Douro de Excelência

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Nascem na região alguns dos mais famosos vinhos tintos do país vinhateiro e também alguns dos mais caros. Mas há diferenças, com origem no território e no perfil que cada produtor quer imprimir ao seu vinho. O Douro está longe de ser uniforme, revelando-se um verdadeiro mosaico onde diversidade e qualidade andam de mãos dadas.

 

TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga

OS 2015 são realmente melhores ou é mais a fama? E os 2014 como estão em termos de prova? E se os colocarmos perto de vinhos de colheitas anteriores o que vamos encontrar? Como estão a evoluir os vinhos que são filhos da moderna enologia e da nova viticultura?

Algumas respostas ou sugestões das mesmas são possíveis neste painel de prova que juntou mais de sessenta vinhos durienses. O Douro, entre os enófilos, virou moda. E tudo começou há 25 anos quando se estrearam os primeiros produtores-engarrafadores. Hoje é sabido que se quisermos listar os mais conceituados vinhos do país lá teremos o Douro a marcar presença. Aquilo que os nossos pais não julgavam possível tornou-se realidade: a região não só é excelente para produzir vinho generoso como também pode dar cartas em tintos e brancos que entram na categoria DOC Douro.

Um dos trunfos da região foi o uso continuado e quase exclusivo das castas tradicionais, agora divididas claramente em três grupos: as que, por regra, fazem melhor figura no Vinho do Porto (como a Tinta Barroca), as que se dão muito bem com os DOC (como a Tinta Amarela) e o grosso da coluna, as castas que tanto podem originar bons Porto como excelentes DOC: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz… Outro trunfo (este com repercussões nos media internacionais) foi a manutenção de técnicas antigas, como os lagares com pisa a pé, ou a sua substituição por diversas formas de lagares mecânicos que procuram reproduzir a pisa tradicional. A fama trouxe também um claro aumento dos preços. Hoje encontramos na região algo que há década e meia era impensável, como vinhos brancos a preços dos melhores tintos e um conjunto muito alargado de tintos a preços elevados.

O Douro vive, no entanto, numa encruzilhada: tem uva a mais, paga preços baixos à produção, substancialmente mais baixos do que outras regiões com custos mais acessíveis, como o Alentejo. Para as soluções faltam acordos e os agentes locais não são propriamente adeptos de grandes consensos. Os combates fazem-se depois nas grandes superfícies, nas promoções e nas feiras em que nos surgem vinhos do Douro a preço ridículo (um tinto a €1,29 numa recente feira de supermercado) e por vezes até com designativos de qualidade. Estranho? Talvez, mas o Douro é assim que funciona.

A história não começou no Barca Velha
A fama e a glória da região chegaram pela excelência dos vinhos generosos (Vinho do Porto) ali produzidos. Algo desqualificados e recebedores de pouca atenção, os chamados “vinhos de consumo” ou “vinhos de pasto”, chegaram a ter protagonismo ou grande aceitação junto do público. Muitos dos que ali se produziam nem indicavam que tinham origem duriense, uma vez que na região não existia regulamentação para a Denominação de Origem Douro. No entanto seria injusto não referir alguns tintos que estiveram na mesa dos nossos pais e que antecederam o mítico Barca Velha.

Duas empresas se destacavam na produção de vinhos Douro: a Real Companhia Velha e a Real Vinícola, concorrentes e muito activas na criação de marcas. Foi assim que nasceram referências como Grandjó, Grantom e Granléve, Marquis de Soveral ou Evel. Também firmas como a Constantino tinham vinhos na região, como o Gran Reserva San Marco. Algumas das marcas de empresas que hoje conhecemos e cujo nome associamos ao Vinho do Porto, como Barros Almeida, Kopke, entre outras, também surgiam no mercado com vinhos que não eram de produção própria mas sim feitos a partir de lotes comprados em adegas cooperativas. Mesmo uma empresa como a Sogrape tinha no Douro a marca Campo Grande.

A este conjunto de marcas há depois que juntar as de alguns produtores, como a Quinta da Pacheca, inovadora nos anos 80 com brancos de castas estrangeiras e das adegas cooperativas Foi preciso chegar aos anos 90 do século passado para se começarem a fazer notar os chamados “vinhos de quinta” e a chegarem ao mercado os vinhos das empresas de Vinho do Porto que resolveram vinificar para Douro as uvas que não tinham direito a benefício e que, por via disso, não se podiam destinar a Vinho do Porto.

