Qual a influência de diferentes decanters num vinho?

Beber um bom vinho e apreciá-lo na sua plenitude é uma atitude que tem muito a ver como uma série de condicionantes. A temperatura de serviço, por exemplo, é um factor determinante para a correcta apreciação de um vinho. O próprio copo é importante, como podemos constatar depois de fazermos várias ‘provas de copos’.
Decantar um vinho, especialmente tinto e em particular vinhos ainda fechados e/ou taninosos, pode ser outra manobra que o vai alterar positivamente para o nosso usufruto. Hoje, já toda a comunidade enófila sabe isto. Mas será que existem outras variáveis a descobrir? A mente inquieta de Ralf Schmidt um dia congeminou que o formato do próprio decanter pode fazer diferença. E vai daí, o proprietário da Schmidt-Stosberg teve a ideia de fazer uma prova de decanters no último dia da feira Grandes Escolhas Vinhos e Sabores. Refira-se que a Schmidt-Stosberg, representante oficial da marca do fabricante Schott-Zwiesel, tem vários decanters no seu portefólio.
O orientador da prova foi o sommelier Luis de Almeida Cambra, do restaurante Largo do Paço, em Amarante. Na mesa, para além de Ralf, estava Manuel Malfeito Ferreira, professor no Instituto Superior de Agronomia, e João Silva e Sousa, conhecido enólogo que oficia sobretudo no Douro. Maria João de Almeida, jornalista, estava também presente e deu a sua opinião.
A prova foi bem interessante porque envolveu um único vinho tinto, Howard’s Folly, passado através de vários decanters. Um deles continha o vinho da garrafa, que infelizmente teve de ser passado para decanter porque tinha depósito. Mas não foi agitado, o que aconteceu nos decanters de prova. Teríamos ainda agradecido que o vinho de controlo pudesse vir de uma só garrafa, por exemplo uma com 3 litros, que seria suficiente. Assim teríamos a certeza de que o vinho era exactamente igual.

No final, eram várias as opiniões que circulavam sobre as diferenças do decanter de controlo para os outros. Considerando as vacilações que observámos, as diferenças não eram de todo óbvias. Ou seja, a existirem, seriam subtis. Mas fica para confirmação em nova prova, com uma preparação mais exigente.
Muito interessante foi ainda a discussão sobre a decantação: um dos sommeliers da sala referiu que prefere decantar vinhos novos, porque é um risco fazê-lo com os vinhos velhos. Luis Cambra concordou e acrescentou que só faz a decantação em poucos casos no restaurante onde trabalha. E acrescentou: “cada vinho é um vinho e não existem receitas universais”. A decisão de decantação passa ainda pelo tempo disponível e pela vontade do cliente. João Silva e Sousa referiu ainda uma experiência com Vinhos do Porto e uma prova abarcando várias décadas, ocorrida no Canadá: “os vinhos dos anos 40 estavam mortos ao fim de 30 minutos após a decantação”.
No final da sessão, ficou a sensação de que o tema estará longe de estar esgotado. Melhor ainda para o anfitrião, Ralf Schmidt, que terá oportunidade de repetir a prova e fazer avançar o conhecimento sobre o tema. (António Falcão)

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