Novos ventos em Bucelas (e não são do mar…)

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Os ventos são uma das condicionantes desta pequena região e uma das razões da sua originalidade. Mas agora, além desses que sopram desde sempre, há novos intervenientes e mais projectos. Boas novidades numa DOC que já esteve moribunda, mas que soube honrar a demarcação que teve lugar no início do séc. XX.

TEXTO João Paulo Martins

Bucelas já foi terra de saloios e lavadeiras, mas agora vê a grande urbe aproximar-se cada vez mais, deixando assim de ser um destino dos lisboetas que em tempos ali iam à procura do ar puro e da verdadeira “vida de campo” que rejuvenescia e retemperava. Era a “ida às hortas”, o passeio favorito dos residentes na capital, celebrado por Júlio César Machado, autor do séc. XIX que escreveu sobre a cidade de Lisboa e terras circundantes. Também Batalha Reis se referia a ela, em 1945, em termos que não deixavam margem para dúvidas: «… Bucelas poderá ainda fornecer uma refeição cheia de cor local: a merenda de bom pão saloio, queijo de ovelha, um copo de «Bucelas»…sob a latada da locanda acolhedora. Alguns se lembrarão das petisqueiras que o Eça e o Antero faziam na Rabicha, com os seus amigos. O cenário era idêntico…». A fama que Bucelas então tinha é a mesma de que desfruta hoje: terra de vinhos brancos (e só de brancos) e pátria do Arinto. Quanto à primeira parte, é de notar e relembrar que se trata da única região portuguesa dedicada exclusivamente aos brancos. Naturalmente que aos produtores é permitido o cultivo de castas tintas mas os vinhos daí resultantes apenas se poderão designar Regional Lisboa e não DOC Bucelas; quanto à segunda parte, as novas achegas científicas ao estudo das castas que têm em conta a variabilidade genética, permitiram concluir com muita certeza que a casta Arinto terá nascido mesmo em Bucelas e que foi dali que terá partido para outras zonas vitícolas do país. Em tempos, empiricamente, havia quem encontrasse semelhanças com a alemã Riesling sugerindo que poderia ter sido importada da pátria alemã ou, ao invés, levada de cá para lá pelos cruzados quando regressavam do Oriente. É tema para académicos.
A fama do Bucellas (aqui com a grafia antiga) foi celebrada por Shakespeare no séc. XVI e Eça de Queiroz no XIX, que o escolhia nas suas patuscadas com os amigos, e foi reconhecida pelo grande conhecedor e estudioso das castas portuguesas, Cincinnato da Costa, que já em 1900 se referia à casta desta forma elogiosa: “o Arinto é uma das castas brancas mais notáveis de Portugal, tendo o seu verdadeiro solar em Bucellas e comarcas vinhateiras próximas”.
Não é assim de estranhar que Bucelas tenha sido incluída no primeiro pacote de demarcações que tiveram lugar a partir de 1908, altura em que, passados mais de 150 anos sobre a primeira demarcação pombalina, o poder político (então ainda na monarquia) se decidiu a dar luz verde a novas regiões demarcadas. Nesse movimento, que se estendeu pelos anos imediatos, foram demarcadas também Carcavelos, Colares, Vinho Verde, Vinho da Madeira, Dão e Moscatel de Setúbal. No caso de Bucelas apenas se concretizou em 1 de Março de 1911, quando saiu o Regulamento para o Comércio do Vinho de Pasto de Bucelas.
A originalidade da região – e que justificou a demarcação – prende-se com dois factores: o solo e clima. Por um lado, temos solos argilo-calcários de encosta que autorizam vários tipos de orientação e localização das vinhas; esses solos são pobres em matéria orgânica originando por isso produções baixas e vinhos com boa concentração. No que diz respeito ao clima, Bucelas, ligada ao vale do rio Trancão, goza de uma localização privilegiada, numa espécie de corredor que liga o oceano atlântico à lezíria do Tejo, recebendo do mar os ventos frescos e do rio os nevoeiros que permitem um Inverno bem frio e boas amplitudes térmicas dia/noite no Verão, com consequente perfeita maturação das uvas.
Ainda assim é possível distinguir duas zonas distintas: as vinhas que se situam ao longo das várzeas do rio Trancão, como a Quinta do Boição (Enoport) e Quinta do Avelar, zonas mais férteis e com maturações mais tardias; e em encostas suaves que ladeiam o rio – Quinta da Romeira, Chão do Prado e Quinta da Murta – zona menos produtiva e com maturações mais precoces. Independentemente da localização das vinhas, o Arinto assegura sempre mostos com elevado teor de acidez, o que de resto faz dela a casta mais viajante, estando por isso presente em todas as regiões, quase sempre usada em lotes, exactamente para dar mais acidez e vivacidade ao vinho. É variedade exigente com a poda e a gestão da canópia porque, em situações-limite, pode ir, das normais 7 a 9 toneladas por hectare, até mais de 20, quando não perto de 30 toneladas, assim se lhe dê alimento e se deixe que produza o que entender.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”parallax_image_grid” images=”35296,35297″][vc_column_text]

