O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus solos graníticos.
A agricultura é uma das principais atividades económicas do concelho. O azeite, a batata, a castanha, o trigo, a fruta e claro, o vinho, são as principais produções agrícolas, sendo também importante a criação de gado. A cultura da vinha e do vinho, para além da importância histórica, assume também uma excecional importância social e económica, pela variedade e relevo das atividades que lhe estão ligadas. O nome de Valpaços, segundo alguns historiadores, é um derivado precisamente do vinho produzido neste vale durante o período Romano, denominado “vinho passum”, que seria um dos grandes vinhos do Império Romano. Daí o nome de vale passum, depois vale passos, hoje Valpaços. Curiosidades históricas que reforçam a aposta do grupo na região, “com o objetivo de fazê-la crescer de uma forma profissional e sustentada, associando o vinho aos enchidos e gastronomia”, reforça o administrador Álvaro Lopes.
A identidade da região
Tudo se iniciou em 2017 com a aquisição da Quinta Dona Adelaide, sala de eventos, ainda hoje palco para esse efeito, que será rebatizada Quinta Valle de Passos, concluindo assim o rebranding. Em paralelo é construído o hotel, cuja abertura coincide com a pandemia, em 2020. A compra da marca Valle de Passos e o lançamento dos primeiros vinhos culmina com a tão aguardada afirmação da presença do grupo Terras & Terroir na região de Trás-os-Montes. “Não conseguimos comprar a quinta e as uvas, mas ficámos com a marca Valle de Passos, identitária da região”, realça Álvaro Lopes. Na calha está previsto, junto ao Olive Nature, a construção de uma adega (neste momento as uvas são vinificadas em Montalegre) e a plantação de vinha própria. Para a criação dos vinhos Valle de Passos foi escolhido o enólogo Francisco Gonçalves, um dos técnicos que melhor conhece os terroirs e as castas de Trás-os-Montes, cuja vasta experiência na região é por demais reconhecida. “Queremos pegar no que é nosso e transportá-lo para a garrafa. Mostrar a identidade da região, pautando pela diferenciação através da utilização das castas que fazem parte dessa mesma identidade”, salienta o enólogo.
A Tinta Amarela e a responsabilidade social
Os vinhos são produzidos a partir de uvas adquiridas a viticultores selecionados. São cerca de 10 hectares de vinha, com predominância de Tinta Amarela, alguma Touriga Nacional e Tinta Roriz, enquanto a uva branca provém da freguesia de Carrazedo de Montenegro. A preocupação social é latente, pois trata-se de uma região com baixo rendimento económico, que vive da agricultura e tem muita dificuldade em escoar as uvas. “Pagamos melhor as uvas e ajudamos a alimentar famílias, comprando-as a quem não tem quem as compre”, conta-nos Hugo Fonseca, diretor de produção do grupo. Os primeiros quatro vinhos produzidos têm, por isso, matéria-prima de qualidade, tratada com carinho por quem é da região, com a casta Tinta Amarela como porta-estandarte. É a base de dois tintos e um rosé. O branco é feito de Gouveio, Arinto e Viosinho. “A Tinta, plantada em altitude e nestes solos, permite criar vinhos concentrados, mas simultaneamente leves, com enorme frescura”, destaca o enólogo Francisco Gonçalves. São quatro vinhos de uma boa estreia, que mostram o terroir. “Queremos que sejam vinhos daqui. Tal como os outros que produzimos noutros locais do país, é muito importante que falem o lugar. Esta região está pouco explorada, tem um elevado potencial e somos o primeiro grande grupo a apostar a sério em Trás-os-Montes”, refere Daniel Campos, diretor comercial do grupo. São vinhos gastronómicos, muito frescos, que acompanharam de forma brilhante o almoço preparado com mestria pelo chefe Adão Costa, harmonizando-os com uma seleção de iguarias transmontanas. “É muito importante apresentar qualidade nos vinhos entrada de gama. A base é fundamental para o cliente ficar agradado e querer experimentar novas referências”, remata Álvaro Lopes. E nós concordamos.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)