Quinta do Monte d’Oiro: vinho, uma paixão de pai para filho

Os vinte anos de um projecto vitivinícola são idade suficiente para uma comemoração. E quando, chegados a esta idade, se percebe que a nova geração já está com a genica e a paixão necessárias para levar o projecto para o futuro, então há motivos para sorrir. Foi assim que encontrámos José Bento dos Santos sorridente na sua quinta, no momento em que Francisco se assumiu como anfitrião. Bonito de ver, ao lado de vinhos bons de beber.

 

TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga

LEMBRO-ME de um livro de culinária que comprei em França, num restaurante estrelado Michelin onde decorreu um workshop para um grupo de portugueses e que se chamava “La cuisine – une passion de père en fils”, de Michel et Jean Michel Lorain, pai e filho. Foi nesse livro que pensei quando escrevi o título deste texto. Há aqui de facto algo de semelhante e não é só porque Jean Michel Lorain é grande amigo de José Bento dos Santos; é porque esta transmissão de testemunho pode ser um momento de grande alegria, seguramente comemorável.

Quando cheguei à quinta para a jornada comemorativa dos 20 anos do Monte d’Oiro, confesso que estranhei a ausência José Bento, produtor, mentor, ideólogo e desenhador do projecto. Após a chegada fomos presenteados com uma ventania muitíssimo competente – como que a recordar-nos que o termo Ventosa aplicado a terras da região tem toda a razão de ser – e rapidamente fomos para a adega, para a prova. Aí tudo se tornou claro: o produtor não estava atrasado nem estava na cozinha de volta do menu de almoço; quem ali estava para apresentar e conduzir a prova era Francisco, o produtor ele mesmo, a nova geração à frente dos destinos do projecto. E assim foi durante toda a conversa.

O pai José só apareceu mesmo quando estávamos preparados para o almoço. Intencional? Creio que sim, Francisco conduziu a prova, partilhou com os presentes as ideias que tem para os vinhos da quinta e foi-nos apresentando a história evolutiva dos vinhos, hoje naturalmente com desenho diferente de quando nasceram. De 1997 para cá mudou muita coisa no modus operandi do vinho, mudaram modas, mudaram alguns métodos, castas e técnicas. Por esta razão uma prova mais alargada dá-nos a noção da forma como se faziam então os vinhos, dos perfis que então se pretendiam, da trajectória feita até hoje e que contou em momentos-chave com a colaboração dos amigos das Côtes-du-Rhône, sobretudo Michel Chapoutier.

Permanências e mudanças
A quinta começou por ser produtora de tinto. O primeiro em 1997, quando se julgou que a vinha já tinha a maturidade suficiente para produzir um vinho que pudesse ser uma referência. E começou-se com o pé direito mostrando este vinho que está, em 2017, em muito boa forma – os 20 anos não lhe retiraram qualidades. A aposta no Syrah é inquestionável mas a quinta tem outras castas plantadas, como a Touriga Nacional e Tinta Roriz ou Petit Verdot.

Hoje sabe-se mais sobre as particularidades da quinta, está feito o mapeamento e identificadas as parcelas que melhor produzem, sendo por isso possível organizar o portefólio de acordo com as características das uvas. São inovações destas que fazem
os projectos avançar, eliminando o que já não se enquadra na nova filosofia (desapareceu assim a marca Vinha da Nora), alterando o tempo de uso das barricas (menos barrica nova e fim do “estilo” 200% de barrica nova), menos barrica também nos brancos, procura mais assertiva de vinhos que expressem o terroir, sem artifícios. Para isso também contribuiu o caminho que se continua a fazer numa agricultura biológica, mais respeitadora do ambiente.

Não é só o Syrah que continua a ser a bandeira, também o Viognier, que aqui deu os primeiros passos, continua a receber a atenção que merece, o que as colheitas de 2015, 13 e 08 amplamente demonstraram. A marca Madrigal nasceu em 2004 e foi mudando um pouco de perfil ao longo do tempo. Actualmente 55% do mosto fermenta em inox e o resto em barrica, parte dela nova. O vinho tem tudo a ganhar com o tempo de cave e o melhor conselho que se pode dar ao consumidor é que deverá bebê-lo a partir dos 2 a 3 anos após a colheita. O tinto Ex-Aequo – que incorpora, além do Syrah, cerca de 25% de Touriga
Nacional – reflecte exactamente essa ligação com Michel Chapoutier e é um dos vinhos emblemáticos da casa. As colheitas de 2011 e 2008 que aqui foram provadas mostram a enorme saúde que os vinhos apresentam, sempre num patamar de excelência.

A marca-âncora continua a ser o Quinta do Monte d’Oiro Reserva. Também este usa agora menos barrica nova (cerca de 45%) quando o 1º, feito em 1997, tinha 100% barrica nova. Além do 2013, provaram-se também o 2009 e o 2004, ambos a mostrarem a enorme classe que o Syrah consegue atingir nesta propriedade.

“O vinho é um estado de espírito”, lembrou José Bento no almoço que fechou a jornada. O gosto que tem na reunião de amigos à volta da mesa, a atenção que o vinho lhe merece no mais ínfimo pormenor e o rigor que soube transmitir a Francisco, leva-nos a acreditar que aquela frase faz todo o sentido.

 

 

 

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