O Castelão de Ermelinda Freitas: Quinta da Mimosa e Leo d’Honor

Uma empresa que não tem parado de crescer em modo exponencial
desde o momento em que se lançou na venda de vinho com marca própria. Muito trabalho e empenho de quatro gerações de mulheres construíram a enorme reputação de que esta casa desfruta hoje. Duas das suas marcas homenageiam a uva castelão, casta emblemática da região de Palmela: Quinta da Mimosa e Leo d’Honor.

 

TEXTO João Afonso FOTOS João Neuman

A Casa Ermelinda Freitas foi criada em 1920 por Deonilde Freitas, a quem sucedeu Germana Freitas, que por sua vez deu o lugar a Ermelinda Freitas, mãe de Leonor Freitas, que hoje gere esta enorme empresa.

Quatro gerações de mulheres que se entregaram à produção de uva e vinho em Fernando Pó, um dos principais “terroirs” da uva Castelão em Palmela. Estas quatro gerações, com grande destaque para a última, representada por Leonor Freitas, são um exemplo do enorme empenho e perseverança que conseguiu inverter e transformar as origens rurais da família numa potestade vitivinícola nacional.

Em 1997, já com Leonor Freitas na gerência da firma, deu-se o pontapé de saída com o engarrafamento próprio e assim nasceu o primeiro Terras do Pó tinto. A partir daqui foi sempre a fazer contas de somar, não só na área de vinha como também na produção e venda de vinho. Aquela atinge hoje os 450 hectares e a venda anual de vinho (entre produção própria e vinho comprado) anda pelos 12 milhões de litros (bem longe do milhão de litros de 1997). No momento é a empresa que mais vinho vende na região de Palmela, detendo inclusivamente um importante cunho social ao comprar uvas a centenas de viticultores locais. Visitámo-la em busca de uma prova vertical dos seus melhores vinhos da casta Castelão.

Vinhas velhas para grandes vinhos
A minha primeira observação no caminho para a adega foi a quantidade de vinhas velhas de sequeiro plantadas em solos de areia branca, que me acompanharam por um par de quilómetros antes de chegar ao destino. Rasteiras, retorcidas, verdejantes num ano de seca extrema. “Tudo funciona aqui” – pensei. Logo depois vim a saber que a maioria destes tesouros vitícolas pertencem à casa Ermelinda Freitas.

É de duas destas vinhas, com muitas dezenas de anos de idade, que vêm os dois tintos 100% Castelão que provei e que representam a tradição e a vocação da casa.

Os Quinta da Mimosa vêm da quinta com o mesmo nome, onde se encontra uma vinha de Castelão com cerca de 60 anos de idade, e o Leo d’Honor de uma pequena vinha, designada por Vinha da Casinha, uma parcela que podia ser “mãe” da anterior.

A casta Castelão, ex-libris vitícola da família Freitas, que Leonor considera ser “uma importantíssima herança” dos seus antepassados, parece ter uma origem meio espanhola (Jaen branco) e meio portuguesa (Alfrocheiro).

É boa produtora e a videira e cacho são bem arejados, permitindo resistir bem aos fungos. Tem a película muito resistente ao escaldão, factor determinante nestes solos de areia branca que reflectem intensamente a reverberação solar. Apenas desilude quando a produção se excede. Nesse caso, temos vinhos com pouca cor e pouco grau e com um certo cunho verde e vegetal. Por isto mesmo, quando falamos em uva Castelão devemos equacionar também a sua produção.

Perguntei ao enólogo de Leonor Freitas, Jaime Quendera, qual era produção por hectare máxima desta casta antes de deixarmos para trás a qualidade de vinho. Quendera, que suspeito ter tanta habilidade para fazer vinho como para fazer contas, respondeu-me como sempre o fez, de um modo extremamente pragmático e objectivo: acima das 14 toneladas/hectare a uva não dá para nada. De 10 a 14 ton./ha dá para vinho até 1,99€; entre 6 a 10 ton/ha dá para vinho de 3 a 4€ e abaixo de 5 toneladas vamos para os vinhos de topo. Maior clareza é difícil – concluí. Os vinhos em prova vêm de vinhas velhas de sequeiro, da casta Castelão, com produções que por vezes não atingem as 4 toneladas por hectare.