A chamada região saloia, em redor da capital, conservou até muito tarde as suas tradições rurais.
(Fotos: CM Torres Vedras)

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A história da região está intimamente liga à figura de um armazenista que se tornou o principal vinificador de Bucelas durante muitas décadas do século passado: João Camillo Alves, negociante com vinhos de marca própria que alimentaram muitas mercearias e carvoarias da cidade, fundador da Caves Velhas. Durante décadas, Camillo Alves era o único que tinha no mercado vinhos DOC Bucelas.
O estilo antigo dos Bucelas pouco tem a ver com o de hoje. Ferreira Lapa, em 1868 (citado na Enciclopédia dos Vinhos da Estremadura, de João C. Ghira, 2004), lamentava-se das adulterações que já então se faziam em nome do Bucelas e acrescenta que, “É necessário ir ao solar d’esta especialidade, para reconhecer até que altura de afinamento e de nobreza chega este bello vinho, quando se lhe mantem a pureza primitiva, e se deixou ao tempo e somente ao tempo acrysolar-lhe o perfume e a côr, o nervo, o aveludado e a suave substancia do seu delicado sabor”. (Nota à margem: fica-nos a dúvida se isto não é vício nacional…!)
O tal estilo antigo era então um vinho longamente estagiado em tonel avinhado, adquirindo assim cor dourada, aroma evoluído e, ao gosto da época, um perfume de vinho velho que o distinguia de quaisquer outros brancos. Em finais dos anos 80 do século passado, quando apenas e só a Caves Velhas tinham vinho no mercado, era este o modelo seguido, sobretudo para o seu Garrafeira: um vinho vendido com muitos anos e após longo estágio em tonel. Este perfil, de que provámos agora um exemplo, não teve continuidade. Por várias razões: não só porque nos inícios de 90 a Quinta da Romeira iniciou, com o saber técnico de Nuno Cancela de Abreu, a produção com um perfil totalmente novo, feito em inox e vendido jovem, como também o próprio gosto mudou e, na década de 90 era o momento de provar coisas novas, mais frescas e feitas com melhor tecnologia. Hoje a Enoport abandonou aquele conceito embora se saiba que na região haja quem agora aposte em estilos que vão ter pontos de contacto com o antigo Bucelas. A aguardar.
A obtenção de números sobre a região de Bucelas não é fácil. O website da CVR Lisboa (entidade que tutela Bucelas) parece ter parado no tempo, com dados estatísticos não actualizados desde 2010 e terminologia que hoje já não se usa. Se é para ser útil a quem procura informação, o site está a anos de luz de cumprir a função. Procurando e coligindo dados em múltiplas outras fontes, é possível, no entanto, fazer uma radiografia da Bucelas de hoje.
Durante muito tempo, digamos de 1990 para cá, a produção local nos 150 ha demarcados esteve quase confinada a 3 produtores: a Quinta da Romeira (o maior operador da região), a Enoport (que tem cerca de 39 ha de vinhas próprias) e a Quinta do Avelar, propriedade enorme que pertenceu a João Camillo Alves e cujas vinhas já têm mais de 40 anos de idade (enólogo Mário Andrade). Mais recentemente entraram novos operadores, como a Quinta da Murta (14 ha de vinha), Viúva Quintas (cuja propriedade data do séc. XVII) e novas marcas que não correspondem necessariamente a novos produtores, mas são antes o resultado de uvas (ou vinho) adquirido aos principais operadores. A mais recente chegada à região foi a Sogrape que adquiriu a Quinta da Romeira (65 ha), marcando assim presença pela primeira vez na região de Lisboa. Falámos com António Braga, o enólogo que passa a ter a responsabilidade técnica dos vinhos da quinta. A entrada é cautelosa, como nos diz Braga: “para já a ideia é manter o portefólio como está, apostar na valorização das marcas Morgado de Sta. Catherina e Prova Régia e mais tarde, após o mapeamento dos solos e melhor conhecimento do que temos, podermos então pensar em mais produtos e eventual supressão de marcas.”
A Enoport está, como nos foi informado, a proceder à aquisição de pequenas parcelas que podem (ainda que seja insuficiente) alargar a área de vinha da empresa, uma vez que neste momento já se sente a falta de terra para as necessidades. A empresa desactivou todas as suas instalações em Bucelas, tudo está agora no mercado imobiliário, e mudou a operação para a sede, em Rio Maior. Há depois um conjunto de produtores/enólogos (Nuno Cancela de Abreu, Nuno do Ó, Hélder Cunha) cujas marcas no mercado resultam de uvas adquiridas aos operadores existentes, não sendo por isso resultado de produções próprias.
Pouco se fala agora das outras duas castas que tradicionalmente faziam companhia ao Arinto: Esgana-Cão e Rabo de Ovelha. No entanto, Paulo Laureano – enólogo no Alentejo que tem uma parceria com o produtor Paneiro Pinto (marca Chão do Prado), não hesita em enaltecer as virtudes destas duas variedades: a primeira que “tem qualidades excelentes para a produção de espumantes, por exemplo, e a segunda que aqui tem um comportamento muito diferente do Alentejo, para muito melhor, nem parece a mesma casta”. Dois filões por explorar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”35300″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Dar o salto em frente