A história dos DOC Douro só tem, em boa verdade, algo para contar a partir dos anos 90. O própria marca Barca Velha, apesar de então já ser caro e raro, estava muito longe de ser o ícone em que hoje se transformou. E se, por hipótese, em 1991 se quisesse dar um jantar com grandes vinhos do Douro, muito poucas marcas eram chamadas à sala: Barca Velha (ou o Reserva Especial noutros anos), Lello, Confradeiro, Vinha Grande e Quinta do Côtto. Seguramente no tal jantar não se incluiriam brancos, uma vez que, de referência, poucos existiam.

O arranque dos DOC Douro foi em força e continua nos dias de hoje, espalhando-se por todos os tipos de vinho, dos brancos aos rosés, dos tintos aos Colheita Tardia. Uma história em movimento, uma região que se renova. Para esta renovação muito contribuíram as empresas que até aos anos 90 apenas comercializavam Vinho do Porto e que começaram então a estender o negócio aos DOC Douro. Exemplos não faltam, com algum pioneirismo neste campo a ser muito justamente atribuído à Ramos Pinto e à Niepoort, casas que impuseram vinhos do Douro com novo perfil, mostrando gradualmente também a qualidade das uvas brancas da região para a produção de bons vinhos DOC quando, até então, eram maioritariamente usadas para Porto. Actualmente, das grandes casas de Porto, apenas o grupo Quinta & Vineyard Bottlers – onde se incluem as marcas Taylor, Fonseca e Croft – não estão no negócio dos DOC Douro. Para algumas empresas, como a Niepoort, o negócio em volume já ultrapassou a facturação do Vinho do Porto.

Mas não chega fazer bom vinho; é preciso que ele seja conhecido e reconhecido como tal. A região beneficiou neste aspecto de dois factores importantes: por um lado o Vinho do Porto arrastou o DOC Douro e as mesmas empresas que iam apresentar Vinho do Porto em qualquer parte do mundo eram as mesmas que aproveitavam essa boleia para levar os seus DOC Douro; em segundo lugar foi inegável o papel que tiveram organizações como os Douro Boys, uma criação de marketing que veio ajudar à projecção de um conjunto de produtores que apostavam fortemente nos tintos da região. A situação alterou-se: de zona menosprezada pelos wine writers internacionais (que apenas ligavam ao Porto), o Douro passou a ser destino obrigatório de tudo quanto é jornalista de publicação credível e as visitas são agora frequentes, a mostrar que o Douro já faz parte das grandes regiões do mundo que, qual Meca, se têm de visitar ao menos uma vez na vida.

A notoriedade também captou o interesse dos investidores de outras regiões do país e estrangeiros que viram ali uma oportunidade de negócio. Dos primeiros, duas referências merecem destaque: o Esporão, que adquiriu a Quinta dos Murças; e João Portugal Ramos, que, com José Maria Soares Franco, criou de raiz o projecto Duorum no Douro Superior. Os segundos chegaram de várias origens, desde Angola a França, da Alemanha ao Brasil e da Inglaterra à Bélgica. Este sangue novo funciona como uma renovação e acaba também por chamar a atenção internacional para a originalidade da região, que é, diga-se, a maior área de vinha de montanha de todo o mundo, cobrindo 38.300 hectares de vinhedos com 30% de inclinação.

Esta inclinação e as variadas orientações que as parcelas podem ter permitem obter uvas de tipo diferente. As variações de temperatura média são notórias, com 2ºC a separarem, por exemplo, o Vale Mendiz (mais fresco) e a zona da Quinta do Vesúvio, no Douro Superior. E não podemos esquecer que por cada 300 metros que subimos em altitude a temperatura média baixa 1,5ºC, com a consequente modificação das uvas. É nos altos que se obtêm assim uvas com mais acidez e que podem ser determinantes num blend com outras de zonas mais baixas.