Para Leonor Freitas, esta casta, que reserva para os seus vinhos de topo de gama, continua a ser a imagem principal da região e, se até há 3 anos plantavam outras castas (“porque só tínhamos Castelão” – refere), hoje voltam à casta paradigma de Palmela quando reestruturam vinhas velhas. Aqui também se opta por manter parte da área antiga intocada, de modo a manter uma área significativa de vinha velha para os melhores vinhos da casa.

Sabia que…
A casta Castelão é um ex-libris vitícola da família Freitas, que a considera uma “importantíssima herança”

Os dois tintos de Castelão
Ambas as marcas são lançadas a partir de 1999, e o Leo d’Honor só sai quando preenche os requisitos exigidos pelo enólogo Jaime Quendera. “Todos os vinhos de topo têm a sua filosofia, este tem de ser sempre um vinho maduro, com boa extracção e evolução longa em garrafa antes de ser lançado a público.” Foram apenas cinco as colheitas de Leo d’Honor até ao momento. O stock encontra-se esgotado e ainda não se sabe se vai haver 2013. A decisão sairá apenas para o ano.

O Leo d’Honor começou por ser feito em lagar, mas agora recorre às cubas para aumentar o período de maceração e a respectiva extracção. Ambos os vinhos estagiam em barrica nova de carvalho (a empresa possui mais de 4.000 barricas), sendo que o Quinta da Mimosa utiliza mais americano do que francês e o Leo d’Honor quase tudo francês. As malolácticas são feitas em cuba e o vinho vai para barricas apenas no Inverno. Um estágio de 18 meses para o Leo d’Honor e de cerca de metade disso para o Quinta da Mimosa.

Provámos todos os Leo d’Honor e os Quinta da Mimosa das colheitas em que não foi lançado o topo de gama. Os Leo d’Honor são sempre mais concentrados e tânicos do que os Quinta da Mimosa. Porém, cada um no seu estilo, encontrei elevada qualidade em ambas as marcas. E o carácter de Palmela e da uva Castelão bem vincados.

Na senda de José Maria dos Santos
De origem humilde, José Maria dos Santos tirou o bacharel em veterinária. Visitava amiúde a riquíssima viúva do Barão de São Romão, a Baronesa Maria Cândida Ferreira Braga (filha de outra importante fortuna – o capitalista Alexandre José Ferreira Braga), para dar assistência médica à sua cadelinha de estimação. A relação acabou por se tornar mais pessoal e veterinário e baronesa casaram-se.

José Maria dos Santos viria a revelar-se um extraordinário gestor de uma das maiores fortunas do Reino de Portugal de finais de oitocentos e início de novecentos, tornando-se um caso de estudo do empreendorismo agrícola da época. Plantou a maior vinha do mundo em Rio Frio, o maior montado na Herdade de Palma e o maior olival da Península Ibérica na colossal Herdade dos Machados. As vinhas, que se estendiam da Herdade de Rio Frio até ao Poceirão, junto a Fernando Pó, onde a empresa Ermelinda Freitas detém uma importante área de vinha, terão sido as primeiras com forte cunho comercial a serem plantadas nas areias.

José Maria dos Santos, secundado mais tarde por José Rovisco Pais na Herdade de Pegões, levaria até aos seus vastos projectos agrícolas centenas de trabalhadores/colonos oriundos do Litoral Centro e Baixo Mondego (chamados “Caramelos”), que desbravariam brejos para semear searas e grandes extensões de vinha, viabilizando uma importante área agrícola, até então nunca explorada.

Os antepassados de Leonor Freitas chegaram precisamente entre os colonos que iriam plantar as primeiras vinhas. Como ela própria refere: “Sempre fomos uma família de muito trabalho e resiliência; por vezes, quando penso em tudo o que fizemos para chegar até aqui, eu própria fico admirada.”

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