Taboadella: O Dão ao jeito Amorim

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Se há quem saiba criar novos projectos, perto ou longe de casa, é a família Amorim. E no que toca aos vínicos, o mérito é, sem dúvida, de Luísa. Taboadella é o novo lugar no Dão, que encanta na arquitectura, na vinha e no vinho.

TEXTO: Mariana Lopes   

 Fotos: Taboadella

Taboadella. O Dão com nova adega Amorim

Luísa Amorim descobriu o Dão durante uma das suas viagens vínicas, há cerca de dez anos. Desde logo, apaixonou-se pela Alfrocheiro, pela Jaen e pela expressão da Touriga Nacional na região. “O Dão é uma região de passado e de futuro, uma região que acreditamos precisar de ser reavivada. Fomos muito bem recebidos aqui.”, afirmou Luísa, com a sua típica voz calma e maternal, quando nos recebeu em Silvã de Cima, na loja da Taboadella, um edifício de inspiração mediterrânica, de exterior branco e contornado nas janelas e portas por uma cor que lembra sangue escuro e denso.

Talvez seja no sangue de Luísa que está esta arte de criar e de bem receber, à qual a benjamim da sua geração de irmãos acrescenta um toque muito pessoal, que torna tudo em que toca em algo único, como o “ver” em cores e texturas: “Para mim, o Dão sempre foi vermelho e branco, e também maciço”, confidenciou.

A história do lugar é muito antiga e remonta ao século I, quando foi ocupado por romanos para construção uma “villae” romana (nome dado às vilas de campo, sistemas agrícolas organizados, dos romanos mais ricos e influentes), cujos vestígios sobreviveram à prova do tempo, estando bem visíveis na propriedade ainda hoje.

Além das sepulturas do século primeiro, um dos melhores exemplos é o lagar junto à vinha, sobre um penedo monólito de origem rupestre, a prova viva da importância do vinho na época como bem de consumo e enquanto parte do salário militar. Bem mais tarde, e na época medieval, segundo registos históricos de 1255, a Taboadella foi uma propriedade de classe rural alta, com as casas e os edifícios agrícolas rodeados por uma floresta de pinheiro, carvalho e castanheiro, floresta que hoje abraça o lugar e que nos dá a sensação de estarmos num conclave mágico.

Tendo recebido foral do rei D. Manuel em 1504, por Silvã de Cima passaram várias famílias fidalgas, facto plasmado na pedra de armas presente na casa principal, epicentro de um jardim secular. Tudo isto pode ter pesado bastante na decisão da família Amorim em adquirir a propriedade, compra que se formalizou em Junho de 2018. Ainda nesse ano, foi montada uma adega “de campanha” e a quinta toda vindimada, para que se pudesse começar imediatamente a estudar o seu potencial. “Queremos fazer um projecto muito diferente do da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo [no Douro], mais ao estilo ‘chateâu’. Acima de tudo, um projecto do século XXI, adaptado aos tempos actuais, que inclui lidar com as alterações climáticas”, explicou Luísa Amorim.

 

Vinha tradicional, adega moderna

 A Taboadella estende-se por 48 hectares, quarenta dos quais de vinha com idade média de 30 anos, entre o Vale do Pereiro e o Vale do Sequeiro, desenvolvendo-se dos 400 aos 530 metros de altitude. São 25 parcelas em modo de produção integrada e não regadas. Ali, o clima é de transição entre atlântico e continental, com o maciço montanhoso a proteger a vinha dos ventos marítimos e dos ventos de Espanha (“nem bom vento…”, já diz o provérbio): a sudoeste, a Serra da Estrela e a Serra do Açor; a noroeste, a Serra do Caramulo; a nordeste a Serra da Nave; a sul a Serra da Lousã e a sudoeste a Serra do Bussaco.

Ana Mota, directora de produção e de viticultura, cedo esclareceu que oito dos hectares foram desde logo reabilitados, pois continham uvas como Cabernet Sauvignon, Syrah ou Touriga Franca. “Não queríamos essas castas no projecto, queríamos fazer aqui Dão”, explicou a viticóloga. Plantaram também mais Encruzado e Cerceal, que já existiam desde uma replantação parcial que teve lugar em 1980. Assim, os actuais 29 hectares de variedades tintas incluem (por ordem decrescente de quantidade) Tinta Roriz, Touriga Nacional, Jaen, Alfrocheiro, Tinta Pinheira e Baga; e os onze de brancas têm Encruzado, Bical e Cerceal.

São vinhas com arrelvamento total pois, segundo Ana Mota, “além da biodiversidade, ajuda com o arrastamento de solo, porque aqui chove muito”. A vindima é totalmente manual. Os solos, por sua vez, são de granito, arenosos (com uma camada de areia à superfície) e siltosos (espécie de argila menos aglomerante) que, quando cruzados, conferem à Taboadella sete microterroirs.