Douro, números e factos
O Douro é uma região imensa com uma área de vinha de cerca de 42.079 ha. A sub-zona que tem mais vinha é o Cima Corgo, com aproximadamente 47% da área total; seguem-se o Baixo Corgo, com 30%, e o Douro Superior com 23% da área de vinhedos. Da área total, cerca de 39.627ha são aptos à classificação de Denominação de Origem. A região produz muito mais Vinho do Porto do que DOC Douro; assim, e com dados relativos a 2016, produziram-se 80.516.692 litros de Porto contra 42.582.023 litros de DOC Douro. A maioria das parcelas (mais de 25.000) têm entre 2 e 5ha. Aqui pontificam (dados de 2016) 966 agentes, dos quais 357 são viticultores-engarrafadores. O número de produtores tem vindo a diminuir na proporção da diminuição da percentagem de jovens na região: de 2001 a 2011 a população entre os 25 e 24 anos diminuiu 32%.

As vendas de Vinho do Porto têm sofrido uma baixa tendencial desde o ano 2000, ao contrário dos vinhos DOC Douro, que têm conhecido um incremento, mas a região é excedentária em quase 30 milhões de litros, que acabam por ser vendidos a preço muito baixo, puxando para baixo os preços do vinho engarrafado – e isto numa região em que os custos de produção são muito altos, se comparados com o Alentejo, por exemplo.

A produção por hectare é muito baixa no Douro, se comparada com outras regiões, sendo por isso incompatível com preços baixos de venda e excedentes, que é a situação actual. Os excedentes de DOC Douro têm sido transaccionados no mercado num máximo de 0,40€/kg quando os custos de produção apontam para valores entre os 0,70 e 0,90€/kg.

O Vinho do Porto gera mais-valias muito mais elevadas: 63% da produção da região (Vinho do Porto) gerou 87% do rendimento e 37% da produção (DOC Douro) gerou 13% do rendimento. O Vinho do Porto continua, assim, a ser o produto mais importante, quer em termos de imagem quer em termos estritamente financeiros.

Um Douro ou vários Douros?
Tradicionalmente dividido em três zonas – Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior – o Douro tem hoje um carácter multifacetado. O Baixo Corgo, quando o assunto era apenas Vinho do Porto, era zona produtora de vinhos para as categorias de entrada de gama, mas já nos anos 80 se tinha percebido que ali se poderiam produzir bons DOC Douro (de que a Quinta do Côtto é um bom exemplo). Não se estranha por isso que vários produtores-engarrafadores ali tenham surgido – a Quinta do Vallado e Domingos Alves de Sousa são apenas dois de muitos exemplos que poderiam ser dados. O Cima Corgo, digamos num raio de 20 km à volta do Pinhão, é, por excelência, a zona produtora dos melhores vinhos do Porto, mas também aí surgiram excelentes DOC Douro, com vinhas aptas a produzir Porto transformadas em vinhas para DOC Douro, com a correspondente transferência do benefício. Ali encontramos as quintas de Roriz, Gricha, Tecedeiras, Noval, Frades, Carvalhas e tantas outras que vieram engrossar o pelotão.

O Douro Superior, como zona mais recente nos DOC, acaba por ser onde os maiores investimentos foram feitos, em virtude da disponibilidade de terra. As quintas da Leda, Duorum, Orgal, Grifo, Quatro Ventos, Vesúvio, Ataíde, Vale Meão e toda a zona de Foz Côa, são hoje referências obrigatórias quando falamos de DOC Douro. Aqui as novas vinhas são sempre regadas, a única forma das videiras sobreviverem numa zona onde a pluviosidade média não anda muito longe dos 200 mm/anuais, ou seja, um clima semi-desértico. Nesta zona longínqua foi a margem sul que acolheu os novos produtores, com as vinhas a ficarem assim viradas a norte, condição indispensável para fazer face às alterações climáticas e ao calor extremo que ali se sente durante o Verão.

Nestes aspectos específicos – temperatura e pluviosidade – as diferenças entre Baixo Corgo e Douro Superior não podiam ser maiores, como que a dizer-nos que, embora falemos do “Douro”, em boa verdade são vários “douros” dentro da mesma região. E isso, longe de ser um inconveniente, é uma oportunidade para que os produtores possam escolher exactamente o local onde querem as vinhas, em função do tipo de vinho que pretendem obter.

Varietais e blends, a luta das castas
O Douro, tal como o conhecemos, é um mosaico de castas. No caso das variedades tintas, elas estão ali há séculos, sobretudo pensadas para o Vinho do Porto. Ali é a pátria da Touriga Franca, da Tinta Roriz, da Tinta Barroca e da Tinta Amarela, ainda hoje as quatro variedades mais representadas. A este quarteto veio juntar-se, a partir dos anos 90, a Touriga Nacional, que acabou por tomar um lugar cada vez mais destacado, quer para tintos DOC Douro, quer para a produção do Porto.

