Porto em Lisboa

As duas maiores cidades portuguesas são, cada vez mais, destinos turísticos universais. Lisboa e Porto estão no topo das preferências dos turistas que nos visitam e, entre os seus muitos argumentos de sedução, a comida e o vinho assumem protagonismo. Mas há uma grande diferença: o Vinho do Porto. Nas margens do Douro, ele é rei. E na capital? Fomos saber onde, e como, se homenageia o mais conhecido dos vinhos lusitanos por terras de Lisboa.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez

O Vinho do Porto é um dos produtos portugueses mais conhecidos e apreciados no mundo. Não será, até, exagero se dissermos que é “o” produto português, aquele que mais rapidamente se associa à imagem do país lá fora. Sim, há Cristiano Ronaldo e o futebol. E quase nove séculos de história que ajudaram a moldar o mundo como o conhecemos. E o mar, mais as praias de areia e as falésias que o emolduram. Mas o Vinho do Porto apresenta Portugal em todo o planeta. Em grande estilo.
Para quem nos visita, claro, é experiência quase obrigatória conhecer melhor esses néctares que os homens arrancam a uma Natureza austera e implacável. Muitos decidem-se mesmo por explorar o vale do Douro, em busca das raízes profundas do Vinho do Porto. Para os outros, tantos outros, esta “viagem” faz-se de copo na mão, provando e aprendendo com quem sabe abrir as portas desse fascinante mundo.
E há tanto para descobrir. Branco, Ruby e Tawny são os três tipos de Porto e dentro de cada uma dessas categorias há muito por onde escolher. Brancos datados, mais doces ou mais secos, as novas tendências de cocktails, como o Porto tónico. Ruby, Reserva, LBV ou Vintage. Tawny Reserva, Colheita ou com indicação de idade. O Porto é toda uma paleta de cores e sabores à espera de espíritos curiosos que a queiram explorar.
O Grande Porto, claro, é o epicentro desta actividade. As caves de Gaia e as margens do Douro são um incontornável pólo de atracção turística da região. Centenas de milhares de pessoas visitam anualmente as instalações das grandes empresas do sector – e muitas mais serão, certamente, num futuro próximo, com a anunciada aposta, por parte da Fladgate, num grande parque temático do sector, o World of Wine, cuja abertura já foi anunciada para o Verão de 2020.
Então e Lisboa? O que pode oferecer a capital a quem a visita e quer saber mais sobre o grande vinho português? À primeira vista, as notícias pareciam não ser boas: o Solar do Vinho do Porto, que durante anos foi o grande “embaixador” do néctar do Douro, encontra-se encerrado para obras, pelo menos até 2020… Das principais empresas do sector, apenas a Sogrape, com a Sandeman, tinha investido no mercado lisboeta, mas também foi sol de pouca dura. E então surgiu a informação de que a Taylor’s ia abrir um espaço próprio na capital.
O anúncio deste investimento espicaçou-nos a curiosidade: será que o Porto está bem representado em Lisboa? À falta de espaços institucionais, poderiam os wine bars que vão surgindo um pouco por toda a cidade assumir a passagem de testemunho? Fomos à procura de respostas. E regressámos com uma certeza: quem visita a capital tem muitas, e boas, propostas para mergulhar no universo Porto. Vamos conhecer algumas.

Dos espaços que visitámos, este é o mais recente: abriu a 9 de Maio, ali perto do Campo das Cebolas, uma zona cada vez mais turística por força da proximidade com a Praça do Comércio e a colina de Alfama, junto ao novo terminal de cruzeiros. Mesmo ao lado do Chafariz D’El Rei, o edifício da Taylor’s está classificado e isso, se acrescenta ao seu charme, também entrava os planos da empresa para dar mais visibilidade exterior ao seu espaço. Mas adiante, que lá dentro é que se está bem.
No piso térreo, a loja tem um pouco de tudo. Os vinhos, naturalmente, são o prato-forte, mas também encontra¬mos chocolates ou azeite, merchandising da marca (desde t-shirts e bonés até aos puzzles ou chapéus de chuva), bolsas, postais ilustrados, canecas, copos, velas de cera, enfeites de Natal, decanters… Até há meias. E modelos de garrafas para construir em Lego.
Subindo as escadas, entramos na zona de provas. São três salas, de paredes claras e despidas, tirando os cartazes com “cartoons” humorísticos relacionados com a marca, fotos antigas da faina vinhateira, um grande espelho de moldura dourada e o ecrã onde passa um vídeo que nos fala do vale do Douro e da insana teimosia dos homens que ali esculpiram uma paisagem de ficção científica em nome do vinho.
Mesas e bancos de madeira (há 100 lugares disponíveis) espalham-se pelas divisões bem iluminadas, o Tejo entrando pelas janelas, onde há também balcões e assentos que nos fazem pensar de imediato nas célebres namoradeiras. Algumas paredes conservam à vista as pedras originais e notam-se os sinais das arcadas antigas que sustentam o edifício.
A clientela faz-se maioritariamente de turistas estrangeiros, mas, garantem, nota-se uma cada vez maior curiosidade dos portugueses pelo Vinho do Porto, atraídos também pela possibilidade de saborear a copo vinhos cujos preços, à garrafa, estão normalmente fora das possibilidades do cidadão comum, como alguns Vintage e Tawnies velhos – os primeiros são mesmo os mais populares. “São vinhos de que as pessoas ouvem falar, mas não conhecem”, assume Anne Marie Faustino, directora do Centro de Visitas Taylor’s.
Mas a Taylor’s promete não ficar por aqui. Um edifício contíguo foi adquirido pela empresa para aí montar um centro de visitas. O cenário não podia ser mais adequado para emular a atmosfera das caves de Gaia: paredes em pedra, vestígios arqueológicos, abóbadas em tijolo… As obras já começaram.
Aberto todos os dias, das 11h às 19h30.
Não é necessário fazer reserva. Há 15 vinhos disponíveis a copo
(a partir de 5 euros) e uma prova de cinco Porto, entre os quais alguns ícones da casa (40 euros).

