Numa aliança que se iniciou em 1999, unindo o produtor de Bordéus e enólogo Bruno Prats (antigo proprietário do Château Cos d’Estournel) aos maiores proprietários de vinhas no Douro, a família Symington, nasceu a Prats & Symington. Esta parceria única, de conhecimentos e tradições de duas grandes regiões vitivinícolas mundiais, resultou na criação de um grande tinto do Douro, que ecoa além-fronteiras: o Chryseia.
A Prats & Symington é, ao dia de hoje, proprietária de duas quintas no Douro: a Quinta de Roriz (na fotografia) e a Quinta da Perdiz, ambas localizadas no Cima Corgo e a operar em modo de Produção Integrada. As uvas do Chryseia provêm das duas quintas, e também da vinha vizinha de Roriz, Quinta da Vila Velha, propriedade particular de Rupert Symington. A Quinta de Roriz foi adquirida pelas duas famílias em 2009 com foco neste vinho, um passo importante para a obtenção da qualidade e da consistência que hoje nele encontramos. Em solos de xisto, a propriedade tem exposição maioritariamente a Norte e totaliza 95 hectares, cerca de 43 de vinha. Aqui, as duas castas que compõem o lote do Chryseia são dominantes — Touriga Nacional e Touriga Franca — mas também estão presentes Tinta Roriz, Sousão, Tinto Cão e outras tradicionais da região.
A apresentação da colheita de 2021 do Chryseia (com estágio de 15 meses em barricas de carvalho francês de 400L), mas também do entrada de gama Prazo de Roriz (6 meses em barrica) e do tinto Post Scriptum (12 meses em barrica), teve lugar no restaurante do chef Pedro Lemos, no Porto, e foi conduzida por Rupert Symington, Bruno Prats e Miguel Bessa, enólogo residente do projecto. “O que fizemos aqui não foi propriamente ir à procura do sucesso do vinho, foi acreditar que os vinhos apresentados hoje podem ser pedidos todos os dias aqui e colocados no pairing sem limitações, e isso é conseguido pela elegância e grandiosidade dos vinhos”, comentou Pedro Lemos, sobre a harmonização com pratos da sua autoria.
Bruno Prats — que actualmente residente em Genebra e se mantém ligado a duas empresas, Klein Constantia, na África do Sul, e Prats & Symington — destacou a capacidade de envelhecimento destes vinhos do Douro, referindo que até mesmo um Prazo de Roriz 2012, recentemente provado, estava delicioso. “O Post Scriptum é o segundo vinho do Chryseia. Ao fazer o lote final deste, seleccionamos o melhor dos melhores. O que resta, e que é feito com igual cuidado e qualidade, e das mesmas vinhas, origina o Post Scriptum”, referiu o enólogo. “Lembro que, em geral na Europa, 2021 foi um ano muito quente, com ondas de calor horríveis, mesmo no Reino Unido. Mas não no Douro, onde tivemos um ano fresco. Isso foi bom para nós, que procuramos elegância e finesse. Pudemos aproveitar um longo período de noites frescas que mantiveram a acidez e frescura, e boas condições durante a vindima, com pouca chuva. Foi um ano de colheita muito semelhante às minhas memórias de Bordéus. Uma colheita que elevou, sem dúvida, as características do Chryseia, que são a elegância, finesse, ‘drinkability’ e frescura. Queremos continuar a fazer o Chryseia assim, no seu espírito muito próprio. A magia do Douro é que permite fazer vinhos com enorme potencial de guarda, mas muito acessíveis, em perfil, enquanto jovens”, comentou Bruno Prats.
Já Miguel Bessa, enólogo residente da Prats & Symington, confessou que, para si, “o dia de lançamento destes vinhos é como o dia em que levamos pela primeira vez os filhos à escola, pela mão. O ano 2021, no meio de dois anos muito quentes, foi para nós um ano fácil, que veio ao nosso encontro: fresco, com maturações muito lentas, transportando-nos no vinho para os bosques da quinta, num lado mentolado e de frescura. Estou muito satisfeito…”, rematou.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)