Quinta de S. José: na rota para se tornar um clássico

Numa região competitiva como é o Douro, com excelentes vinhos tanto de grandes como de pequenos produtores, um jovem enólogo, com um projeto independente e familiar, não tem vida fácil. João e Sofia Brito e Cunha trilham esse caminho desde 2004, e desde então têm vindo a proporcionar-nos alguns dos mais excitantes vinhos durienses.

 

TEXTO Nuno de Oliveira Garcia FOTOS Ricardo Palma Veiga

JOÃO Brito e Cunha é descendente de Dona Antónia Ferreira (Ferreirinha) e consultor de enologia no Douro há mais de década e meia. Foi responsável por alguns dos primeiros vinhos da Lavradores de Feitoria, e ainda hoje assina alguns grandes vinhos do Douro, como os tintos da Touriga-Chã e do Lubazim. Por tudo isso, quando, em 1999, o seu pai comprou a Quinta de S. José, magnificamente localizada na margem esquerda do Douro, próximo de Ervedosa e defronte da Quinta da Romaneira, João Brito e Cunha não hesitou e tomou conta da enologia do projeto, que já então era concebido também numa vertente turística (ainda hoje existe e com qualidade). Quis o destino, e a determinação de João e de Sofia, que em 2005 houvesse a possibilidade de aquisição à restante família de toda a área de vinha e mato da quinta, bem como a marca S. José, que, aos poucos mas de forma expressiva, tinha vindo a consolidar-se no mercado.

Pode, pois, dizer-se que é a partir de 2005 que começa uma fase de maior investimento na propriedade e, em especial, no negócio do vinho – incluindo replantações de vinha e, mais tarde, uma nova adega –, ao mesmo tempo que João Brito e Cunha aperfeiçoava o seu conhecimento dos vários terroirs e se ia afastando progressivamente de um ou outro projeto de consultadoria. Naturalmente, tratando-se de um projeto verdadeiramente familiar, os investimentos são sempre realizados a uma velocidade controlada, por vezes até longe da desejada. Mas a verdade é que, volvida uma década, começaram a sair da adega da Quinta de S. José vinhos verdadeiramente excitantes, puros no desenho da vertente frutada, e com um perfil marcante que se destaca pelo carácter mineral dos tintos.

Dos 20 hectares da propriedade, 11 são de vinha, espalhados por quase duas dezenas de parcelas, uvas essencialmente tintas e a diferentes altitudes, pois é grande o desnível existente na quinta totalmente virada a norte. Já os brancos levam a chancela Flor S. José, precisamente por virem de vinhas fora da propriedade, vinhas que João conhece faz muitos anos, desde o tempo em que produzia a marca Ázeo (que teve um relevante sucesso comercial, diga-se), e ainda hoje são muitos aqueles que não hesitam em considerar que João Brito e Cunha é um especialista em vinificar brancos frescos e crocantes. Atualmente, o projeto é, em absoluto, a dois, pois Sofia é a responsável pela comercialização, desdobrando-se em trabalhos por todo o país. Quem conhece o casal sabe que a força motriz é distribuída equitativamente, o que nem sempre é comum no mundo dos vinhos…

Os vinhos agora apresentados mostram um perfil de grande maturidade e de perfeito conhecimento da propriedade vizinha da Quinta de Roriz (Chryseia). Há que assumir: os vinhos da Quinta de S. José sempre foram bons (e por isso, em 2009, a jornalista inglesa Sarah Ahmed elegeu o Reserva Tinto de 2007 como um dos 50 melhores vinhos portugueses do ano), mas pode-se afirmar com segurança que estão agora melhores do que nunca.

Na base da gama, que começa alta, o Quinta de S. José Colheita tem, em 2015, a sua melhor edição de sempre, com fruto bonito vivo e impactante. Os brancos (2016) e o Touriga Nacional (2015) continuam aprumados e de enorme elegância; o Grande Reserva afinou-se e, na colheita de 2015, é um elogio expresso às vinhas velhas do Douro, tanta é a subtileza e complexidade que exprime. Mas o vinho mais importante para João e Sofia, e é assim que deve ser, é o seu Reserva; esse sim é o porta-estandarte da quinta, um tinto que agrega as melhores parcelas de Touriga Nacional com vinhas de mais de 50 anos com castas misturadas. É um vinho que tem sabido manter-se entre os melhores da região, ainda que a um preço não especulativo, comparando com alguns pares.

É caso para dizer que se não teve ainda tempo para descobrir os vinhos da Quinta de S. José não sabe o que está a perder, e a partir de agora, ou seja, com este texto, já não tem desculpa para não os conhecer. Melhor ainda, só se for visitar a quinta e lá pernoitar nas belas casas de xisto totalmente recuperadas. Fica a sugestão.

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