Adeus Renato

O nome de Renato Santos pouco ou nada dirá ao mundo do vinho, sejam profissionais ou apreciadores. No entanto, é um facto incontornável que sem ele nunca teria existido Revista de Vinhos. E que o lançamento e consolidação da Grandes Escolhas teria sido bem mais difícil. Na pequena editora, chamada Socedite, que, em 1984, me ofereceu o primeiro trabalho a tempo inteiro enquanto jornalista, Renato Santos era sócio proeminente, responsável por toda a área gráfica (licenciado em Direito, nunca exerceu a advocacia). Nessa editora, orientei revistas de informática, caça, pesca, automóveis todo-o-terreno. Até que o Renato, farto de me ver organizar e colocar no mercado revistas sobre temas que pouco ou nada lhe diziam, me falou de lançar uma revista sobre vinhos. Ele adorava cozinhar e abrir boas garrafas. Alguns anos mais velho do que eu, dava-me lições sobre o assunto, conhecia as melhores marcas, fez-me provar, pela primeira vez, o Cartuxa, sua marca de eleição.

Renato acreditou sempre no sucesso de uma publicação de vinhos mensal e dissipava as minhas inseguranças dizendo que se eu era capaz de escrever sobre computadores, caça ou automóveis, também saberia escrever sobre vinhos. Nos seis meses que antecederam o lançamento da revista, em dezembro de 1989, acompanhou-me nas minhas viagens de aprendizagem por dezenas de produtores. Só quando a revista entrou em velocidade de cruzeiro ele se afastou mais, mas sempre comentando e criticando cada edição.

A vida dá muitas voltas, o Renato deixou a Socedite, e criou a sua própria empresa de artes gráficas, a RPO. A revista também foi passando de mão em mão até os seus dinamizadores, João Geirinhas e eu próprio, acharmos que era hora de lançar algo nosso. Tínhamos quem escrevesse, mas era preciso paginar, imprimir, e isso custa dinheiro. Quando fomos falar com o Renato Santos, vi nele aquela centelha, aquele gozo de participar novamente na criação de uma publicação de vinhos. A Grandes Escolhas superou os primeiros meses, até as receitas começarem a entrar, porque Renato Santos lhe deu crédito moral e financeiro. Tal como o fez nos tempos medonhos da pandemia, quando dos eventos cancelados colocavam tudo em risco.

É verdade que os amigos são para as ocasiões. Mas o Renato foi daqueles amigos que esteve mesmo lá nos momentos em que era preciso. Sem ele, eu nunca teria entrado neste mundo vínico que adoro, estaria a escrever sobre outras coisas. Sem ele, tudo teria sido muito mais difícil na minha “segunda vida” profissional. Há poucos dias recebi a notícia de que Renato Santos nos deixara. Haverá muitas formas de o lembrar, entre os seus muitos amigos cada um terá a sua.  Eu vou abrir uma garrafa de Cartuxa, em memória dos grandes momentos que passámos. Sei que ele iria gostar. Luís Lopes

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