O caminho entre o centro de recepção e a adega faz-se com a companhia das vinhas, num declive que nos leva a um projecto de arquitectura impactante por dentro e por fora, com assinatura de Carlos Castanheira. Grande, de desenho complexo, mas moderna e altamente funcional, a adega da Taboadella tem muita madeira e muita, muita cortiça, como não poderia deixar de ser. Jorge Alves, director de enologia, mostrou as instalações onde é ele o “rei”, rodeado da mais nova e boa tecnologia, assistido pelo enólogo residente Rodrigo Costa: “Os equipamentos são todos móveis, que era o que queríamos ter aqui”.

Sempre bem dispostos, o enólogo e Ana Mota não conseguem esconder a cumplicidade que têm um com o outro, nem no olhar nem no sorriso, e juntos formam uma máquina perfeitamente oleada, da vinha ao vinho. Jorge Alves e Luísa Amorim apontaram, orgulhosamente, para o desengaçador/esmagador Pellenc, um equipamento completamente inédito em Portugal que, por vibração mecânica, permite retirar a quantidade de grainha desejada. “São ‘pormenores’, mas que acreditamos que nos ajudam a dar sofisticação aos vinhos”, referiu Luísa, porque “se evita caninos mais angulares”. É uma adega com capacidade actual de vinificação para 290 mil litros por vindima, “sem frigoríficos, pois nenhuma uva fica para o dia seguinte”.

As maciças e enormes portas de correr em madeira, separam as várias zonas do edifício. Quando se abrem, desvendam lentamente o que está do outro lado, causando um efeito “wow”, e até isso parece pensado. O pavilhão de cubas revela uma fila de dez troncocónicas de inox para tintos (15 mil litros, cada), de um lado, e onze cubas Nico Velo de betão (10 mil litros), do outro; e também mais oito de inox para brancos (8 mil litros). Depois, a nave de barricas, aquilo a que Luísa apelidou de Barrel Top Walk, onde no fundo temos as barricas e, suspenso por cima destas, uma espécie de passadiço em madeira que permite aos visitantes contemplar este local de trabalho sem incomodar ou interromper os funcionários. Neste momento, esta sala tem 76 barricas de 500 litros, de seis tanoarias francesas, madeira de Borgonha e de Bordéus, de vários tipos de tostas e origens florestais. Mas a sala permite crescer este número de barricas até 500.

Um dos sítios mais especiais da adega é a ampla varanda da sala de provas, um autêntico “camarote VIP” para contemplar o mar de vinhas com a floresta ao fundo, de copo de vinho na mão.

 

Vinhos com estamina

Três gamas e oito vinhos foi o que saiu das últimas safras do Lugar da Taboadella, e o que já está disponível para o consumidor. “Depois de muito estudarmos que, em regiões clássicas como o Dão, a casta tem uma importância fundamental, e apesar sentirmos que gostaríamos de evidenciar o nosso património genético, também teria de haver espaço para os vinhos de elevada ancestralidade, vinhos de lote que nascem não só na vinha mas também na paisagem, com o cuidado particular e paciente que nos permite resgatar do passado a essência da natureza e projetar para o futuro oito vinhos com uma tipicidade notável mantendo o carácter clássico do Dão”.

É esta a visão de Luísa Amorim para os vinhos deste projecto. A gama de entrada, de nome Taboadella Villae, comporta um branco e um tinto de lote — sem madeira — o primeiro de Encruzado, Bical e Cerceal; o segundo de Tinta Roriz, Jaen, Alfrocheiro e Tinta Pinheira. A colecção Taboadella Reserva, é a gama dos monovarietais, dos vinhos que pretendem ser a expressão máxima de cada casta clássica naquele terroir, “o resultado de uma selecção limitada de casa parcela” onde se fala de “afinidade com a madeira”. São eles um Encruzado, um Alfrocheiro, um Jaen e um Touriga Nacional.

Já os Taboadella Grande Villae, jogam no campeonato mundial dos melhores, são os clássicos, os super-premium, em branco e tinto que, mesmo mostrando ainda a sua tenra idade se revelam autênticos diamantes em bruto, com capacidade de resistência ao tempo. O branco, vinificado com uva inteira, tem 40% de Encruzado, Bical e vinha velha, e o tinto é um lote de Alfrocheiro, Touriga Nacional e Tinta Roriz. Ambos estagiaram doze meses em barrica nova de carvalho francês e originaram cerca de 3500 garrafas.

Actualmente, a produção total anual é de 100 mil garrafas, prevendo-se passar as 200 mil em cinco anos. Também está em marcha um ambicioso projecto de enoturismo — desenhado pela arquitecta Ana Vale — que, além de contemplar a loja com vinho e outros produtos artesanais, provas e experiências vínicas, inclui oito quartos.

“Não sou vaidosa comigo mesma”, confessou Luísa Amorim, com verdade nos olhos. Se tem vaidade, deposita-a toda nos seus projectos e desafios. A Taboadella é só mais um exemplo disso, um novo player no Dão que só trará coisas boas a esta região.

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