O momento foi escolhido para apresentar dois novos topos de gama da empresa. Mas também para anunciar mudanças na forma de os comercializar.
TEXTO João Paulo Martins FOTOS DR
DE Paulo Laureano já todos sabemos os gostos: pelas castas portuguesas, pela Vidigueira, pelas tradições regionais e… pela República, apesar do look de monárquico queirosiano. E também lhe conhecemos as irritações: as castas estrangeiras e… o queijo, ainda que, como acontece com tantos outros, “se for disfarçado e eu não der por isso, até posso comer”. Ficamos esclarecidos.
Quanto às castas estrangeiras, o “divórcio” deu-se há uns anos quando deixou de usar o Cabernet Sauvignon que utilizava em alguns vinhos. É claro que, assim, lhe passa ao lado a moda do Syrah que, todos dizem, veio para ficar e não é apenas uma moda passageira. Mas, nesta luta, Paulo jogou um trunfo interessante e desconhecido de quase todos: a Tinta Grossa, casta tradicional da Vidigueira. Foi mais uma que esteve à beira da extinção e que, tanto quanto sabemos, está já a interessar outros produtores daquela zona do Baixo Alentejo. E quanto ao Syrah, é peremptório: “Não há que ceder à facilidade do Syrah, antes há que apostar mais no Aragonez, na Trincadeira e no Alfrocheiro.”
O negócio da Paulo Laureano Vinus tem crescido significativamente e o produtor/enólogo entendeu que estava na hora de criar dois vinhos emblemáticos, que servissem de topo de gama em branco e tinto e que pudessem mostrar o que de melhor se consegue fazer com as uvas disponíveis. Renascem assim os vinhos da marca Dolium em branco e tinto. É a marca mais antiga deste produtor, criada em 1999 (tinto) e 2000 (branco), com origem em vinhas antigas. No entanto elas não são eternas e a renovação das vinhas está a ser levada a cabo com varas das vinhas velhas, conseguindo-se a diversidade genética que se pretende manter, assegurando-se desta forma a continuidade do estilo e complexidade dos vinhos.
Do branco apenas se produziram 2.135 garrafas e 54 de 3 litros. Provém de uma vinha de Antão Vaz com 70 anos. O mosto fermentou um mês em madeira e depois esteve mais 8 meses em barrica. O tinto resulta de um field blend da vinha Julieta, dominando aí o Alicante Bouschet, Tinta Grossa e Alfrocheiro, acrescidas de sete castas não identificadas. A marca Vinha Julieta foi descontinuada. Foi vinificado em lagares com pisa mecânica e estagiou 12 meses em barrica nova de carvalho. Deste tinto fizeram-se 8.400 garrafas.
As outras marcas do produtor dispersam-se pelas marcas Paulo Laureano Selectio, Clássico e Vinhas Velhas; a que vende mais é o Clássico, a que mais tem crescido é o Vinhas Velhas. O mercado angolano continua a ser o mais importante para a empresa, mas os EUA e o Brasil estão em crescimento. No total falamos de 1,2 milhões de garrafas, mas já foram 2 milhões, quando o mercado angolano estava em alta.
Estes “renascidos” Dolium serão vendidos de uma única vez, um acto único para o qual serão convocados todos os compradores tradicionais. O que não for alocado nesse momento será depois disponibilizado aos sócios do clube Privilégio (que apenas terá 200 sócios) e haverá sempre uma venda anual com parte dos lucros a serem entregues a uma instituição de beneficência.
Na altura provámos também duas raridades: o branco de 2006 (Antão Vaz) e o tinto de 2001 (Aragonez e Cabernet Sauvignon). Os dois mostraram muita saúde, a demonstrar que o Alentejo também pode originar brancos com capacidade de envelhecimento (ver Da Cave) e tintos que dão boa conta de si passados quase 20 anos (apesar, ou por causa, do Cabernet Sauvignon).