional, na melhoria da performance da rolha, a cortiça voltou a crescer a muito bom ritmo, acima do crescimento da indústria do vinho. O que significa que estamos a ganhar quota de mercado aos alternativos.
Qual o mercado que mais ajudou a ganhar quota aos vedantes alternativos?
A China. Os vinhos australianos têm na China o principal mercado e os chineses não querem cápsula de alumínio, querem rolha de cortiça, pelo estatuto e pela sua associação ao vinho de qualidade. Os australianos foram “obrigados” a deixar de insistir na cápsula de alumínio e a dar ao cliente aquilo que o cliente quer. A nossa filial que mais cresce a nível mundial é a da Austrália, algo impensável há uns anos.
Aquilo que os supermercados ingleses fizeram ao prescrever a cápsula de alumínio, estão os chineses a fazer com a rolha. E como a China vai ser o grande mercado do mundo…
Vou mencionar agora aquelas letrinhas que produtores de rolhas, produtores de vinho e, também, muitos consumidores, mais temem: TCA. Verdadeiramente, onde está a fonte do problema? E como minimizá-lo ou eliminá-lo?
O TCA tanto se pode formar na floresta como ao longo do processo de produção. Na floresta, existem sistemas preventivos que nós aplicamos (como a remoção e eliminação da cortiça que está em contacto com a terra ou, nas zonas de maior risco de contaminação, a análise de TCA à prancha de cortiça na árvore) e que nos oferecem todas as garantias. Na produção, temos alterado e continuamos a alterar significativamente o processo de forma a que não existam condições para o TCA se formar. No caso de, mesmo assim, não conseguirmos garantir a 100% a ausência de formação de TCA, temos métodos altamente sofisticados de controlo de qualidade. Existem no grupo mais de 30 cromatógrafos a analisar todos os momentos do processo de fabrico, desde a área de recepção e armazenamento da cortiça, à cozedura. E investimos em sofisticada tecnologia que aportamos para diferentes tipos de rolha (das microgranuladas às rolhas naturais) que nos permitem ter uma garantia nas rolhas que entregamos ao mercado. Só na Amorim, desde a primeira metade da década de 2000, investimos mais de 280 milhões de euros no desenvolvimento do processo de fabrico com vista prevenção e eliminação do TCA.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33125″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Acredita que, com a garantia de um retorno mais rápido, por um lado, e com os riscos de incêndio associados a outras espécies, como o eucalipto ou o pinheiro, por outro, o produtor florestal pode ser convencido a apostar no sobreiro?
Nós temos que fazer com que esta tecnologia dê ao produtor florestal um rendimento compensador. Ele investe no eucalipto porque tem um rendimento superior ao da cortiça. Emocionalmente, tenho a certeza de que, com base numa rentabilidade similar (ou mesmo superior), o produtor florestal irá preferir o sobreiro. O sobreiro é uma espécie autóctone, adaptada ao clima e aos solos daqui, e desde que exista alguma disponibilidade de água, o sobreiro plantado será uma excelente alternativa de investimento. Até porque face ao montado espontâneo (que representa 90% do montado alentejano), o montado plantado oferece uma densidade que pode ser até 7 vezes superior, com os enormes ganhos daí resultantes. Em Portugal, temos uma densidade de 50 sobreiros por hectare, que é baixíssima, e podemos ir às 250 ou 300 árvores. Tudo isto está a ser apoiado por intensa investigação e aquisição de conhecimento. A Corticeira Amorim é a entidade no mundo que mais sabe de cortiça. Mas quer também ser quem mais sabe de sobreiros. Estamos a trabalhar muito nesse sentido.
Acha que o sucesso do olival intensivo pode ser replicado nos sobreiros?
Sem dúvida. O sobreiro aceita terrenos menos férteis do que aqueles onde vemos o olival. Poderemos ver o sobreiro a crescer no Alentejo, a sua região natural, mas também noutras regiões do país, intervalando com esta espécie autóctone as manchas de monocultura de eucalipto. Acredito que, garantindo o rendimento, será uma opção bem acolhida pelos produtores e pelas autoridades florestais.
Vamos então falar de rolhas, começando pela vertente da sustentabilidade: produto natural, reutilizável, reciclável. Para além disso, sabemos que o montado é um ecossistema único. Comunicar a sustentabilidade e o perfil eco friendly desta matéria-prima face aos vedantes artificiais é importante para a indústria da cortiça?
