[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A região a que se convencionou chamar de Península de Setúbal contém, em boa parte da sua superfície, largos hectares de área da região, esta administrativa, do Alentejo. É a zona sul, a mais atlântica, que dá vinhos diferentes dos que estão a Norte e a Leste. Dois produtores da região mostram isso muito bem.
TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA João Paulo Martins e Mariana Lopes
Não é a região de Azeitão, Palmela e Fernando Pó, por exemplo. Nem é Reguengos, ou Borba, ou Portalegre. A zona sul da Península de Setúbal é um terroir próprio, dominado pela influência atlântica, boas amplitudes térmicas e pelos solos onde predomina a areia com subsolo de média fertilidade.
“Por aqui não há temperaturas exageradas e a proximidade do mar ameniza tudo”, diz-nos José da Mota Capitão, proprietário da Herdade do Portocarro. E acrescenta, “qui conseguimos incríveis teores de acidez”. A sua colega Jacinta Sobral está de acordo. A proprietária da Serenada nem precisava de o dizer: os seus vinhos mostram bem a influência atlântica na salinidade e na frescura.
Este terroir é tão particular que espanta como é que existam aqui poucos produtores de vinho e de pequena dimensão. Mota Capitão tem pena: “não temos produtores suficientes para fazer massa crítica; somos apenas uma meia dúzia. E alguns estão em evoluções diferentes”. Pior ainda: nenhum dos ‘pesos-pesados’ da Península de Setúbal, com milhões de litros anuais, possui vinhas nesta zona. Podem comprar aqui uva (ou vinho), mas não estão cá. E, ao contrário do que começa a acontecer mais a sul, com a entrada de produtores alentejanos à procura de acidez para os seus vinhos, por aqui não se nota esse movimento.
Jacinta Sobral e José Mota Capitão pode ter pena, mas não perdem uma noite a pensar nisso. Ambos lideram projectos com sucesso, fazem vinhos de que gostam e, melhor ainda, vendem bem.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Serenada / Serras de Grândola” title_align=”separator_align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][image_with_animation image_url=”34328″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]O nosso primeiro destino está no concelho de Grândola Não é difícil lá chegar porque tem um pequeno hotel, muito charmoso. Tudo é pertença de Jacinta Sobral, farmacêutica de profissão em Lisboa, mas nascida e criada nestas paragens. A propriedade está na família desde pelo menos 1680, porque existe um testamento dessa data, que Jacinta exibe com orgulho. Está, aliás, parcialmente retractado nos rótulos dos seus vinhos mais caros, como o Cepas Cinquentenárias. A quinta tem 23 hectares no total e a primeira vinha nasce em 1961, pelo pai de Jacinta, que plantou apenas um hectare, com castas brancas e tintas, todas misturadas (75% tintas). Não havia grande tradição de vinha na região e Jacinta lembra-se apenas de Pinheiro da Cruz e Melides, aqui de forma muito artesanal. Em 1970 nasceu mais um pedaço de vinha, com outro hectare. A vinha abrange três tipos de solos bastante diferentes, com 7, 65 e 300 milhões de anos de idade. Existem areias, xistos e mesmo argilas. E vários outros minérios, como manganês. Um bom sinal, porque solos diferentes dão vinhos diferentes e Jacinta já reparou que isso acontece, por exemplo, no Verdelho. Poderá ter a ver com diferentes fertilidades de solo, ou quaisquer outras razões. Mas as diferenças existem.
Voltemos à história: nos primeiros anos, o pai de Jacinta fermentava tudo ao mesmo tempo e só uns bons anos depois começou a separar brancos e tintos. Jacinta ajuda no que pode, mas com mais força na vindima e nos últimos anos de vida do pai.
Em 2006, o pai morre e Jacinta faz contas com os dois irmãos, tomando conta da propriedade. Afastada do mundo do vinho, a farmacêutica fica sem saber muito bem o que fazer. Decide plantar mais vinha, mas aconselham-na a arrancar a vinha velha. Antes de tomar decisões apressadas e gastar (bom) dinheiro, Jacinta decide ampliar a sua formação vínica. Em 2007 vai para o Instituto Superior de Agronomia e tira um mestrado: “Foi a melhor coisa que fiz”, diz-nos ela com indisfarçável orgulho. “Ao fim de 2 ou 3 meses percebi que não ia arrancar coisa nenhuma”.
A área de vinha, entretanto, vai crescendo e está hoje nos 6,5 hectares. No total contém mais de 20 castas, porque Jacinta gosta de experimentar.
A vinha está rodeada por floresta, de tal forma que faz pensar, a espaços, nas vinhas do Dão.[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”34331,34329,34330″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][vc_column_text]NASCE UMA ADEGA
Em 2008 Jacinta resolveu fazer uma adega (a adega original está em terrenos que ficaram para o irmão). Não vai ganhar prémios de arquitectura, mas está bem equipada para a função de fazer bom vinho. “Já está a ficar pequena”, lamenta Jacinta. “Por causa do estágio”. Pois… a enóloga gosta de vinhos com estágio e, como não tem pressa de vender, as garrafas ocupam muito espaço. Na adega repousam vinhos da sua marca, Serras de Grândola, de 2013 para a frente, brancos sobretudo. Arinto e Verdelho envelhecem muito bem. “Ainda não sei como será o Gouveio…”, diz-nos Jacinta.