RUA CAIS DE SANTARÉM, Nº8, LISBOA
TEL: 218 863 105
MAIL: lisbon@taylor.pt

Há um ano, completo neste mês de Julho, que Lisboa se juntou às cidades do Porto e Paris no universo Portologia. Julien dos Santos, lusodescendente, é o homem por trás deste projecto e é também o dono da Hermitage – no espaço lisboeta, os Vinhos do Porto de entrada de gama são todos desta empresa, abrindo espaço nas categorias superiores para outros produtores, todos pequenos e independentes.
Situada na Baixa, a loja/sala de provas tem 30 lugares disponíveis e a clientela, assume com algum humor Gustavo Luís, o responsável pelo espaço, será “97 por cento estrangeira”. Quem entra pode fazer provas de Vinho do Porto (o cardápio é vasto, desde as provas mais básicas a outras verticais e temáticas – o folheto fala mesmo de “degustações comentadas, de 3 a 30 copos”), adquirir garrafas do generoso e de vinhos tranquilos, mas também queijos, enchidos, compotas, conservas, azeite.
Na parede, uma grande foto do vale do Douro capta de imediato o olhar, que depois se espraia pelas estantes com garrafas, pelas barricas, caixas e mesas de madeira. A de¬coração inclui ainda algumas alfaias agrícolas, decanters, rolhas. O espaço não é grande e acaba por ser dominado pelo balcão frigorífico à direita de quem entra, mas torna¬-se acolhedor e intimista. Bem à medida de um copo ao fim da tarde… “Pela hora do almoço temos algum movi¬mento, mas o período mais intenso é entre as 17h e as 20h”, confirma Gustavo Luís.
A vontade de descobrir o universo Porto é o sentimento mais comum entre os visitantes que optam por fazer provas. E, por isso, não surpreende que a mais popular seja a que junta seis tipos de Porto diferentes, uma degustação comentada que entreabre a porta para as variações deste vinho tão multifacetado. Mas também há experiências dedicadas a quem quer ir mais longe: Novos vs Velhos; Brancos Secos ou Brancos Velhos são alguns exemplos.
O conceito Portologia parece estar de pedra e cal e, se é ainda cedo para falar de localizações específicas, Gustavo Luís assume que existe a intenção de alargar o leque de espaços. Por agora, são três. Com muito vinho para provar e comprar. Um casal francês entra e prepara-se para descobrir mais sobre o Vinho do Porto; dois jovens, também estrangeiros, pesquisam nas prateleiras um vinho diferente para levar. Lá fora, já se fez noite. E os copos continuam a encher-se de magia.
Aberto todos os dias, das 11h às 24h.
Há mais de 200 vinhos disponíveis para prova e um leque
muito alargado de provas de Vinho do Porto.

RUA DE SÃO JULIÃO, Nº 36, LISBOA
TEL: 210 179 313
E-MAIL: lisboa@portologia.pt

 