É importante porque é uma vantagem diferenciadora face aos materiais que hoje concorrem connosco. Se fizer uma análise do ciclo de vida da rolha comparativamente aos produtos alternativos de plástico e alumínio, e se incluir a floresta, é evidente que a rolha tem uma contribuição negativa em termos de CO2, ou seja, retemos muito mais CO2 (através do montado) do que aquilo que emitimos. Esse é um aspecto diferenciador, apelativo, e que vai ao encontro das preocupações ambientais de consumidores e produtores de vinhos. A sustentabilidade é inerente à cortiça na floresta, mas também ao nosso processo industrial. É um processo não poluente, e que optimizamos em termos de consumo de água e energia. Sabia que 70% da energia que consumimos na fábrica é gerada pela queima dos resíduos da cortiça? E vamos aumentar em breve esse percentual, com a produção de energia fotovoltaica. A sustentabilidade é para nós uma bandeira, mas também um argumento em relação ao qual temos de nos sentir responsáveis. Mas não pode ser o único argumento a favor da rolha de cortiça.
A qualidade é sempre o mais importante, não é verdade? O que diz a um consumidor se este lhe perguntar sobre qual é melhor: a rolha de cortiça ou o vedante artificial, seja plástico ou alumínio?
Existem três grandes argumentos a favor da cortiça e o primeiro é a performance. A cortiça é melhor para o vinho. No caso da rolha de cortiça natural, a cortiça fornece ao vinho microxigenação, polifenóis, permite-lhe evoluir melhor. A cortiça acrescenta valor ao vinho, em termos qualitativos e também em termos de imagem. Não existe outro produto com a performance na rolha. Para o consumidor, um vinho com rolha de cortiça é um vinho de qualidade. Depois, temos a questão do ritual, do abrir da garrafa. E finalmente, a sustentabilidade. As muitas dezenas de estudos que realizámos junto de consumidores de todo o mundo, apontam para uma clara preferência (80 a 97%) pela rolha.
Em números redondos, a rolha de cortiça está em cerca de 12 mil milhões de garrafas, a screw cap (cápsula de rosca) em 4 mil milhões, a rolha sintética de plástico abaixo dos 2 mil milhões. Em termos de quota de mercado, a screw cap cresceu a um ritmo muito elevado entre 2004 e 2009, continua a crescer mas muito mais lentamente; a rolha de plástico tem vindo a decrescer desde 2007. O pior ano para a rolha de cortiça foi 2009, tendo vindo a ganhar mercado desde então. O que contribuiu para estas oscilações e para a tendência actual?
Entre 2000 e 2008 a cortiça perdeu uma quota de mercado muito significativa, fruto da emergência de alternativos. Primeiro o plástico, a partir dos mercados da Austrália e dos Estados Unidos, depois as cápsulas de alumínio, sobretudo impulsionadas pelos supermercados ingleses, sempre os grandes promotores dos produtos alternativos à cortiça. Hoje, com a constatação generalizada de que o plástico não aporta nada de positivo ao vinho (oxidação, dificuldade de repor o vedante na garrafa, etc.) a sua utilização caiu bastante. O plástico está desacreditado e associado a vinhos muito simples e baratos. As soluções técnicas encontradas pela rolha de cortiça para os vinhos de grande volume (as rolhas de microgranulado, por exemplo) e a competitividade de preço, tornaram-na muito mais atraente do que o plástico para as grandes empresas vinícolas.
Quanto ao screw cap, tecnicamente não são encontradas nenhumas vantagens relativamente à cortiça, mas tem uma vantagem funcional que é a facilidade de abertura. A Corticeira Amorim respondeu a isto com a criação da rolha Helix, que permite a mesma conveniência ao nível de abertura. Portanto, o que aconteceu entre 2000 e 2009 deveu-se a um trabalho de casa que a indústria corticeira não fez. Mas depois de uma fortíssima aposta na investigação e no desenvolvimento de produto, na eficiência operacional, na melhoria da performance da rolha, a cortiça voltou a crescer a muito bom ritmo, acima do crescimento da indústria do vinho. O que significa que estamos a ganhar quota de mercado aos alternativos.
Qual o mercado que mais ajudou a ganhar quota aos vedantes alternativos?
