Integrada na denominação de origem Alentejo-Portalegre, a Serra de São Mamede possui características muito particulares que fazem dela um polo vitivinícola absolutamente diferenciador, mesmo dentro desta sub-região. Para perceber o carácter dos seus vinhos, visitámos quatro produtores com histórias, conceitos e abordagens distintas, mas com um denominador comum: a resposta apaixonada e entusiástica ao irresistível apelo da Serra.
Texto: Luis Lopes
ADEGA DE PORTALEGRE WINERY
A Adega Cooperativa de Portalegre foi fundada em 1954, mas apenas no início dos anos 90, com a demarcação do Alentejo vitivinícola, ganhou estatuto de primeira linha. Os mais antigos recordam o famoso “VQPRD” de 1991 e tantos outros que se seguiram, vencedores crónicos dos concursos locais e nacionais. Já na altura, a Adega recebia a esmagadora maioria da sua matéria prima de pequenos viticultores instalados nas cotas altas de Serra de São Mamede. Em 2005, a então ainda cooperativa terá dado um passo maior do que a perna, adquirindo à família Avillez a Quinta da Cabaça, propriedade de 22 hectares situada no Reguengo, entre 600 e 700 metros de altitude. Devido a conjunturas económicas desfavoráveis, os grandes empreendimentos (nova adega, enoturismo) previstos para a Cabaça acabariam por não se realizar, a Cooperativa entrou em dificuldades, e parte dos seus activos foram adquiridos em 2017 pela família Redondo, proprietária do Licor Beirão, que constituiu a Adega de Portalegre Winery (APW). Desde então, a família tem revitalizado e revolucionado o projecto, procurando tirar o máximo partido da singularidade daquele terroir de excelência.
Para além da Quinta da Cabaça, seu principal património, a APW possui igualmente a vinha Serra da Penha, com oito hectares e diferentes castas plantadas em solos graníticos, que vão dos 450 aos 650 metros, e compra uva a um conjunto de lavradores locais, cerca de 60 antigos associados da Adega Cooperativa, 40 dos quais situados no Parque Natural da Serra de São Mamede, desde Urra até Marvão e Castelo de Vide. À antiga cooperativa, a APW arrendou as instalações de vinificação e engarrafamento. A consultoria enológica está a cargo de Nuno do Ó, com Miguel Sistelo como enólogo residente e João Gabriel – que veio do “grupo Licor Beirão” em 2018 – a assumir a direcção geral.
A Adega de Portalegre foi o primeiro avanço no mundo do vinho por parte da família Redondo, até então centrada nas bebidas espirituosas. Porquê Portalegre, pergunta-se. “Sentíamos que esta região, que na altura começava a mexer, era um diamante por lapidar”, refere João Gabriel, “um Alentejo de altitude, que permite perfis de vinho diferentes.”
A APW arrancou a sua actividade comercial com base nos stocks produzidos pela antiga cooperativa e a primeira vindima, já feita segundo o modelo e perfil pretendido aconteceu em 2017. Em 2020, estreou-se Miguel Sistelo, hoje com 31 anos, vindo da UTAD, com passagem pelos EUA, Nova Zelândia, Austrália e Bordéus. É pois uma equipa jovem mas experiente, e sobretudo motivada, que tem como missão recuperar a notoriedade da marca Adega de Portalegre.
Miguel Sistelo acompanha de perto os viticultores que entregam uvas na APW, dando-lhes apoio técnico no sentido de garantir que recebe a matéria prima correspondente ao pretendido. “Queremos acidez, frescura, capacidade de envelhecimento em garrafa”, diz Miguel Sistelo. Mas também “vinhos fáceis de beber, prontos a apreciar enquanto jovens e capazes de dar prazer passado muitos anos, refere.”