Cláudia (ou Alexandra; ela usa os dois nomes) e Adriana eram jornalistas, mas sentiam-se saturadas da profissão. E ambas gostavam de vinho e gastronomia. Deste ponto de encontro nasceu a ideia de começarem a fazer provas de comida e vinhos portugueses. Ao princípio, em sítios que iam variando; depois, assentaram no seu próprio espaço. A 7 de Dezembro de 2015, nascia a Lisbon Winery. “Tem sido uma aventura”, resume Cláudia.
Fica no Bairro Alto e o Vinho do Porto sempre foi uma opção assumida das duas anfitriãs. “Havia muita gente que dizia que não gostava e quisemos provar que o Porto tinha muito para descobrir. As pessoas ficam agradavelmente surpreendidas, porque bebem coisas bem diferentes do que conheciam”, explica Adriana. A filosofia da casa é servir apenas vinhos de qualidade feitos por peque¬nos produtores. Isso e apostar continuamente em abrir horizontes. “Estamos sempre a renovar a carta”, garantem.
O espaço, com pouco mais de 30 lugares sentados, é informal e descontraído. A parede onde uma ilustração de um cacho de uvas está rodeada de nomes de castas portuguesas (120, no total) chama a atenção à entrada, mas o grande ex-libris está lá ao fundo: uma imponente cisterna do século XVI, classificada, que se estende desde o tecto até abaixo do nível do piso – um pavimento em vidro alinha pelo chão do espaço circundante, possibilitando o experiência de passear por ali desafiando as vertigens.
Quase metade das provas solicitadas – com predomínio evidente de estrangeiros – são de Porto. E não se trata de uma prova qualquer: a prova premium de Vinho do Porto inclui um branco seco, um branco datado, dois Tawnies e um Ruby; mais seis variedades de queijos artesanais, outras tantas de enchidos de porco preto, presunto Pata Negra e compotas tradicionais. Os vinhos são sempre de marcas menos conhecidas – a Messias e a Dalva serão as relativas excepções a esta regra, mas, no caso da segunda, neste momento apenas com um vinho: o extraordinário branco Golden Light, de 1963.
Sinal dos tempos, Cláudia e Adriana assumem elas próprias a condução das provas, face à dificuldade de encontrar pessoal especializado que lhes garanta esse serviço… Não ficam os clientes a perder, por certo. Afinal, e apesar de na maior parte dos casos já serem os produtores a pro¬curá-las para colocarem os seus vinhos, são elas que provam e seleccionam todas as referências que são servidas aqui. Sempre com aquele prazer secreto de descobrir um olhar de espanto em quem leva o copo à boca.
Aberto de terça a sábado, das 15h às 23h.
Há provas diárias às 15h30 e às 17h30 que requerem marcação. Mas pode-se sempre solicitar uma prova à entrada. A Prova Premium de Vinho do Porto custa 65 euros por pessoa.

RUA DA BARROCA, Nº13, LISBOA
TEL: 218 260 132 | 919 292 151 | 914 310 744
E-MAIL: alex@lisbonwinery.com | adriana@lisbonwinery.com

Edição Nº27, Julho 2019

 

Ali bem perto, também no Bairro Alto, fica o “veterano” dos espaços visitados pela nossa reportagem: o Grapes & Bites abriu portas (e garrafas) em Setembro de 2010. É um espaço de referência no panorama nacional e a sua atenção específica ao Vinho do Porto fica desde logo bem patente na decoração da casa, com pipas a servirem de mesas, garrafas por todo o lado e um armário fechado onde repousam algumas relíquias.
Aproximemo-nos. Estão aqui, ou espalhadas por outras prateleiras e no balcão, ícones como o Scion, da Taylor’s; o Ne Oublie, da Graham’s; Burmester de 1937; Kopke do mesmo ano; Real Companhia Velha 1938; Noval Nacional 2004… Os preços de algumas destas garrafas ascendem aos quatro dígitos – isso mesmo, milhares de euros. Serão algumas das excepções mencionadas pelos responsáveis da casa quando garantem que “quase todos os vinhos podem ser pedidos a copo, excepto alguns casos especiais”. Mas há duas dezenas de referências de Porto na carta, a que se junta uma escolha de vintages e colheitas mais abrangente. E, já agora, o Porto “da casa”, o Branco Grapes & Bites by Andresen.
Também aqui os estrangeiros estão em maioria, apesar de se “notar evolução no interesse dos portugueses pelo Vinho do Porto”, assume Sílvia Mendes, uma das proprietárias. A procura crescente de refeições para grupos no Grapes & Bites, que integra um hostel nos andares superiores, levou à alteração do menu e à configuração do espaço, que se assemelha mais a um restaurante. Mas o forte continua a ser o vinho, com centenas de referências à prova.
O ambiente da sala oscila entre a linha mais moderna das mesas e cadeiras e o toque arcaico das arcadas e pilares que sustentam o tecto. Pelas paredes alinham-se expositores cheios de garrafas, que também se encontram no interior das quatro pipas transformadas em mesas e por cima do balcão, ao fundo da sala. Por aqui organizam-se provas comentadas, almoços vínicos (um por mês), toca-se regularmente música ao vivo.
Há pouco mais de dois anos, surgiu a oportunidade de complementar o Grapes & Bites com mais um espaço. Nasceu assim, no Cais do Sodré (Rua de S. Paulo), The Wine Cellar, um estabelecimento mais pequeno e intimista, com clientela mais diurna e mais portuguesa. A grande superfície vidrada chama a atenção de quem passa e a oferta, sendo menos exuberante do que a da casa-mãe, também pode rapidamente beneficiar da proximidade física dos dois espaços. Em cinco minutos, qualquer garrafa “faz a viagem” a pé…
Aberto todos os dias, das 14h às 2h. Centenas de referências à prova, a maioria das quais com serviço a copo.

RUA DO NORTE, Nº81, LISBOA
TEL: 919 361 171
E-MAIL: info@grapesandbites.com

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