Editorial – Bairrada em branco

Editorial da revista nº53, Setembro 2021

Num mercado, nacional e internacional, onde a procura de vinhos brancos de superior qualidade continua, globalmente, a crescer, é impossível ficar indiferente à oferta da Bairrada nesta categoria. A Bairrada é uma extraordinária região de brancos, e acredito que essa faceta só ainda não teve o reconhecimento que merece devido ao desempenho e buzz mediático dos seus tintos e espumantes.

 

Faz algum sentido avaliarmos o padrão das nossas opções vínicas em função do espaço que cada região ou tipo de vinho ocupam nas nossas garrafeiras. E digo “algum sentido” e não “todo o sentido”, porque frequentemente, a oportunidade, a proximidade geográfica, ou o preço, têm um peso importante nas nossas compras. Abstraindo-me dessas nuances, e admitindo que as minhas escolhas de garrafeira se norteiam exclusivamente pela qualidade intrínseca, potencial de longevidade e gosto pessoal, no que a brancos diz respeito, logo a seguir a Monção e Melgaço, são as garrafas de Bairrada que mais “área de prateleira” tomam em minha casa. Acho que isto diz do apreço que tenho pelos vinhos brancos desta região.

Mas vou mais longe. Ando nisto há mais de três décadas, e conservo vinhos desde, pelo menos, meados dos anos 80, abrindo frequentemente garrafas com mais de 10, 15 ou 20 anos. Por isso, se me centrar apenas no critério longevidade (importante para saber o que guardar sem sobressaltos) posso avaliar com relativa precisão a capacidade que os brancos de cada região têm para envelhecer com nobreza. E aí, salvaguardadas as devidas excepções (brancos longevos existem em todas as regiões), não tenho qualquer dúvida em afirmar que os melhores brancos de garrafeira são, em primeiro lugar, Bairrada, seguida de muito perto pelo Dão, com Monção e Melgaço a fechar o pódio.

Curiosamente, porém, quando o apreciador, mesmo o mais esclarecido, pensa em Bairrada, no seu “top of mind” estão invariavelmente tintos (em particular os Baga) e espumantes. Muitos, provavelmente, pensarão que o grande Bairrada branco é coisa residual. Mas está longe de o ser, como se vê no elevadíssimo nível médio dos brancos bairradinos provados por Mariana Lopes para esta edição. Por outro lado, a cada vez maior utilização de uvas tintas Baga nos espumantes, associada à progressiva valorização dos brancos tranquilos (já existem muitos exemplos acima dos €15, €20, €30…), tem permitido “libertar” maior quantidade de uvas brancas para fazer vinhos de topo. E novas referências surgem, vindima após vindima.

Desde há muito que Luís Pato (pioneiro e referência incontornável) afirma com veemência que, no seu entender, Bairrada é, sobretudo, região de brancos. Apesar da minha ilimitada paixão pelos tintos Baga, tendo a dar-lhe razão. É que, enquanto apenas uma minoritária parte da Bairrada vinícola (solos de argila e calcário, em encosta, com boa exposição solar) consegue originar Baga de excelência, as mais nobres uvas brancas utilizam todos os recursos da região em seu proveito: argila, calcário, areias e, claro, o fresco clima atlântico. Não fora o facto de, tradicionalmente, para as uvas brancas estarem reservados os piores terrenos (espumante obriga…) e o esplendor dos brancos bairradinos seria ainda mais evidente.

Espantosa é igualmente a capacidade que a Bairrada tem de imprimir a sua marca qualitativa a uma grande diversidade de castas, clássicas ou “modernas”. Em que outro lugar se faz Maria Gomes (Fernão Pires) com 14% de álcool e 7,5 de acidez? E que dizer do Bical que ali atinge elegância inigualável? Junte-se o polivalente e seguríssimo Arinto, o Cerceal (absoluta estrela em ascensão), o raro e enigmático Sercialinho ou, se quisermos sair da tradição, Alvarinho, Chardonnay e Sauvignon Blanc, e percebemos que, na Bairrada, não falta matéria para atingir a máxima grandeza. Os vinhos aí estão, para dissipar dúvidas e preconceitos.

 

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