A Quinta da Cabaça é o coração da APW. Com uma parte dos 22 hectares em sequeiro e outra com rega, reúne uma grande variedade de castas regionais, incluindo parcelas plantadas em field blend e ainda um campo experimental com uma colecção de cerca de 30 variedades, uma linha de cada. Miguel Sistelo confessa-se surpreendido com a qualidade das uvas e carácter dos vinhos que a APW conseguiu obter na vindima de 2020. Quando indagado sobre as suas preferências, não hesita: “Para além das vinhas velhas, claro, castas como Trincadeira, Castelão, nos tintos, e Bical e Tamarez, nos brancos, fazem toda a diferença em Portalegre.”
No total, a APW vinifica anualmente cerca de 500 mil litros, tendo recentemente efectuado uma parceria comercial com a Niepoort, que seleciona e elabora lotes ali produzidos para engarrafar com as suas marcas. No portefólio da APW, a o vinho bandeira continua a ser o sucessor do icónico “VQPRD”, simplesmente denominado Portalegre. Mas a linha Conventual e o histórico Morgado do Reguengo (marca outrora pertencente à família Avillez) continuam a merecer especial atenção. A ideia não é produzir mais, antes pelo contrário. “Queremos reduzir”, diz João Gabriel, “fazer menos vinho e criar mais valor.”
TERRENUS
Com raízes na região do Tejo e vinhas herdadas de seu pai, em Almeirim, seria natural que o enólogo Rui Reguinga se tivesse estabelecido naquela região enquanto produtor. Mas, embora ali mantenha o seu projecto Tributo, foi no Alentejo e em Portalegre que veio instalar-se, sendo dos primeiros “de fora” a apostar nas vinhas velhas da Serra. “No início da minha carreira, em 1991, enquanto enólogo assistente de João Portugal Ramos, acompanhei vindimas na Tapada do Chaves e, sobretudo, na então Adega Cooperativa de Portalegre”, diz Rui. “Na Adega de Portalegre entrei em contacto directo com as vinhas velhas da Serra e percebi que era aquilo que, um dia, queria para mim. Fui alimentando o sonho com muitas visitas à região – passava as férias em Marvão – até que o sonho se tornou realidade em 2004, nascendo o Terrenus.”
Todas as vinhas do projecto Terrenus se encontram inseridas dentro do Parque Natural da Serra de São Mamede. Foram aquisições espalhadas no tempo, há medida da disponibilidade financeira, e as parcelas escolhidas por serem muito velhas, pela altitude entre os 600 e 760 metros e, em alguns casos, pela exposição a norte. De entre as vinhas Terrenus, três destacam-se claramente não apenas pela qualidade produzida, mas também pelo enquadramento paisagístico. A mais impressionante será, porventura, a Vinha Clos dos Muros, que dá origem ao vinho com o mesmo nome. É a vinha mais antiga de Rui, plantada em 1902, com dois terços de uvas tintas (destaque para a Grand Noir) em pouco mais de meio hectare. “O anterior proprietário contou-me que o seu avô ainda fez a vindima desta vinha antes de partir para a primeira Guerra Mundial”, diz o produtor. Mas não é só a idade que a torna tão especial. O muro de xisto que que a rodeia totalmente, feito com as pedras retiradas do terreno durante a plantação, confere-lhe uma beleza inédita. E a elevada densidade de plantação (mais de 8000 plantas/ha, dois terços de castas tintas) é outro factor singular.
Mas a Vinha da Serra, a primeira a ser adquirida para o Terrenus, não lhe fica atrás. Aqui, a 760 metros de altitude, este vinhedo centenário cultivado em modo orgânico evidencia-se pelo seu declive acentuado, tendo por isso sido plantado em patamares, como no Douro. Cerca de 80% são castas brancas, maioritariamente Bical, entre muitas outras.
Já a vinha da Ammaia, no concelho de Marvão, assim denominada por se encontrar muito próxima das ruínas da cidade romana homónima (séc. I), consiste em 0,6 hectares murados, com cepas de 80 anos de idade, brancas e tintas em igual proporção. Daqui saem as uvas para os vinhos Terrenus “de barro”, com fermentação em talhas antigas e estágio em ânforas novas.