O Douro sempre foi terra de vinhos de lote. No fundo, mesmo nos “vinhos de pasto” das décadas anteriores a 1990, não se falava de vinhos varietais. Recordo que nessa década de 90, João Nicolau de Almeida, enólogo da Ramos Pinto, mostrava com orgulho um vinho tinto que nunca chegou a ser comercializado e que era feito apenas de Tinto Cão. Terá mesmo sido o primeiro varietal do Douro que eu conheci.

A casta tinha integrado o “quinteto maravilha” das castas seleccionadas para a renovação dos vinhedos patrocinada pelo Banco Mundial e que teve lugar exactamente nos anos 80 quando se plantaram 2500ha de novos vinhedos. Viviam-se então no Douro momentos de grande exaltação, não só para plantio de parcelas de monocastas como pela nova forma de implantação de vinha que vinha sendo ensaiada e que então se generalizou onde a inclinação do relevo o permitia: a vinha ao alto. A paisagem mudou e os novos vinhedos, bem como os patamares de dois bardos, vieram alterar os métodos antigos.

Passados quase 30 anos, aquele entusiasmo deu lugar a um espírito mais crítico que pôs em causa muitas das opções então tomadas: abandonou-se a vinha ao alto em muitos locais onde já esteve, abandonaram-se as técnicas de plantio (quanto aos porta-enxertos utilizados e quanto à densidade de plantação) e os patamares de dois bardos já não são método que se use, substituídos que foram pelos de um único bardo.

A moda dos vinhos varietais também se fez sentir no Douro e a partir dos finais dos anos 90 começaram a surgir os primeiros vinhos de Touriga Nacional, logo seguidos pelos seus pares que nos fizeram também descobrir novas castas vinificadas individualmente: o Sousão, a Tinta Amarela e, mais recentemente, as experiências com castas antigas que todos falam em preservar: da Tinta Francisca à Touriga Brasileira, da Rufete ao Donzelinho Tinto, da Malvasia Preta ao Cornifesto.

Douro, terra de blends? Não cremos que sobre isto haja dúvidas. Um apanhado dos mais famosos, mais caros ou mais procurados tintos do Douro provavelmente não incluirá qualquer tinto varietal. Acaba assim por se cumprir na prática a ideia antiga de que é da junção de várias castas que se consegue um vinho complexo e rico. Mas o espaço para o estudo, para a descoberta e para a preservação das uvas antigas continua, com variedades como o Casculho, Tinta da Barca, Tinta Carvalha e várias outras sempre na linha da frente. Ainda hoje é frequente encontrarmos vinhas velhas com dezenas de castas – caso da Vinha Maria Teresa (Crasto) ou da Vinha do Caedo (Sogrape), dois dos muitos exemplos que poderiam ser avançados na região. A ideia do “blend feito na vinha”, longe de ter morrido, tem hoje seguidores que optam pela co-fermentação de várias castas, sempre à procura do ponto de equilíbrio ideal.

Apesar da variedade, o facto mais notório dos últimos 20 anos foi o crescimento em área de vinha e o protagonismo que passou a ser assumido pela Touriga Nacional, agora parte integrante da maioria dos melhores vinhos tintos durienses.

O Douro vai continuar a surpreender-nos, não temos dúvidas. Por várias razões, todas ligadas à qualidade superior das uvas que produz, à variedade de estilos que permite e à inovação que vai continuar a existir, fruto da redescoberta de antigas e esquecidas castas que poderão, num futuro breve, alargar escolhas e enriquecer blends. Muito podemos continuar a esperar desta região magnífica e singular.

então as notas da madeira nova. A experiência também recomendou que é sempre conveniente ter parte do vinho apenas em inox para se poder depois trabalhar o lote final com os Encruzado da barrica. Segundo este enólogo, o uso da madeira usada (sobretudo se for de segunda utilização) ainda pode contribuir para o produto final com alguma complexidade. Barricas mais antigas, só para dar um tom evoluído e mais oxidativo. Na experiência de Manuel Vieira, os vinhos de Encruzado podem ter uma quebra ao fim do primeiro ano e depois, se tudo correr bem, ao fim de 4 ou 5 anos renascem e podem então durar muitos anos.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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