Quinta das Cerejeiras, um clássico de Portugal

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Criada em 1926 por Abel Pereira da Fonseca, Quinta das Cerejeiras é uma das mais antigas marcas portuguesas de vinho em actividade. Numa prova que abrangeu cinco décadas, os brancos e tintos desta propriedade de Óbidos justificaram a razão de ainda hoje se manterem uma referência da região de Lisboa.

TEXTO Luís Lopes

As propriedades agrícolas do Bombarral entraram na família pela mão de Abel Pereira da Fonseca, no início do século XX. Eram (e são) três quintas – Cerejeiras, Sanguinhal e S. Francisco –, que ocupam hoje 140 hectares, dos quais 100 de vinha. Para administrar estas propriedades, o fundador criou em 1926 a Companhia Agrícola do Sanguinhal.
A empresa dedicou-se desde sempre à produção e comércio de vinhos. Para o efeito, vinificava separadamente os vinhos da Quinta das Cerejeiras, do Sanguinhal e de São Francisco nas respectivas adegas, possuindo no conjunto uma capacidade em toneis e balseiros de madeira de carvalho e mogno acima dos dois milhões de litros, utilizados para a fermentação, armazenagem e envelhecimento de vinhos, licorosos e aguardentes. Estas últimas, vínicas e bagaceiras, eram destiladas num alambique próprio que ainda hoje, imponente, se mantém como uma das principais peças do núcleo museológico da empresa e do seu enoturismo, onde avulta igualmente um conjunto de lagares dotados das mais impressionantes prensas de vara que alguma vez vi.
Antes de se tornar agricultor, Abel Pereira da Fonseca atingiu estatuto ímpar enquanto comerciante de vinhos. A Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca detinha e explorava a maior rede de estabelecimentos de venda ao público no país, as lojas Val do Rio, de que chegaram a existir cerca de uma centena na zona de Lisboa e que vendiam vinho a copo, garrafa, litro e almude. Como curiosidade, registe-se que Fernando Pessoa era um dos seus clientes diários. Aos grandes armazéns Abel Pereira da Fonseca, situados na zona oriental da cidade, chegavam pelo Tejo, em fragatas, os cascos de vinho que abasteciam as lojas. Em 1937, Abel Pereira da Fonseca vendeu a sua posição na sociedade comercial para se dedicar em exclusivo às propriedades do Bombarral, e à Companhia Agrícola do Sanguinhal, que continua nas mãos de seus netos e bisnetos.
Também na vertente agrícola, Abel Pereira da Fonseca foi inovador. No Bombarral, plantou as primeiras vinhas estremes da zona – ali a tradição era plantar as cepas no meio dos pomares e misturadas com as árvores de fruto. As suas vinhas eram igualmente alinhadas e aramadas, uma inovação numa época em que a mecanização ainda não tinha chegado à região, e divididas em talhões monocasta. A adaptação de novas castas ao clima atlântico do Bombarral foi uma das suas preocupações e na Quinta do Sanguinhal fez plantar o talhão das “Experiências”, com mais de 30 variedades diferentes.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”34096″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Marca com história
As vinhas da Quinta das Cerejeiras contabilizam actualmente 15 hectares, em diferentes talhões, e estão plantadas em encostas suaves, de solo argilo-arenoso e expostas a sul. As principais castas são as brancas Arinto, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Fernão Pires e as tintas
Castelão, Touriga Nacional, Aragonez e Syrah. No entanto, não há muito tempo, a variedade branca Vital e as tintas Tinta Miúda e Carignan mantinham presença significativa nos vinhedos.
O lote clássico do Quinta das Cerejeiras Clarete tinto assentava, aliás, no Castelão, na Tinta Miúda e no Carignan. A mais antiga colheita de que há registo e rotulagem é a de 1926, e a menção “Clarete”, que durante muitas décadas se manteve nos rótulos, nada tem a ver com a cor do vinho, mas sim com uma “colagem” aos tintos de Bordéus, que eram conhecidos como “Claret” nos principais mercados mundiais. Nos anos 30, a pioneira obra “Culinária Portuguesa”, da autoria de António Maria de Oliveira Belo (Olleboma), dedica uma atenção especial ao Quinta das Cerejeiras Clarete, o que atesta a sua importância numa época em que os grandes vinhos engarrafados não abundavam. Com o tempo, a marca assumiu-se como um dos vinhos portugueses mais cotados e prestigiados, só começando o seu impacto a diluir-se no final dos anos 80, com o “boom” dos vinhos nacionais e a introdução no mercado de milhares de outras referências engarrafadas.