Esta quase obsessão pelas vinhas velhas tem, para Rui Reguinga, inteira razão de ser: “As vinhas velhas fazem muita diferença. Originam vinhos mais complexos, mais minerais.” E para quem torce o nariz à expressão, tão usada e abusada, o produtor reforça: “Sim, a mineralidade nos vinhos existe! E quem tem dúvidas compare um vinho branco de vinhas velhas – e, no meu caso, vinha velha tem mais de 90 anos – e um vinho branco de uma vinha jovem.”
A idade das vinhas é um detalhe, sem dúvida importante. Mas mais importante ainda será o carácter da Serra. “Os vinhos que nascem aqui, a mais de 600 metros de altitude, são mais frescos, com uma acidez mais presente, e obviamente com um grande potencial de envelhecimento em garrafa”, diz Rui. “Além disso, a Serra de São Mamede tem um micro clima, com mais chuva anual – comparado com o resto do Alentejo – e uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite, especialmente no verão, com lenta maturação das uvas, preservando acidez e aromas.”
Certamente por tudo isso, Rui Reguinga é dos que defende uma zonagem mais precisa dentro das 8 sub-regiões alentejanas, e particularmente em Portalegre. E aí tem mais um objectivo, ambicioso, a conquistar: “Gostaria de lançar as bases para uma associação dos produtores da Serra de São Mamede, para a promoção dos vinhos locais, com vista à criação futura, dentro da DOC Portalegre, da micro-região Serra de São Mamede.”
O projecto Terrenus abarca já cerca de 70.000 garrafas. Até agora, a vinificação tem sido feita em espaço de adega arrendado. Mas na vindima de 2021 foi cumprido mais um sonho: estreou-se a adega Terrenus, em Marvão, na Ponte dos Olhos de Água. Pequena, dimensionada para as diferentes vinhas, permite vinificar cada parcela em recipientes separados e variados: inox, ovo de cimento, balseiro de carvalho, talha antiga. O Terrenus ganhou, finalmente, casa própria.
SUSANA ESTEBAN
Espanhola de nascimento (ou melhor, galega, de Tui), Susana Esteban tem desde há muito Portugal como país de adopção. Foi por aqui que a enóloga construiu carreira, primeiro no Douro, a partir de 1999, depois no Alentejo, desde 2007, trabalhando em diferentes produtores e acumulando em cada vindima um enorme capital de prestígio, assente no seu conhecimento, capacidade de trabalho, segurança e talento. Como todos (ou quase todos) os enólogos que atingem um elevado nível profissional, também Susana sentiu, a dada altura, a necessidade de um projecto vitivinícola a que pudesse chamar seu. Dois anos andou à procura em várias regiões do Alentejo, por vinhas que fizessem sentido para os vinhos que queria fazer. E certamente por isso, quando finalmente encontrou o que buscava, em 2011, o vinho de estreia chamou-se Procura.
Na verdade, não foi uma, mas sim duas vinhas, situadas em Portalegre, que a fizeram dar a busca por concluída. A primeira, uma vinha velha em Salão Frio, pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, com muitas castas misturadas e baixíssima produção. A outra, uma parcela de Alicante Bouschet, na altura com 25 anos. Aqui teve início a aventura (já agora, Aventura é o nome de outro vinho da enóloga/produtora).
“Quando encontrei Portalegre, deparei-me com um Alentejo que não parecia Alentejo”, diz Susana Esteban. “Ainda que erradamente, associamos sempre Alentejo a planície, quando há muitos Alentejos. Mas Portalegre foi para mim uma enorme surpresa, pela altitude, pelo granito, pelas castas tradicionais. Vi desde logo que era, para mim, a região perfeita, com as vinhas perfeitas”, acrescenta.
