Editorial: As nossas escolhas

Como habitualmente, a edição de março é dedicada aos Prémios Grandes Escolhas. É aquele momento tão especial em que celebramos todos aqueles (vinhos, pessoas, empresas, organizações) que se distinguiram ao longo do ano que passou. Discutíveis, como todas as escolhas, estas são as nossas Grandes Escolhas.

Editorial da edição nrº 71 (Março 2023)

Tal como a primavera que aí vem, símbolo do renascer, do novo ciclo nos campos e nas vinhas, também os prémios Grandes Escolhas celebram a nova temporada vitivinícola começando por aplaudir os vinhos e as entidades que mais se destacaram na anterior. E, felizmente, são cada vez mais e mais fortes os motivos para aplaudir o vinho de Portugal.

Enquanto apreciadores, o que mais nos surpreende é o facto de ainda conseguirmos ficar surpreendidos (passe o pleonasmo) com o consistente crescimento qualitativo dos vinhos que nos chegam à mesa de provas. Mais do que qualidade (que já se tornou tão comum que virou banal), falamos de excelência, um patamar que, há uma década, estava só ao alcance de alguns, e hoje é evidenciado por muitos. Excelência essa que, cada vez mais, se apresenta associada a carácter, uma conjugação outrora quase inexistente. Tudo isso encontramos, sobretudo, nos nossos Top30 e, em particular, nos cinco vinhos vencedores, um por cada em cada categoria vínica: o espumante Murganheira Assemblage 2005, o branco Anselmo Mendes Parcela Única Alvarinho 2019, o rosé Kompassus Tête de Cuvée Nature 2017, o tinto Casa da Passarella Vindima 2011 e o fortificado Kopke 50 anos branco.

Os vinhos são feitos para serem bebidos, quase sempre acompanhados por comida, e na área da horeca e retalho o cliente/consumidor foi muito apaparicado em 2022, ao nível da oferta, da apresentação, do serviço. E foi-o em restaurantes incontornáveis na sua categoria ou perfil (Prado, De Raiz ou Ruvida são os nossos eleitos); em enoturismos absolutamente modelares, como o da Quinta de Ventozelo; em eventos únicos e inimitáveis, como o Amphora Wine Day; e em lojas ou bares de vinho onde nos sentimos em casa, como Estado d’Alma, Pátio d’As Marias e Garage Wines. E tantos foram os vinhos e clientes que beneficiaram do luxo de serem servidos pelo grande sommelier que é Ricardo Morais!

Muitas empresas e produtores, grandes e pequenos, excederam as nossas expectativas (e, acredito, por vezes, as suas próprias). Dona Sancha foi a grande revelação, vinda da região do Dão. Já a Herdade da Lisboa, do Alentejo, confirmou em 2022 a enorme solidez dos vinhos e do projecto. Outros procuraram, através da singularidade, brilhar num universo vínico demasiado homogéneo, como a dupla de enólogos que criou o modelo Lés a Lés. Mas também houve produtores bem mais antigos que se souberam reinventar, aparecendo fulgurantes, mudados por dentro e por fora, casos da Adega Coop. de Ponte da Barca ou da Sociedade Vinícola de Palmela. E depois, claro, há aqueles, como a Aveleda, em que a própria cultura empresarial, cimentada ao longo de mais de 150 anos, busca o sucesso não numa revolução, mas num planeamento cuidado a muito longo prazo.

Empresas e projectos bem sucedidos não nascem por geração espontânea. Na sua base estão, sempre, grandes profissionais. Como o vencedor do Prémio David Lopes Ramos, Ricardo Nogueira, cujo trabalho em torno do leitão da Bairrada merece todos os encómios. Em áreas mais directamente ligadas ao conteúdo das garrafas, destacamos o saber e versatilidade de Ana Mota, que trata por tu as cepas do Douro e do Dão; e o talento puro de quem mete, literalmente, a mão na massa, espelhado pelos enólogos Johnny Graham e Diogo Lopes.

Finalizo, como sempre, com o máximo galardão, entregue unicamente a quem muito ofereceu ao vinho de Portugal, ao longo de uma vida. E quem mais merecedor do que a grande Senhora do Vinho, Leonor Freitas?

 

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