Regressar às origens, em Borba

A Sovibor vai comemorar, em 2018, 50 anos de idade. Foi empresa conhecida na região desde os anos 80, com sede no centro da cidade. Como aconteceu com tantas outras empresas, esteve à beira da morte até que foi adquirida por Fernando Tavares, actual proprietário, um entusiasta dos vinhos de talha. Com os resultados que aqui apresentamos.

 

TEXTO João Paulo Martins FOTOS Cortesia Sovibor

AO visitar a adega deparámo-nos com uma nave com imensas talhas de barro, mas logo se perceber o porquê de tão grande número. Explica Fernando Tavares, proprietário da Sovibor: “Corri a região toda à procura e o que encontrei, comprei; não é fácil e quem for agora começar a procurar vai ter muita dificuldade.” Apesar deste entusiasmo, as talhas só são usadas para fazer alguns dos vinhos da empresa, uma vez que a maioria é feita de forma convencional em adega própria, a partir das uvas adquiridas a lavradores.

A Sovibor não dispõe de vinhas próprias, mas herdou, e fez questão de manter, os contratos com os antigos fornecedores da empresa. Tem assim tem à sua disposição 170 hectares de vinha, podendo desta maneira ensaiar vários tipos diferentes de combinações de castas e perfis de vinhos. Um exemplo dessa variedade são as vinhas de Alfrocheiro e Syrah que têm agora 50 anos e das quais se fizeram dois vinhos varietais com a marca Passo de Terceiros. São duas parcelas contíguas com apenas 2 ha e destas parcelas fazem-se cerca de 3.000 garrafas das duas variedades. O portefólio está agora muito alargado e inclui vinhos de entrada de gama com a marca Borba, mas onde sobressaem, como seria de esperar, os vinhos de talha.

“As talhas são uma dor de cabeça”
Disso nos deram conta a equipa de enologia (António Ventura, Rafael Neuparth e Rita Tavares) e o próprio Fernando Tavares, que as comprou. Essa dor de cabeça deriva da imprevisibilidade, já que “só num dia se partiram três”. A razão para tais acidentes está na forma como deve ser conduzida a fermentação dos vinhos na talha. Durante a fermentação, a manta tem de ser mergulhada com regularidade para homogeneizar a temperatura. Recordemos que não existe controlo de temperatura e que as talhas podem ter uma dimensão grande, gerando um “clima” que pode fazer a talha rachar/rebentar, perdendo-se assim o vinho.

Nunca se sabe tudo e é a experiência que vai afinando os procedimentos. Na preparação das talhas segue-se aqui a receita mais antiga e tradicional: pez-louro, cera de abelha e azeite. Esta mistura é aquecida e depois deita-se a talha no chão e o preparado é colocado dentro da talha (após terem sido retirados os resíduos antigos) e a talha roda no chão com o preparado a ficar agarrado às paredes. “Se assim não for feito e se se usarem resinas modernas, não tem qualquer interesse fazer vinhos em talha”, diz, conclusivo, Fernando Tavares.

E para que o estilo seja tão próximo quanto possível das práticas antigas, usaram-se aqui, para fazer os vinhos, sobretudo as castas antigas da região, como o Moreto e a Carignan nos tintos e a Rabo de Ovelha nos brancos. A fermentação decorre com as películas e com um pouco de engaço, quer no branco quer no tinto. Se a fermentação arrancar normalmente de forma espontânea não são usadas outras leveduras. Só no final da fermentação se utiliza uma levedura que permite que o processo decorra até ao m, não se correndo assim o perigo do vinho car com açúcar por desdobrar. Os riscos de refermentação posterior na garrafa são demasiados para que tudo se deixe correr de forma natural, deitando o trabalho e o esforço a perder. Após a renovação da adega, a equipa da Sovibor vai apostar numa melhor relação com o turismo, tirando partido das centenárias instalações que ocupa, bem no centro de Borba. O empenho e a vontade parecem ter vindo para ficar e a qualidade dos vinhos é um bálsamo para todos.

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