A frescura que a região de Portalegre, e em particular a Serra de São Mamede, imprime aos vinhos foi algo que desde logo a fascinou. “A altitude, a maior humidade, o granito, fazem com que um tinto com 14,5% de álcool tenha uma enorme frescura natural”, realça. “A vinha, aqui, é completa. Podemos interpretá-la de uma forma ou de outra, mas ela dá-nos tudo o que precisamos para fazer o vinho que queremos.”
Granito. Outro factor que Susana não dispensa. Todas as vinhas que trabalha hoje em Portalegre estão plantadas em solos de granito, embora também exista bastante xisto na sub-região. “O granito oferece vinhos muito mais directos, francos, minerais”, defende. A quase obsessão pelo granito não veio pré-concebida, no entanto. Desde 2011 que Susana Esteban experimenta e vinifica uvas de diferentes origens em Portalegre e, a dada altura, tomou consciência de que o granito era o denominador comum aos vinhos que mais gostava.
Numa dezena de anos, o portefólio de Susana Esteban, que representa hoje 35 mil garrafas por vindima, entende-se já por 10 referências diferentes. A “culpa”, mais uma vez, é das vinhas, pois cada um destes vinhos tem uma origem concreta, uma parcela, um terroir. As fontes de matéria prima distribuem-se por distintas áreas de Portalegre e resultam de contratos com lavradores locais. Quatro pequenas parcelas estão na localidade de Salão Frio, todas com vinhas velhas, entre 80 e 90 anos de idade, a cerca de 700 metros de altitude e viradas a norte. Ali, as castas brancas dominam em 60%. Susana compra igualmente uvas de uma parcela maior, em Castelo de Vide, com 2 hectares, cepas com 45 anos e uma mistura de uvas brancas e tintas que utiliza na linha de vinhos Aventura. Em Marvão, a produtora arrendou recentemente duas parcelas de vinha velha, das quais em breve irão sair novos vinhos. Finalmente, Alicante Bouschet e o Castelão têm origem em vinhas mais recentes (cerca de 35 de anos) e a vinha de Touriga Nacional tem à volta de 25 anos.
Todas estas vinhas estão sob contratos de arrendamento ou de compra de uvas. A única excepção é a mais recente paixão de Susana, a Quinta das Sesmarias, que adquiriu em Alegrete, com vista para o castelo. Com 24 hectares, 15 deles de montado de sobro, plantou ali este ano 5 hectares de bacelo, em sequeiro, bacelo esse que será enxertado em 2022 com varas das melhores cepas das vinhas velhas que utiliza. A ideia é reproduzir o encepamento e o carácter das vinhas tradicionais. “Vou fazer ali uma vinha à antiga, para durar 100 anos!”, diz Susana Esteban com um brilho nos olhos.
Mas afinal, o que procura nas vinhas velhas? “Antes de mais, uma vinha não é boa por ser velha. E já fiz excelentes vinhos com vinhas jovens. Mas a verdade é que os melhores vinhos que consigo fazer aqui, na Serra de São Mamede, têm por base as vinhas velhas. E acredito que a razão para isso está na mistura de castas, e na complexidade que isso traz. Mas não sou fundamentalista de vinhas velhas. Estou certa, aliás, que a vinha que estou a fazer em Alegrete, em field blend, vai em poucos anos atingir a riqueza de uma vinha velha pois, além da mistura de castas, não tem água, terá de lutar para viver. Por isso, para mim, a vinha velha é mais um conceito do que uma idade concreta.”
Até agora, Susana Esteban tem vinificado os seus vinhos num espaço arrendado em Mora, onde montou uma pequena adega. Como fica fora da DOC Alentejo-Portalegre não tem tido, por isso, direito à denominação de origem, com os vinhos a serem comercializados como Regional Alentejano. Um problema que fica resolvido a partir desta vindima de 2021. A vinificação foi feita em aluguer de serviços na Herdade do Porto da Bouga, bem dentro da sub-região, e os vinhos serão depois estagiados na sala de barricas já montada em “casa” de Susana, a Quinta das Sesmarias, em Alegrete, onde mais tarde nascerá também uma adega.
