Uma apresentação feita por Cristiano tem sempre um carácter especial. É que o apresentador – que parece ter nascido com a qualidade rara de saber prender a atenção da plateia – pertence àquele grupo de pessoas que tem a árvore genealógica da família na cabeça e debita nomes de primos que casaram com trisavós e tetravós que já eram Cristianos e que deram origem a Guedes, a Roquettes e várias outras famílias que ainda hoje identificamos como estando associadas ao vinho e, em especial, ao vinho do Porto. É difícil seguir o raciocínio, mas a coisa resulta curiosa, desde que não se acredite que, não fora os van Zeller, e o vinho do Porto não existiria!!!
Especiais e raras
O motivo da apresentação prendeu-se com colocação no mercado de vinhos do Porto muito velhos. Esta é uma tendência que vem ocorrendo no sector de desde há mais de uma década: valorizar os vinhos muito velhos, vendê-los caros como merecem e, no caso das edições realmente especiais e raras, criar uma embalagem que dignifique o produto. Foi tudo isso que a família van Zeller fez e, no caso dos três vinhos do Porto do século XIX, com o apoio dos artesãos que tão bem trabalham a prata, como a Leitão & Irmão, cuja oficina e trabalho extraordinário tivemos a rara felicidade de poder conhecer in loco. Ali ficámos a conhecer maquinaria que deve ter muitas décadas e que continua em uso, e artesãos que precisam de 10 anos de trabalho para ascenderem à categoria de Mestre. Uma trabalheira! Foi ali que foram feitas as gargantilhas das garrafas.
Por sua vez, estas foram feitas à mão, um trabalho já raro dos vidreiros da Atlantis. O resultado são embalagens magníficas que enobrecem os vinhos que contêm, melhorados pelo trabalho de design criado por Rita Rivotti. Provámos todos e, claro, não há escala para os classificar porque a escala que usamos na Grandes Escolhas termina em 20. Mas se terminasse em 100 ou 200, a dificuldade era a mesma. Os três vinhos são vendidos em conjunto, numa caixa extremamente cuidada e são disponibilizados pelo valor de €22000. Para já são 75 conjuntos, sendo que uma já foi leiloada no ano passado, em Londres, e o valor foi destinado para a fundação Gerard Basset. São vinhos difíceis de datar por não haver registos, ainda que se pense que correspondem a Porto de 1860, 1870 e 1888. Aqui começaram as dúvidas da família: o que é que lhes vamos chamar, como é que os vamos vender, o que se pode fazer para reforçar a qualidade e fama dos portos velhos?
Para encontrar um momento comemorativo, Cristiano e Francisca procuraram, quer na história de Portugal quer na mundial, factos que pudessem ser associados àquelas datas. Chegaram assim a três momentos que identificam os vinhos: 1860 – Crafted by Liberty – ano da eleição de Abraham Lincoln; 1870 – Crafted by Family – ano do casamento dos trisavós de Cristiano e 1888 – Crafted by Poetry – ano do nascimento de Fernando Pessoa. Os outros vinhos – Colheitas em branco e tinto – vêm todos com a indicação Crafted by Time. Quando são lançados Vintages e LBV (que já estão no mercado e foram objecto de anterior apresentação) trazem a indicação Crafted by Nature.
Stock mínimo
A Van Zeller & Co. é, agora, depois da reorganização de 2017, um negociante, com stock mínimo. No caso dos vinhos do Porto antigos, cujas notas de prova apresentamos de seguida, a empresa dispõe de um stock de 35000 litros, adquiridos quer à Casa do Douro, onde continua a existir um enorme stock de vinhos, quer a lavradores, sobretudo do Baixo Corgo, a sub-região onde continua a ser possível encontrar vinhos velhos. Estes vinhos estão conservados em inox, recipiente óptimo para estes néctares antigos, porque não há evaporação e os vinhos não perdem álcool.
Em termos de modelo de negócio, os vinhos DOC Douro representam metade da facturação da empresa. Como nos disse Cristiano, “o vinho do Porto ganha protagonismo com os vinhos velhos.
Numa época de diminuição de consumo, o sector tem de apontar para as gamas altas e não apenas para os vinhos de entrada.” A empresa vai lançar agora os Reservas – White, Ruby e Tawny e um Crusted – um Porto que resulta de um lote de vários anos de Vintage, por norma dois ou três. Cristiano afirma que o sector apenas produz 4000 caixas de 12 garrafas deste tipo de Porto. A apresentação decorreu nas instalações dos Joalheiros em Lisboa, no Chiado. Local mais do que apropriado.
(Artigo publicado na edição de Setembro 2024)
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Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1934 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1935 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1940 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1950 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1968 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1976 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1989