A adega está cheia de cubas de pequena capacidade (de 150 a 1.000 litros), herdadas. Mas são ideais para fazer pequenas quantidades e, claro, muitas experiências. “Vou enchendo e só depois faço os lotes”, diz-nos Jacinta. A maior cuba, de 6.000 litros, pouco é usada. Para os tintos existem duas cubas de 2.500 litros. Ou seja, dá tudo um trabalhão, mas a proprietária aprende e diverte-se. Para as cubas que não têm frio, Jacinta usa placas endógenas.
Os vinhos são secos, austeros, sem artifícios. Podem mesmo ser considerados algo difíceis para o consumidor menos enófilo, habituado à actual doçura residual. Mas são muito gastronómicos, porque muito frescos, cheios de carácter. Mas, depois de provar várias colheitas antigas, agradecem o estágio.
Jacinta faz algum vinho de base, em bag-in-box, para consumo local e alguns clientes fiéis. Mas, diz Jacinta Sobral com um sorriso de orelha a orelha: “cada vez faço menos vinho de base e cada vez faço mais vinhos especiais, os que gosto de fazer”.[/vc_column_text][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]
A sua herdade do Portocarro fica no concelho de Alcácer do Sal, freguesia do Torrão. Foi adquirida por Pepe há bem mais de uma década, depois de cursar Agronomia em Lisboa, onde vivia. Desde cedo que mostrou sentido e gosto para a agricultura, cultivando arroz nas lezírias sadinas da herdade. A vinha nasceu em 2002, com a assistência técnica de Paulo Laureano, que aqui esteve até 2012. Actualmente é António Rosado que dá a assistência técnica, tanto na vinha como na adega. Os dois complementam-se na vontade de experimentar e fazer melhor. Nestes anos já acumularam um invejável manancial de conhecimentos e é um gosto falar com eles sobre vinha e vinho. Pepe já tem vinhos da casta Boal (famosa na Madeira) e Galego Dourado (de Carcavelos) e possivelmente o vinho mais famoso da casa, o Anima, é feito com a casta italiana Sangiovese. Na altura era único no país (e se calhar ainda é), mas era muito bom e vendeu – e continua a vender – muito bem. A propósito, aparecer uma versão Sangiovese em branco, de nome Manda Chuva.
PRIVILÉGIO PARA A MATÉRIA-PRIMA
A vinha está um brinco, plantada sobretudo em encosta suave. É aqui que Pepe e António passam muito tempo, não só porque gostam da viticultura e querem as melhores uvas, mas também porque têm muitas castas diferentes para cuidar. E só assim a equipa consegue conhecer os “humores” de cada uma, do Cabernet à Touriga Franca, do Galego Dourado ao Sercial. No total são 18 hectares, com várias exposições e altitudes diferentes. O terroir é a menina dos olhos de Pepe: “esta é uma região abençoada para a vinha”.
As uvas vão para a adega, ali ao lado, transformada de um antigo barracão. Mas o que está lá dentro, incluindo um conjunto de dispendiosos balseiros da Seguin Moreau, é material de alta qualidade. Tanto servem para fermentações como para estágio, e todos os vinhos passam por aqui. Os resultados compensam, mas os balseiros dão muito trabalho a higienizar. Tudo é fermentado casta a casta. Lotes, só à posteriori. E não há linha de engarrafamento. Mas, ainda assim, a adega está a ficar pequena…
“O nosso maior lote é de 50 mil litros (Autocarro 27). Os outros têm entre 2.500 e 10.000 litros”, diz-nos António Rosado. Ou seja, pequenas tiragens de vinhos com um perfil especial. “O estilo da casa é sobretudo a frescura, elegância, vegetal”, afirma o proprietário. E manter teores alcoólicos moderados. Em primeiro lugar porque Pepe e António não gostam de fruta exuberante. E depois porque não precisam de forçar nada: graças às maiores amplitudes térmicas na altura antes da vindima, as plantas não param de trabalhar e as maturações fenólicas costumam andar à frente das alcoólicas. No final ambos reconhecem que não fazem os vinhos mais consensuais do mercado: quem goste de vinhos muito encorpados, alcoólicos, de fruta exuberante, tosta e finais adocicados pode procurar em outro lado. A frescura e elegância (e os taninos, nos tintos) são características de vinhos longevos e é por isso que aqui não há pressas em lançar os vinhos para o mercado. O mercado agradece, incluindo o estrangeiro: “Exportamos metade e, melhor ainda, vendemos lá fora os vinhos mais caros do que cá”, revela Pepe. A casa vai de vento em popa, batendo recordes todos os anos. Mas Pepe não está satisfeito…[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”34334,34335,34336″ layout=”3″ gallery_style=”1″ load_in_animation=”none”][vc_column_text]À PROCURA DE VINHAS
Ali ao pé, em Melides, em terras de xisto, Pepe entrou num projecto chamado Pego da Moura, em sociedade com Manuel Ricciardi, proprietário de parte das vinhas. O restante vem de parcelas locais, algumas com muitas décadas e outras ainda em pé franco. Fizeram-se alguns acordos com os proprietários locais e daí já nasceu um Boal e um Castelão (2015), da marca Pego da Moura Impossible Vineyads. No meio da sociedade entrou ainda um artista plástico inglês, que também já tem vinhas plantadas com varas retiradas das plantas velhas da região. O provámos é extraordinário e estamos em crer que o futuro ainda trará ainda melhores novidades.[/vc_column_text][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]
Edição Nº 22, Fevereiro 2019
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