A China. Os vinhos australianos têm na China o principal mercado e os chineses não querem cápsula de alumínio, querem rolha de cortiça, pelo estatuto e pela sua associação ao vinho de qualidade. Os australianos foram “obrigados” a deixar de insistir na cápsula de alumínio e a dar ao cliente aquilo que o cliente quer. A nossa filial que mais cresce a nível mundial é a da Austrália, algo impensável há uns anos.
Aquilo que os supermercados ingleses fizeram ao prescrever a cápsula de alumínio, estão os chineses a fazer com a rolha. E como a China vai ser o grande mercado do mundo…
Vou mencionar agora aquelas letrinhas que produtores de rolhas, produtores de vinho e, também, muitos consumidores, mais temem: TCA. Verdadeiramente, onde está a fonte do problema? E como minimizá-lo ou eliminá-lo?
O TCA tanto se pode formar na floresta como ao longo do processo de produção. Na floresta, existem sistemas preventivos que nós aplicamos (como a remoção e eliminação da cortiça que está em contacto com a terra ou, nas zonas de maior risco de contaminação, a análise de TCA à prancha de cortiça na árvore) e que nos oferecem todas as garantias. Na produção, temos alterado e continuamos a alterar significativamente o processo de forma a que não existam condições para o TCA se formar. No caso de, mesmo assim, não conseguirmos garantir a 100% a ausência de formação de TCA, temos métodos altamente sofisticados de controlo de qualidade. Existem no grupo mais de 30 cromatógrafos a analisar todos os momentos do processo de fabrico, desde a área de recepção e armazenamento da cortiça, à cozedura. E investimos em sofisticada tecnologia que aportamos para diferentes tipos de rolha (das microgranuladas às rolhas naturais) que nos permitem ter uma garantia nas rolhas que entregamos ao mercado. Só na Amorim, desde a primeira metade da década de 2000, investimos mais de 280 milhões de euros no desenvolvimento do processo de fabrico com vista prevenção e eliminação do TCA.
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Sem dúvida, e isso tem explicação. O TCA não entra em profundidade na cortiça, é superficial. Aquilo que nós temos de conseguir é limpar a superfície da cortiça. No granulado de cortiça [a matéria-prima das rolhas técnicas] conseguimos limpar eficientemente o TCA através do sistema de vapor ou outros. E, por conseguinte, há vários anos que podemos considerar o TCA completamente eliminado nas rolhas mais “correntes”, de microgranulado de cortiça. O grande desafio está em eliminar completamente o TCA nas rolhas de cortiça natural, as rolhas de topo destinadas aos melhores vinhos. Os sistemas que aplicamos ao granulado de cortiça não funcionam na rolha de cortiça natural.
Portanto temos um Fiat 600 fiável e um Ferrari que pode dar problemas…
Deixámos de ter “problemas no Ferrari”, com o sistema NDTech. Agora podemos assegurar que as rolhas topo de gama, de cortiça natural, são inteiramente fiáveis. O NDtech utiliza cromatografia gasosa para analisar individualmente cada rolha, despistando e eliminando as contaminadas, e fornecendo assim uma garantia adicional, a 100%, aos nossos clientes.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33131″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Não esqueçamos, no entanto, que o NDtech é uma garantia adicional, a montante está todo um conjunto de medidas preventivas e curativas que, na última década, melhoraram tremendamente a performance da rolha de cortiça natural. Mas o facto é que hoje já não estamos no campeonato de “melhorar”. Hoje estamos no campeonato de “erradicar”, acabar com o problema. E por isso apostámos no NDtech, onde já investimos 12,5 milhões de euros e vamos investir, até ao final do ano, mais 2,5 milhões.
Segundo sei, uma rolha individualmente analisada e garantida pelo sistema NDtech custa cerca de 12 cêntimos a mais do que uma rolha sem esse controlo de qualidade adicional. É um valor que se pode considerar baixo, sobretudo se tivermos em conta que essas rolhas se destinam a vinhos de topo, de preço mais elevado.
