O Quetzal é uma das aves mais belas do continente americano, sagrada para todas as culturas mesoamericanas, porque neste animal se fundem o céu e a terra. Em várias das suas línguas, o termo pode também significar “precioso” ou “sagrado”. As penas verdes iridescentes na cauda simbolizavam igualmente o crescimento das plantas na Primavera para os Aztecas e Maias, que viam o Quetzal como o “Deus do Ar” e um símbolo de bondade e luz.
A Quinta do Quetzal fica no coração da região do Alentejo, nas encostas da Vidigueira e nas imediações da mais antiga adega romana do Sudoeste da Península Ibérica. O seu microclima e as suas colinas criam as condições ideais para um terroir único, distinto da típica propriedade alentejana. Os solos xistosos, as diferentes exposições solares e altitudes, permitidas pela topografia em colina, e as áreas plantadas com vinhas velhas, formam uma combinação única no cenário da planície alentejana.
A região da Vidigueira é solarenga e quente. Mas, por estar no sopé Sul da Serra do Mendro, beneficia de ventos frescos veiculados pela serra a partir do oceano Atlântico. Estas condições, que se traduzem em elevadas amplitudes térmicas diárias, dão às plantas o calor que precisam para amadurecer as uvas e o fresco para recuperarem. A sua qualidade, aliada a um trabalho de enologia alicerçado na experiência e no conhecimento profundo de cada planta que compõe os 52 hectares de vinha, permite produzir vinhos que expressam verdadeiramente o carácter da região envolvente.
O vinho da empresa estagia no subsolo a uma temperatura naturalmente fresca, e ao som de uma instalação site-specific de Susan Philipsz.
A colecção da família
Como elemento fundamental da experiência Quetzal foi criado, de raiz, o edifício que inclui o restaurante, a loja e o Centro de Arte. O xisto que reveste as suas paredes destaca-se e integra-se com fluidez na paisagem envolvente, enquanto o espaço circundante foi concebido para incorporar plantas nativas naturais, de modo a maximizar a experiência do habitat natural do Alentejo.
Cees e Inge de Bruin são colecionadores e patrocinadores de arte contemporânea. Mantêm, há mais de 40 anos, juntamente com a família, uma forte ligação a Portugal. O projecto da Quinta do Quetzal expressa a sua paixão pela cultura, natureza, gastronomia e vinhos portugueses, que gostam de partilhar.
Todos os anos, em colaboração com a sua filha, Aveline de Bruin, organizam uma nova exposição na propriedade, em que o ponto de partida é a colecção privada da família (Coleção de Bruin-Heijn) e as suas ligações ao mundo da arte. Até final do passado mês de Setembro, a exposição colectiva “Echoes of Our Stories” (Ecos das Nossas Histórias) reuniu obras de Claudia Martínez Garay, Diana Policarpo, Jennifer Tee, Agnes Waruguru e Müge Yilmaz. As cinco artistas contaram histórias que nos fazem olhar para o mundo à nossa volta de maneira diferente da perspetiva ocidental dominante e nos ajudam a compreender esse mundo. Elas propuseram novas cosmovisões, alternativas espirituais, curativas e futurísticas, nas quais as rígidas dicotomias humano-natureza, acima-abaixo e centro-margem foram subvertidas.
Mas o Centro de Arte Quetzal também apresenta duas instalações site-specific de Susan Philipsz: “Tomorrow’s Sky” (O Céu de Amanhã) e “Sleep Close and Fast” (Dorme Perto e Profundamente), ambas de 2019, revestindo, a primeira, de elevado valor sentimental e motivo de especial orgulho para Inge de Bruin, assim como, hoje, para os seus filhos. Sobre esta peça, a sua autora salienta que o “pássaro Quetzal é o símbolo desta vinha e uma das características da paisagem envolvente é o seu vazio e silêncio”, acrescentando que imaginou, nesta instalação sonora em três canais, “o pássaro conjurado pelo som, abrindo as suas asas sobre a paisagem ao mesmo tempo que esta se funde com o som”.
Surpresa durante o silêncio
Em frente do Centro de Arte, e do restaurante, com a sua janela imensa, no topo da colina da Vinha da Coroa, com as três árvores, a instalação de som começa a cada dez minutos, surpreendendo quem por lá fica a desfrutar do silêncio e a contemplar a serra do Mendro, a Vidigueira, Vila de Frades, a Ermida de Nª Senhora de Guadalupe e, em dias mesmo limpos, a própria cidade de Beja. Foi neste contexto de arte, vinha e beleza natural que fomos recebidos por Reto Jörg, director geral da Quinta do Quetzal, José Portela, enólogo, e Ricardo Tavares, director comercial.
Todos os vinhos da Quinta do Quetzal são produzidos exclusivamente com uvas próprias, numa propriedade dividida em parcelas que definem o carácter da uva juntamente com as suas diferentes exposições solares e tipos de solo, desde os pobres de granito, ao abundante xisto e às terras mais férteis e planas, com alguma argila e algo arenosas.
