Quinta da Plansel: Pragmatismo alemão, alma alentejana

Montemor-o-Novo ficou mais rico em 1975, com o nascimento da Quinta da Plansel. Quem lá chegou vinha de fora de Portugal, com clones de videira na bagageira, e nunca mais quis sair. Hoje, este projecto continua próspero, e apresenta novas colheitas com imagem renovada.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Quinta da Plansel

É uma estória que já é história, e que muitos não conhecem. Hans Jörg Böhm —conhecido entre os portugueses por Jorge Bohm — é um alemão descendente de uma família ligada ao vinho há mais de 200 anos, sobretudo à comercialização, no estado da Renânia-Palatinado. Em 1961, há quase 60 anos, o seu veleiro naufragou no porto de Cascais e Jörg viu-se obrigado a desembarcar e permanecer durante algum tempo em Portugal. Aqui, o destino de toda uma família mudou. Böhm conheceu, por este acaso, várias paisagens portuguesas, apaixonou-se por elas e, quando retornou à Alemanha, foi com “termo certo”. Mais tarde, acabaria por regressar de vez, e em 1975, já como viveirista na área da viticultura, adquiriu uma propriedade em Montemor-o-Novo, aquela que viria a ser a Quinta da Plansel. Depois de muitos anos a estudar, aprofundar o conhecimento e escrever sobre as castas, as videiras e os clones (e até a aplicar todo esse conhecimento no terreno), foi-lhe conferido, em 2005, a Comenda de Mérito Agrícola, por parte da Presidência da República. A palavra “Plansel” é, precisamente, uma referência a Plan(ta) Sel(eccionada). “Portugal Vitícola – O Grande Livro das Castas” é a sua obra escrita mais aclamada no país e lá fora, mas Jörg, frequentemente encontrado na sua impressionante biblioteca na Quinta da Plansel, tem muitos outros livros publicados, uma bibliografia onde também se destaca o “Atlas das Castas da Península Ibérica”.

Plansel alma alentejana
Vinha da capela de Sta. Margarida.

 

Mas, não cabendo dentro de si toda a dedicação e paixão pelas castas portuguesas, Böhm acabou por transbordar tudo isso para a sua filha, Dorina Lindemann, que se formou em enologia e viticultura na Universidade de Geinsenheim, na Alemanha. Em 1996, Dorina criou o projecto de vinhos na Quinta da Plansel, e fez o primeiro vinho, 1500 garrafas do espumante Al-Xam, nome inspirado em Alentejo e Champanhe. Logo a seguir veio o primeiro Plansel, um tinto. Em 2004, juntou-se à equipa o enólogo Carlos Ramos que, juntamente com Dorina, ainda hoje faz os vinhos do já muito completo portefólio da casa, que inclui referências das marcas Marquês de Montemor, Plansel, DL, Capela de Sta. Margarida (bio) e também os topo de gama com os nomes de Dorina e das suas duas filhas, Luísa e Júlia, ambas já integradas no projecto, a primeira na enologia e viticultura e a última no marketing, publicidade e relações públicas.

A Quinta da Plansel é peculiar, tanto pela forte interligação com o estudo da planta, pela parte de Jörg, como pelo conceito imprimido nos vinhos por Dorina, mas também pela localização e características únicas da propriedade. O rio Almançor, por exemplo, atravessa a quinta a meio e, em época de chuva (que coincidiu com a nossa visita), para entrar lá entrar de carro é necessário passar por uma parte totalmente alagada. Outro pormenor assenta na impressionante colecção de arte do século XX, de Jörg, que ilustra o edifício por dentro e por fora, conferindo um “fun side” ao local. A Quinta em si tem cerca de vinte hectares mas, no total, a Plansel tem 75 hectares de vinha própria, divididos por três zonas, com a mais distante a apenas 10 quilómetros da Quinta, e a mais antiga com 30 anos de idade. Uma dessas três vinhas é biológica e tem, na mesma propriedade, uma capela do século XIII, de Santa Margarida, a mais antiga da região de Montemor. Plantadas por Jörg Böhm, as principais castas presentes no encepamento da empresa são as brancas Alvarinho, Arinto, Verdelho, Gouveio e Viosinho, e as tintas Touriga Nacional (a mais plantada), Aragonez, Tinta Barroca, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Castelão. A presença, a poucos quilómetros, da Serra de Monforado, protege estas vinhas dos ventos quentes de Verão, fazendo com que, naquele terroir, se façam sentir menos dois ou três graus centígrados (por vezes menos ainda) relativamente a Évora, o que é importante para as uvas.

Plansel alma alentejana
Jorge Böhm na sua impressionante biblioteca.

Os vinhos (segundo a equipa, feitos apenas das próprias vinhas), por sua vez, são totalmente “a cara” de Dorina, agora com nova imagem, da autoria do Atelier Rita Rivotti. A perdição da enóloga por castas originárias do Norte de Portugal, sobretudo pela Tinta Barroca, do Douro, tornam este projecto verdadeiramente diferente. A gama DL, por exemplo, inclui vinhos apenas de variedades nortenhas. Antes de provarmos algumas novidades, pudemos constatar em colheitas mais antigas — de 2007, 2010 e 2014 — que a Barroca tem ali o seu lugar, com uma qualidade e longevidade muito interessantes. Naturalmente, também as típicas do Alentejo têm muita importância, e a Quinta da Plansel continua a ter alma alentejana. E isso vê-se também na família que, apesar do “pedigree” alemão, está já muito enraizada na “região das planícies”. É bonito de se ver e de se beber, e vale a pena conhecer.

Plansel alma alentejana(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2021)

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