São José do Barrilário: Dois vinhos e uma janela aberta para o Douro

A história da Quinta São José do Barrilário começa oficialmente em 1747, quando foi reconhecida como tal. Reza a lenda que, há muitos anos, ainda antes dessa data, um dos trabalhadores da quinta, ao lavar um dos barris, caiu acidentalmente dentro dele e rolou até ao ribeiro. Quando finalmente parou, agradeceu a São José, o santo padroeiro da capela. Assim nasceu a Quinta São José do Barrilário e, em homenagem a esse acontecimento, todo o hotel foi inspirado nos barris de vinho.

Chegados ao Douro Wine Hotel & Spa fomos recebidos pelos administradores Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes, que nos proporcionaram uma visita guiada pelo espaço, que conjuga tradição com sofisticação, com um olhar na sustentabilidade. Adquirida pelo Grupo Terras & Terroir em 2017, a quinta, localizada em Armamar foi alvo, de um profundo e dedicado processo de revitalização, reabrindo ao público em agosto de 2024.

O projeto, com assinatura do arquiteto Henrique Gouveia Pinto, envolveu a construção de um hotel de cinco estrelas, o Douro Wine Hotel & Spa, com 31 unidades de alojamento (27 quartos e quatro suites, com áreas entre os 28 e os 50 metros quadrados), infinity pool exterior, Spa panorâmico, restaurante e loja de vinhos, assim como a reconversão da casa, a recuperação da capela dedicada a São José e o lançamento da marca de vinhos São José do Barrilário.

Herança e sustentabilidade

O respeito pela história da Quinta São José do Barrilário é comprovado com a recuperação da casa senhorial, convertida em palco privilegiado para a realização de eventos, e da capela dedicada a São José, verdadeiramente um dos ex-libris da propriedade.
A oferta é diversificada e focada na sustentabilidade, com uma cuidadosa seleção de materiais que refletem a autenticidade, a tradição e a profunda ligação com a região do Douro, enquanto proporcionam conforto e sofisticação aos hóspedes:  “Acreditamos que o Douro ainda tem muito para crescer, que tem potencial para desenvolver a sua proposta de valor. Pretendemos contribuir para essa evolução com uma oferta de qualidade superior, dentro do segmento de luxo, apostando num hotel de cinco estrelas que tem uma vista fantástica sobre o rio Douro, e na revitalização das estruturas já existentes na Quinta, cumprindo a missão do grupo, de valorizar o património de Portugal”, frisa a administração do Grupo Terras & Terroir”.

Apenas a título de exemplo, é possível degustar mel na propriedade, proveniente de 10 colmeias já instaladas que, no futuro, farão parte da oferta diferenciada de serviços disponíveis, pois está prevista a construção de um apiário que poderá ser visitado pelos hóspedes. A breve prazo, o mel colhido será também comercializado pelo grupo Terras & Terroir. O mesmo se passa com o azeite obtido das 400 oliveiras do olival da propriedade ou o pomar em crescimento, ofertas verdadeiramente diferenciadas para quem procura luxo e diversificação na região duriense.

São José do Barrilário
Álvaro Lopes e Maria do Céu Gonçalves, administradores do Grupo Terras & Terroir

Um terroir de eleição

Após a visita à propriedade, foi tempo de provar os novos reserva São José do Barrilário – um branco e um tinto. As garrafas apresentam o logotipo da quinta, inspirado na iconografia da Companhia de Jesus, também conhecida como Ordem dos Jesuítas, exibindo três pregos estilizados que representam os usados na crucificação de Cristo. O rótulo com relevo evidencia igualmente os losangos perpetuados na capela do século XVIII, dedicada a São José, que foi restaurada.

A Quinta São José do Barrilário perfaz um total de 28 hectares, dos quais 15 são de vinha, 11 dos quais com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos, três hectares com cerca de cinco anos e um hectare com cerca de dois anos. Predominância, nas variedades tintas, para a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca nas vinhas mais velhas, e Tinto Cão e Sousão nas vinhas novas. As uvas para o branco, maioritariamente de Gouveio e Viosinho provêm de uma vinha localizada em altitude, em Carrazeda de Ansiães, no Douro Superior.
“O facto de estarmos localizados numa encosta exposta a nascente implica menos sol após o meio-dia, resultando numa maturação equilibrada, sem calor excessivo, produzindo vinhos tintos muito frescos, com boa acidez. Nos brancos, a altitude da vinha localizada no Douro Superior é determinante para a sua frescura”, refere Hugo Fonseca, diretor de Produção do Grupo Terras & Terroir.

Os vinhos – 4500 garrafas de branco e 6600 garrafas de tinto – são produzidos em Lamego, a curta distância, no centro de vinificação da Quinta da Pacheca, com a assinatura da dupla de enólogos da principal unidade do Grupo Terras & Terroir: Maria de Serpa Pimentel e João Silva e Sousa. Será sempre uma produção limitada, focada na qualidade, estando na forja apenas mais um tinto, um Grande Reserva a sair em breve.
Para a dupla de enólogos o objetivo foi criar vinhos “com longevidade em garrafa” e cujo mote é “frescura, frescura, frescura”. Pudemos comprová-lo na prova efetuada e posteriormente à mesa, ao almoço, no restaurante do hotel, com o traço distintivo da carta criada pelo chef Luís Guedes.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)

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