Nos vinhos que nos chegaram para prova merecem referência alguns que já estão em fim de linha. É o caso do Quinta do Boição 2001, um branco de Arinto desarmante porque a cor sugere um branco morto, mas o aroma ainda se mostra muito expressivo com todas as virtudes de um branco velho. O mesmo aconteceu com o Garrafeira Caves Velhas 1998, uma categoria que a empresa vai descartar e que mostrou (tive sorte com a garrafa…) estar deliciosamente evoluído e a dar prova muito interessante. Nos vinhos de Paulo Laureano provámos também um branco 2015 que foi chumbado na Câmara de Provadores por “não ter carácter de Bucelas”. A atitude é típica: sai um pouco da norma (é o caso, mas o vinho está muito bem…) e, por receio e insegurança, chumba-se…
A região, para chegar a ter o papel de destaque que a história e a originalidade dos seus vinhos merecem, precisa de dar um salto em frente, tem de ser capaz de valorizar os seus produtos e deixar de vez o negócio do “vinho a pataco” que não serve ninguém. É que arintos há muitos e pelo país todo, mas como o de Bucelas só mesmo aqui. Há seguramente consumidores a quem esta mensagem pode ser passada e dispostos a pagar dispostos a pagar o preço justo (que necessariamente tem de ser mais elevado que o actual) por aquilo que lhe é servido. E a versatilidade da casta é bem grande, como o demonstram os vinhos espumantes que com ela se fazem e alguns vinhos de Colheita Tardia que também evidenciam o potencial e plasticidade da uva Arinto no seu terroir de origem, Bucelas.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]

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Edição Nº23, Março 2019

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