Não é ponto-cruz, não é macramé… é Tricot e Crochet. Dois vinhos que são produto da amizade, mas sobretudo criação de duas das enólogas mais talentosas de Portugal, Sandra Tavares e Susana Esteban. Agora nas colheitas 2017 e 2019, respectivamente.
Texto: Mariana Lopes
Fotos: Esteban e Tavares Vinhos
Sandra Tavares nasceu nos Açores e cresceu na região de Lisboa, e Susana Esteban nasceu em Tui, Espanha, mas, em 1999, o destino ditou que se encontrassem no Douro, altura em que eram duas das raras mulheres a fazer vinho nesta região, ambas integrando a equipa de enologia de projectos de renome: Sandra na Quinta Vale D. Maria e Susana na Quinta do Côtto e, posteriormente, na Quinta do Crasto. Hoje, além de enólogas consultoras noutras empresas, têm as suas próprias, a primeira com a casa de família em Alenquer, Quinta de Chocapalha, e com a Wine&Soul, em Vale de Mendiz, no Douro (ao lado de Jorge Serôdio Borges); e a última com o projecto homónimo em Portalegre, na Serra de São Mamede. Pelos anos de vivências em conjunto, floresceu a amizade, e dela a ideia de criar um projecto comum. Assim, em 2011, nasce a Esteban e Tavares com um tinto do Douro, o Crochet, o primeiro a materializar o conceito da dupla: transmitir o terroir ao máximo, fazer um vinho que, quando provado, se revelasse inequivocamente “Douro”, neste caso de vinhas junto ao rio Torto. A imagem do Crochet, desenvolvida em conjunto com Rita Rivotti, foi inspirada, segundo as próprias, “num universo muito feminino onde, naturalmente, duas mulheres se juntam para fazer… Crochet!”. E foi três anos depois, em 2014, que esta visão se estendeu a mais um tinto, o Tricot, desta feita com origem no Alentejo, em Portalegre, também com o objectivo de comunicar esta sub-região através de uma garrafa de vinho.
Já com várias edições de cada, o Crochet e o Tricot entram agora no mercado nas colheitas de 2019 e 2017, respectivamente, e o lançamento à imprensa foi feito com uma prova vertical de cada um, onde foi claramente possível perceber a consistência de perfil dos vinhos, todos com carácter muito vincado. Começou-se pelo Tricot, cujo 2014 se mostrou ainda bem jovem, muito fresco na fruta silvestre, com pimenta branca, vegetal delicado e um lado balsâmico. Super tenso, elegante e poderoso em simultâneo. Já o 2015 apresentou-se mais mentolado, perfil de bosque, pureza e frescura na fruta. Bem intenso, suculento e estruturado. O 2016 surgiu sedutor no nariz profundo, com muita especiaria, agulha de pinheiro, contido mas puro na fruta, com uma tensão gigante. O primeiro Crochet da prova foi o 2012, cheio de fruta e de sabor, também esteva, com um lado lácteo muito atractivo. O 2015 revelou o mesmo perfil lácteo, tanto no nariz como na boca, fruta bastante suculenta, envolvente, e com imensa presença de boca. Na mesma linha mas mais balsâmico e com levíssimo floral e fruta pura no nariz, o 2017 apareceu super elegante na boca e com muita frescura e intensidade de conjunto.
O Tricot 2017 — que originou 2900 garrafas de 75cl — tem, tal como as colheitas anteriores, 50% de vinha velha da Serra de São Mamede, com castas tradicionais, e 50% de Touriga Nacional. Fez maceração pós-fermentativa em inox e o estágio foi de 18 meses em barricas de carvalho francês, 30% novas e as restantes usadas. Já o Crochet 2019 — com 3360 garrafas 75cl e 300 magnum — tem no lote 50% de Touriga Nacional, 40% de Touriga Francesa e vinhas velhas. Também fez maceração pós-fermentativa, durante quatro semanas, e estagiou em barricas de carvalho francês, 20% novas e 80% de segundo e terceiro ano, durante 18 meses.
(Artigo publicado na Edição de Abril de 2022)