O moroso processo de elaboração do Quinta das Cerejeiras Clarete diz muito sobre a atenção que os seus produtores lhe dispensavam. Vinificado em balseiros de madeira, estagiava depois dois ou três anos em grandes tonéis. De seguida, era transferido para meias pipas usadas de carvalho americano onde descansava mais dois anos. Após cinco anos em várias madeiras, passava mais cinco anos em garrafa. E agora vem a parte melhor: dez anos depois da vindima, as garrafas eram decantadas uma a uma e o vinho passado para novas garrafas, com molde próprio da Companhia Agrícola do Sanguinhal, sendo então colocado no mercado.
Esta prática extraordinária manteve-se até à colheita de 1980, a primeira a ser lançada por Carlos João Pereira da Fonseca, neto do fundador e responsável pela empresa familiar, onde é acompanhado no dia a dia pelos sobrinhos Diogo e Ana. Com o apoio do enólogo da casa, José António Fonseca, no ano de 1990 Carlos decantou todas as garrafas do 1980 para um único depósito, sendo o engarrafamento feito a partir do lote final. Lembro-me bem desse 1980 porque há dois anos bebi a última garrafa que dele possuía e revelou-se um tinto extraordinário, cheio de frescura, elegância e persistência. Infelizmente, já não existem no produtor garrafas suficientes e o vinho não marcou presença na prova agora organizada.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”34097″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Um branco dos anos 20
Esperar dez anos para lançar um vinho deixou naturalmente de ser viável e, a partir da colheita de 1990, a empresa passou a colocar o Quinta das Cerejeiras no mercado com “apenas” cinco anos de idade. Com o tempo, os balseiros de fermentação (havia 14) foram também sendo abandonados por dificuldade de higienização. No lote do tinto, entraram a pouco e pouco a Touriga Nacional e o Aragonez, substituindo, primeiro, o Carignan e depois a Tinta Miúda. Mas o Castelão das vinhas velhas continua a ser casta fundamental para a definição do perfil de um vinho que, desde a colheita de 2012 (a mais recente no mercado), usa o designativo Grande Reserva.
Quanto ao branco Quinta das Cerejeiras, Carlos João sempre pensou que a referência não existia no tempo do seu avô. Porém, uma pasta de rótulos descoberta da sede da Abel Pereira da Fonseca, em Lisboa, revelou vários exemplares de colheitas dos anos 20 do Quinta das Cerejeiras branco. Na era “moderna”, o primeiro Reserva branco nasceu na vindima de 1987, baseado na Vital, clássica casta da região. O mercado não revelou grande interesse (injustamente, como hoje se percebe da prova do vinho), e Carlos João só voltou ao Quinta das Cerejeiras branco em 2010, agora com o apoio do enólogo Miguel Móteo, na casa há 22 anos e responsável pela vinha e adega.
O 2010 já tinha Chardonnay e Arinto a fazer companhia à Vital. De então para cá (a colheita mais recente é o Grande Reserva branco de 2016) a presença da Vital tem vindo a diminuir. É uma casta muito difícil na vinha (de película muito fina, o bago racha com facilidade e também desidrata com frequência), mas a empresa não quer perder este património vitícola regional e ainda mantém 4 hectares de cepas com 30 anos. Com viticultura apropriada, Carlos Pereira da Fonseca e Miguel Móteo acreditam que esta casta pouco aromática quando jovem, mas que desenvolve aromas terciários muito interessantes em vinhos mais velhos, pode ter (tal como o Castelão no tinto) um papel a desempenhar na definição do estilo e identidade de uma marca tão antiga e clássica quanto o Quinta das Cerejeiras.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Cinco décadas de Cerejeiras”][vc_column_text]A prova vertical de Quinta das Cerejeiras branco e tinto abrangeu cinco décadas, e avaliar no copo a evolução cronológica de lotes de castas, vinificação e perfis de vinho é uma experiência fascinante. A ajudar esta viagem pelo tempo, o detalhe de o rótulo do Quinta das Cerejeiras praticamente não ter mudado desde que foi criado, nos anos 20 do século passado…
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[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº21, Janeiro 2019

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