O preço do NDtech é propositadamente baixo porque sentimos que é nossa obrigação fornecer um produto fiável. E é por isso que fazemos tudo para disponibilizar cada vez melhores produtos aos nossos clientes e a preços mais competitivos. Se perguntar às principais empresas vinícolas, todas lhe dirão que, comparando com a realidade de há uma década, hoje gastam muito menos dinheiro em rolhas e obtém rolhas muito mais fiáveis. Sobretudo porque, ao segmentarem as rolhas em função da categoria do vinho, compram as rolhas de preço mais elevado para os melhores vinhos, mas também conseguem obter rolhas de grande performance e fiabilidade para os vinhos de volume por muito menos do que pagavam há uma década. Isso só foi possível através de um enorme investimento que a indústria corticeira tem feito e cujo custo não tem sido passado para o mercado. Na Amorim, o investimento em investigação e desenvolvimento tem sido absorvido na nossa conta de resultados, através do aumento de quotas de mercado e de uma eficiência industrial como nunca tivemos. Com 55 pessoas produzimos 1.3 biliões de rolhas de microgranulado, operando 24 horas por dia, 7 dias por semana. A optimização das operações através da tecnologia, permitiu que, com matéria-prima e mão-de-obra bem mais caras, consigamos colocar no mercado um produto que, em preço médio, não cresceu nada nos últimos 15 anos.
Mas a procura de NDtech excede a vossa capacidade de oferta…
Neste momento, se tivéssemos o dobro de rolhas NDtech tínhamos tudo vendido. Nos cromatógrafos, já conseguimos reduzir o tempo de análise de cada rolha de 20 segundos para 16 segundos, e acreditamos poder chegar aos 10 segundos. Fornecemos este ano cerca de 60 milhões de rolhas NDtech, no próximo ano esperamos ter entre 85 e 90 milhões de rolhas. Mas deveríamos ter uma oferta para 1 bilião de rolhas naturais 100% livres de TCA… Chegar lá demora muito tempo. O fornecedor desta tecnologia inovadora é uma pequena empresa de Cambridge, e o sistema é bastante detalhado e minucioso, leva tempo a produzir e é complexo de operar. Estamos a falar de equipamentos laboratoriais (que têm de estar permanentemente calibrados com o máximo de precisão) a trabalhar numa escala industrial. Aqui na empresa temos 25 engenheiros a trabalhar por turnos, 24 horas/dia, no sistema NDtech.
O NDtech não resolve tudo, portanto…
É claro para nós que o NDtech não é suficiente. Não basta eliminar as rolhas com TCA. Temos é de eliminar o TCA. E é para isso que estamos a trabalhar. Enquanto aumentamos a escala de produção NDtech, investimos paralelamente em investigação e desenvolvimento de novas tecnologias que nos vão levar a esse objectivo primordial: fornecer todas as nossas rolhas naturais garantidamente isentas de TCA. E vamos fazê-lo até ao final de 2020.
A rolha de cortiça e a indústria estão no seu momento mais alto de sempre, em termos de negócio, optimização, conhecimento tecnológico. Que potenciais desafios encontra no seu caminho para a próxima década?
O maior desafio que temos é não nos iludirmos com esta situação. Nada está ganho. O mercado é evolutivo e dinâmico. Temos importantes conquistas e vitórias, mas deveremos continuar a apostar na melhoria da performance, na completa erradicação do TCA e na eficiência operacional (para podermos continuar a investir e, ao mesmo tempo, ser competitivos). Não chegámos ainda a lado nenhum e não podemos ter essa ilusão. Temos de manter a nossa gestão num estado de desafio e conquista permanente, embora com muita ambição. Celebrando as vitórias, naturalmente, mas com a certeza de que temos muito trabalho pela frente. No dia em que baixarmos a guarda, não teremos grande futuro. Os plásticos estão feridos, mas não sepultados, o alumínio continua aí. A cortiça necessita de continuar a reafirmar de forma consistente e cientificamente comprovada as suas enormes vantagens face aos produtos concorrentes e manter o investimento constante na melhoria da sua performance. O potencial é enorme.
Temos também que perceber que o sector do vinho está a mudar e acompanhar essa mudança. Ter a China como terceiro maior consumidor de vinho tinto é algo impensável há 15 anos. Temos uma nova geração de consumidores, pelo que a indústria da cortiça tem de trabalhar melhor a questão da conveniência, da facilidade de abrir e fechar uma garrafa. A investigação e desenvolvimento de novos produtos deverá ser constante. E é preciso termos também a noção de que rolha não é só vinho, é também espumantes e bebidas espirituosas e aqui temos um mundo para conquistar. Veja-se que o Prosseco passou de 280 milhões de garrafas para 540 milhões em sete anos… Veja-se a tendência cada vez mais premium das bebidas espirituosas, do gin à vodka, e o enorme mercado que aí surge para a rolha de cortiça. São tudo segmentos onde a cortiça tem muita margem para crescer.
Edição Nº20, Dezembro 2018
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