Tintos de Verão: Enfrentar o calor em tons carmesim

Há, cada vez menos, um padrão entre os tintos sobre os quais acabamos a dizer que ficariam mesmo bem a acompanhar umas sardinhas ou uma pizza. A relação do vinho com uma temperatura de serviço mais baixa, a expressão da fruta, a estrutura e os taninos são alguns dos elementos que entram na equação quando o assunto é beber tinto em tempos quentes.

Mas então, o que pode ser, no copo, um tinto de Verão? Em linhas gerais, um vinho que a nível de corpo se encontre entre o leve e o médio, no qual a relação entre boa acidez e estrutura resulte em frescura natural (ou seja, numa aparente frescura ainda antes de lhe baixarmos a temperatura), que tenha aromas expressivos e taninos suaves.

E na produção, como é que isto se consegue? Resumindo, pode depender de vários factores, conjugados ou não, sendo os mais comuns as castas (ou casta) utilizadas, que originem, só por si, tintos mais leves e com menos cor; a localização da vinha a uma maior altitude; ou uma vinificação menos extractiva. Voltando ao resultado no copo, a boa estrutura é muito importante porque, se não existir, quando refrescarmos o vinho, este vai saber a pouco, como aconteceu no início da febre dos Pinot Noir portugueses, há uns 7 ou 8 anos atrás, em que muitos deles pareciam uma água tingida a vermelho com acidez. Felizmente, isso rapidamente mudou e hoje fazem-se belíssimos Pinot Noir em Portugal, sobretudo nas zonas litorais e com mais influência atlântica.

AdegaMãe (Torres Vedras), Casal Sta. Maria (Colares) ou Vicentino (Zambujeira do Mar), são alguns dos produtores portugueses com Pinot Noir deste perfil mais leve, e muito bem executados. Mas nem só de Pinot Noir se fazem tintos bons para a estação estival. Nos últimos anos, alguns enólogos com raízes minhotas têm vindo a recuperar um perfil tradicional (em bom…) de vinho tinto da região dos Vinhos Verdes, como é o caso de Anselmo Mendes, Constantino Ramos ou Márcio Lopes. Estes tintos são feitos de castas antigas ou já raras, algumas encontradas em vinhas velhas em ramada, como Alvarelhão, Borraçal (Cainho tinto), Doçal, Pedral, Verdelho Feijão (Verdelho tinto) ou Vinhão.

Já no Douro, um tinto de Verão é, acima de tudo, proveniente de zonas altas ou fruto de uma menor extracção. Exemplo da primeira realidade é o Andreza Altitude, que nasce no planalto de Alijó, em vinhas localizadas acima dos 450 metros. Já o Poças Fora da Série Vinho da Roga é produto de uma menor extracção e maceração.

Não adstritos a uma região específica, também os tintos claretes merecem aqui menção, obtidos através da mistura de castas tintas e brancas, com regras que diferem de região para região. Do Tejo, o Quinta da Lapa Retro é um lote de Castelão e Fernão Pires, fermentados em conjunto, com as películas. Da Bairrada, o Luís Pato Vinhas Velhas é mais uma demonstração da versatilidade da Baga, aqui numa personalidade silvestre, fresca e suave.

Temperatura é chave

A temperatura a que se deve servir um tinto de Verão, ou no Verão, depende do perfil do vinho, mas a regra geral é “refrescar sempre”, não só para o efeito directo de frescura ao beber, mas também para que possamos diminuir a percepção alcoólica do vinho e tensionar-lhe a estrutura, dando-lhe aquele “grip” que (quase) nos mata a sede. A vantagem é que não há como errar, porque um tinto que esteve demasiado tempo no frio, aquecerá rapidamente no copo nesta altura do ano. Numa faixa dos 11º aos 16ºC, mais coisa, menos coisa, e de forma simplificada e facilmente compreensível, puxamos os mais translúcidos e expressivos para baixo e os mais escuros e complexos para cima, mas sempre jogando com o nosso gosto pessoal. Para quem gosta de fazer a olho, (como eu, na verdade) num frigorífico comum, 30 a 45 minutos antes de servir (aqui depende do estilo do tinto mas também da grossura do vidro da garrafa), será óptimo.

No fim de contas, tudo isto são apenas directivas para potencialmente melhorar a experiência. Esta é a magia do vinho: a regra dentro da ausência da regra. Porque um bom vinho para um determinado momento, é o vinho que nós quisermos e, sobretudo, aquele que nos souber bem.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)

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