Invisível: um vinho singular

Costuma dizer-se que “do sonho nasce a obra”. E o irrequieto produtor alentejano Duarte Leal da Costa, da Ervideira, tem muitos sonhos. Alguns deles deram origem a vinhos inovadores, como o Invisível.

 

TEXTO António Falcão e João Geirinhas PROVA Luís Lopes FOTOS Ricardo Palma Veiga

O Invisível é um vinho branco feito de uvas da casta tinta Aragonês. Terá sido certamente o primeiro do género em Portugal, pelo menos comercializado em quantidades apreciáveis. O sonho nasceu em 2007, e Duarte Leal da Costa resol­veu começar a comprar vinhos deste estilo – a que chama ‘blanc de noirs’ mas em versão não-espumante. Por todo o lado onde viajava conseguiu cerca de duas dezenas de garrafas, que ia provando com o enólogo, Nelson Rolo. Duarte dizia que sim, Nelson dizia que não, que os vinhos eram maus. Como é Duarte que paga as contas, começa­ram imediatamente a fazer testes, avaliando várias castas, tempos de vindima, vinificações, entre outros parâmetros. A casta Aragonês foi a que melhor provou. E ainda bem, porque a Ervideira tem muito…

Em 2009 avançou-se para um produto final. As uvas foram vindimadas à noite (pela fresca, por causa da acidez), e separa-se a pele da uva do seu interior; é na pele que está a cor tinta. O remanescente sofre um choque de frio e vai à prensa, onde apenas se aproveita o primeiro sumo, chamado ‘lágrima’. O mosto fermentou em inox e, ‘voilá’, eis um branco feito de uvas tintas. Fizeram-se 13.000 gar­rafas e Duarte estava apreensivo: “o risco era enorme”, recorda ele. O Invisível 2009 foi lançado no dia 1 de Abril de 2010 e afinal foi um enorme sucesso. Em pouco tempo esgotou. De tal maneira que a Ervideira teve de aumen­tar constantemente as quantidades e a edição de 2016 já vale 60.000 garrafas! Não devem chegar, contudo. Duarte Leal da Costa prevê que estará esgotado em Julho. Outro facto curioso é que a partir de 2010 o Invisível é sempre lançado no dia das mentiras, como aconteceu este ano, e com um atractivo: a primeira prova simultânea de todas as edições.

Vertical corajosa
É inegável que Duarte Leal da Costa e Nelson Rolo re­velaram alguma coragem para se abalançarem a uma prova pública vertical das oito colheitas. Primeiro porque o Invisível não nasceu com o objectivo de ser um vinho de guarda e depois porque os responsáveis não testa­ram previamente os vinhos. Mas a verdade é que a coi­sa correu bem e a vertical revelou-se uma boa surpresa. A primeira colheita, de 2009, acabou por se revelar a mais atípica de todas. O vinho estava evoluído nos seus tons de ouro velho, aromas de farmácia e de fruta madu­ra, com toques de frutos secos e meloso na boca. Apesar de ter mais de 6 gramas de açúcar residual, revelou um final seco. A partir da colheita seguinte, o estilo do Invisí­vel alterou-se e a Ervideira passou a apontar para um per­fil mais seco, tendência que se foi acentuando em anos seguintes.

Duarte Leal da Costa e Nelson Rolo revelaram alguma coragem para se abalançarem a uma prova pública vertical das oito colheitas.

2010 parece ser assim um ano de transição, com o vinho a mostrar-se bastante mais aberto na cor mas ainda com os aromas químicos e petrolados e revelando uma acidez tímida. Com o 2011, começa a predominân­cia dos aromas cítricos e o acentuar das notas de frescura, fruto de uma acidez bem conseguida. 2012 revelou-se em grande forma, boa expressão aromática com notas cítricas bem conjugadas com algum vegetal seco, con­junto equilibrado e um final longo. Na colheita seguinte, 2013, umas notas a mentol e um certo balsâmico, a par dos citrinos e vegetal verde, deram-lhe alguma graça mas que a boca não confirmou. O ano quente de 2014 reflec­tiu-se na graduação alcoólica de 14,4, a mais elevada dos vinhos em prova, mas foi bem compensada pela acidez viva que lhe emprestou frescura e garantiu um conjun­to equilibrado. Nos anos 2015 e 2016 a produção da marca aumentou consideravelmente e o Invisível entrou naquilo que se poderá chamar uma velocidade de cruzei­ro: cor quase transparente (fazendo jus ao nome), aromas vegetais com apontamentos de limão e casca de pêssego e uma frescura bem viva e agradável. Compreende-se o sucesso comercial.

 

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