O rio define a região de vinho a norte de Lisboa, que se estende Tejo acima até Tomar. Resultado de uma restruturação de nome em 2008, da qual resultou uma identidade centrada no rio e seu nome: é a Indicação de Proveniência Regulamentada Tejo e a Denominação de Origem Protegida DoTejo. Os seus 12 mil hectares de vinha produzem 65 milhões de litros de vinho, dos quais 30 milhões são certificados, 90% como Regionais e 10% como DOC.
Havia várias DOs na região, mas em 2008 passaram a ser admitidas como sub-regiões, que, na verdade, são raramente usadas ou comunicadas pelos produtores. São elas Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém e Tomar. Na verdade, a CVR, liderada desde 2014 por Luís Castro, tem enfatizado os três terroirs mais marcantes da região: o Bairro, o Campo e a Charneca. A CVR encomendou estudos que levaram a que a zona de maior altitude, perto de Tomar, se vá tornar, em breve, na quarta subdivisão da região do Tejo.
Esta é a melhor prova de vinhos tintos do Tejo alguma vez feita.
Vinhos de grande nível
A grande batalha do Tejo nas últimas décadas tem sido a conversão da região para a produção de vinhos de qualidade. Luís Castro, como muitos outros na região, defendem que essa batalha está ganha há muitos anos, mas o consumidor não tem essa percepção. A CVR tem feito o seu papel, os produtores também, mas o consumidor não vê o Tejo com os mesmos bons olhos de outras regiões, e quer dali vinhos bons e baratos. Não estou necessariamente de acordo com essa visão. Penso que o Tejo deu passos em frente, mas depois estagnou durante alguns anos, e navegou com alguma complacência as águas da qualidade, quantidade e percepção. A aritmética da escola primária chega para perceber que se pode ganhar mais dinheiro com um vinho mais caro, e muito mais dinheiro com uma quantidade grande desse vinho. Mas isso já não importa, porque esta prova me mostrou que essas dúvidas foram resolvidas. Já há alguns anos que vejo os melhores tintos do Tejo a alcançar uma dimensão até há poucos anos impensável e, neste momento, vejo uma quantidade já significativa de produtores a contribuírem com vinhos de grande nível. Ou seja, bem-vindo, Tejo!
Nos vinhos brancos, a casta rainha é a Fernão Pires, com cerca de 80% do encepamento. Os enólogos foram percebendo melhor a casta e suas especificidades, e conceberam soluções para melhorar os vinhos, fosse em lotes com outras castas, fosse entendendo melhor e adaptando a produção a cada terroir. Nos tintos sempre houve mais variedade. A casta mais plantada é o Castelão, seguida da Trincadeira. Também há muita Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alicante Bouschet e Syrah. Mas neste segmento dos topos de gama, o Castelão, e até a Trincadeira, aparecem apenas residualmente. Por outro lado, aparece com alguma frequência a Touriga Franca nos lotes. Também neste capítulo, o Tejo se redefine. Obviamente, para os topos de gama é usual o estágio em barricas de carvalho, novas ou usadas. Fiquei muito contente de verificar que eram poucos os vinhos com graus alcoólicos muito elevados. A região é muito quente, mas há já talento para controlar as maturações excessivas. Em geral, os vinhos mostraram muita qualidade e apelo, com vários a apresentar notas excelentes e muita adaptação à mesa.
Uma região precisa das suas estrelas, e são essas que puxam tudo para a frente.
Afinado e sedutor
Falei com Pedro Pinhão, enólogo da Quinta da Lagoalva de Cima, que me explicou que o vinho na casa, como em muitas outras do Tejo, é apenas mais uma das múltiplas culturas. Eventualmente, isso atrasou a tal mudança da ênfase da quantidade para a qualidade. Hoje em dia há mais experiência, maior foco na vinha e nos vinhos, melhor divisão de tarefas e pessoal mais especializado. A Lagoalva esteve na primeira linha dos vinhos do Tejo logo a partir dos anos 1990, e mostra hoje este topo de gama muito afinado e sedutor.
Não se viu nesta prova, mas a minha experiência com os vinhos do Tejo mostra-me um salto em frente também nas entradas de gama. A região trabalhou para oferecer vinhos com boa relação qualidade preço em todas as gamas, e o tal déficit de percepção de qualidade, de que Luís Castro falou, foi combatido com uma abordagem mais focada na exportação, onde essa percepção não existia. Segundo ele, a CVR apoia também os seus produtores com aconselhamento de críticos internacionais, como Charles Metcalfe ou Dirceu Vianna, e ainda visitas a produtores concorrentes nas feiras internacionais.
Olhando os resultados da prova, vemos claramente essa qualidade marcada por preços bem acessíveis, mas vemos também vinhos cujo preço começa a subir bastante. Não vejo isso como negativo, mesmo que isso nos faça poder bebê-los menos vezes. Uma região precisa das suas estrelas, e são essas que puxam tudo para a frente. Vejo ainda, e por agora, independentemente dos diferentes lotes de várias castas, uma certa uniformidade de estilo neste topo da pirâmide da qualidade. Creio que isso faz parte da evolução de uma região, como o temos visto noutras, onde já nos habituámos a constatar qualidade de primeira água. Creio ainda que o próximo passo é vermos diferentes produtores, alguns deles mais pequenos e mais ousados, fazerem topos de gama mais especiais, mais diferenciados, onde o terroir vai ser explorado mais em profundidade, cada vinho mostrando individualidade. Em alguns desses casos o avanço vai dar-se para trás, ou seja, vai haver netos que regressam aos modos dos seus avós, mas com a sua visão mais moderna, mais apoiada na técnica e na ciência. Isto ou eu a adivinhar novos e excitantes caminhos para o Tejo. São bons tempos os que vivemos.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)
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