A propriedade foi adquirida no ano de 2001 e estabelecida por Cees e Inge de Bruin em 2003. Hoje, totaliza 52 hectares de vinha, 70% dos quais com castas tintas (Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Syrah e Petit Syrah) e 30% com brancas (Antão Vaz, Arinto, Verdelho e Roupeiro). Destacam-se cerca de 2,5 hectares de vinhas velhas (com mais de 40 anos), que se caracterizam por uma baixa produção, resultando numa forte concentração de aromas, e cerca de 30 hectares de vinhas com idade avançada (com cerca de 20 anos), que se caracterizam por uma produção de uva moderada e espelham, de forma fiel, o terroir da Vidigueira.
Som de embalar na cave de barricas
Na moderna adega, as uvas são introduzidas, pela pura ação natural da gravidade, num processo de vini¬ficação, que abrange cinco pisos, para reduzir o seu manuseio mecânico e a possibilidade de oxidação. O vinho que originam pode envelhecer gradualmente nas caves que se localizam no subsolo, a uma temperatura naturalmente fresca e ao som da segunda instalação site-specific de Susan Philipsz.
A ideia de “Sleep Close and Fast”, instalação de som de canal único, surgiu depois de Susan ter tido conhecimento que se tocava música para as barricas da Quinta do Quetzal, enquanto o vinho nelas estagiava. “Pensei que esta era uma ideia bonita e assim surgiu, imediatamente, o propósito de cantar uma canção de embalar para as barricas”, explica.
A enologia está a cargo de José Portela, enólogo residente desde o início, que mostra um conhecimento profundo e detalhado do Quetzal, que teve Paulo Laureano, primeiro, e Rui Reguinga, depois, como enólogos consultores. Da vindima de 2024, já finalizada aquando da nossa visita, destacou as boas produções das uvas brancas, na ordem das 6/7 ton/ha, “o bom desempenho da Alfrocheiro, Syrah e Petit Syrah e a boa concentração da Aragonez”. Apenas o Alicante Bouschet se ressentiu “do escaldão da segunda quinzena de Agosto”, e “não houve problemas de grau nem de açúcares.”
A Quinta do Quetzal oferece um portefólio diversificado. Começa nos vinhos Guadalupe, que oferecem um excelente equilíbrio entre elegância e frescura nas suas variedades branca, rosé e tinta, e constituem uma boa escolha em termos de custo-benefício, ideais para o consumo diário. Os Guadalupe Winemakers Selection, nas suas versões branca e tinta, oferecem uma complexidade subtil, tendo sido envelhecidos em barricas usadas. Acrescem duas edições especiais, o Quinta do Quetzal rosé, monovarietal de Trincadeira da Vinha da Coroa, e o Quinta do Quetzal Terroir branco, um single-vineyard de Arinto e Roupeiro, com 15 dias de maceração pelicular e envelhecimento em barricas de acácia.
O Quinta do Quetzal Brut é um espumante fresco e elegante, elaborado através do método tradicional a partir de um lote das castas Arinto, Antão Vaz e Perrum, com estágio de 24 meses sobre borras.
Os ícones da propriedade
Os vinhos Reserva representam a porta de entrada da gama Premium da Quinta. São elaborados a partir das melhores uvas selecionadas nos vinhedos da propriedade e envelhecidos em barricas novas de carvalho francês. Os vinhos Família são os ícones da propriedade, produzidos exclusivamente em anos de qualidade excepcional. Longamente amadurecidos, estes vinhos de edição limitada estão disponíveis em garrafas numeradas, reflectindo o compromisso inabalável da família com a sua visão de produzir vinhos ¬elegantes, que se juntam a arte e gastronomia de excepção.
Por fim, a gama Quetzal Rich constitui a oferta fortificada da Quinta, feita à moda do vinho do Porto através de fortificação com aguardente vínica com 77% de álcool. Nas suas versões Rich White, é produzido a partir de uvas Antão Vaz. Na Rich Red, a partir de Alicante Bouschet, sendo ambos envelhecidos em barricas de carvalho francês durante 16 meses.
“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são”, disse um dia Fernando Pessoa. Talvez seja isto mesmo a experiência Quetzal, a maneira como a família de Bruin sente a Vidigueira, o Alentejo, o vinho e a gastronomia, a propriedade. Nada mais nada menos que a sua representação artística. Brindemos, pois!
(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)
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Quinta do Quetzal Rich White
Fortificado/ Licoroso - 2014 -
Quinta do Quetzal Família
Tinto - 2017 -
Quinta do Quetzal Família
Branco - 2017 -
Quinta do Quetzal Arte Selection
Tinto - 2021 -
Quinta do Quetzal Arte Selection
Branco - 2023 -
Quinta do Quetzal Terroir
Branco - 2021 -
Quinta do Quetzal
Rosé - 2021 -
Quinta do Quetzal
Espumante - 2020