QUINTA DA FONTE SOUTO
A aquisição, em 2017, da Quinta da Fonte Souto a João Lourenço (fundador do projecto Altas Quintas) por parte da família Symington, apanhou quase toda a gente de surpresa. Não apenas porque estávamos a falar de uma das maiores e mais imponentes propriedades da Serra de São Mamede, com 207 hectares no total, dos quais 42 hectares de vinha, como também por serem os compradores quem eram. Profundamente enraizada no vinho do Porto e no Douro desde há 135 anos e 5 gerações, com todos os seus investimentos empresariais e pessoais naquela região, poucos imaginavam a família Symington a sair da sua “zona de conforto”, que conhece como poucos, para se lançar numa região que até então desconhecia.
“Já tínhamos há algum tempo a ideia de diversificar investimentos, fora do Douro”, diz Rupert Symington, administrador do grupo familiar. “E a partir de muita pesquisa e muitas conversas com diferentes pessoas, chegámos à conclusão de que Portalegre, e em especial a Serra de São Mamede, seria o local ideal para encontrar a qualidade e perfil de vinhos que buscávamos”, acrescenta. Mas o “mapa” para o tesouro escondido em Portalegre veio também com um aviso: “Fomos alertados de que a generalidade dos investimentos feitos na produção de vinho do Alentejo, por parte de empresas de fora da região, tiveram dificuldades de afirmação. Mas avançámos mesmo assim, conhecendo os riscos – desde logo, não sabíamos se os vinhos iam atingir o nível que esperávamos – , mas também o potencial. O resto é história…”, refere Rupert.
A verdade é que, para quem está acostumado a vinhos Porto e Douro de primeira grandeza, a vindima de estreia na Quinta da Fonte Souto foi uma enorme surpresa. “O branco, de 2017, foi logo uma revelação, pelo seu brilho e personalidade, qualidades que se vieram a confirmar nas colheitas seguintes”, lembra Charles Symington, director de enologia da casa. “Do mesmo modo, o topo de gama tinto, Vinha do Souto 2017, embora fechado no início, como por vezes acontece num grande vinho, evidenciou rapidamente toda a sua classe”, reforça. “Até fazer os vinhos, nunca sabemos se demos o passo certo numa nova propriedade. Mas aqui, não podíamos ter começado da melhor forma.”
Ainda assim, a dimensão e diversidade da Quinta obrigou a um estudo profundo das suas características, para suprir carências nos vinhedos e orientá-los no sentido pretendido. O enólogo José Daniel, que trabalha com a família Symington desde 2010, foi logo em 2017 “deslocado” para Portalegre. “Viemos para cá sem quaisquer preconceitos, antes de tudo queríamos conhecer a vinha e aprender com ela”, assume. Para a sua primeira vindima, realizada na adega existente na quinta (entretanto bastante reformulada) trouxeram com eles pequenas cubas para experimentar diferentes castas em distintas fases de maturação, o que desde logo lhes trouxe novos conhecimentos. E nada é deixado ao acaso, quando se trata de tomar decisões com efeitos de longo prazo, como reestruturar uma vinha: pequenas quantidades de uvas de vinhas da serra têm sido compradas localmente e microvinificadas, para “perceber o terroir”. “Não estamos amarrados ao que sabemos do Douro, nem sequer ao que é o vinho ‘clássico’ de Portalegre”, diz José Daniel, “pretendemos fazer o melhor que pudermos e soubermos”.
Plantada entre os 490 e 550 metros de altitude, em solos de xisto e granito, a vinha de 42 hectares que encontraram em 2017, com cerca de 20 anos de idade, já não é exactamente a mesma, com mudanças quer ao nível das práticas vitícolas (nutrição, podas, etc.) quer das variedades. Isto, apesar de, como faz questão de vincar Charles Symington, “o encepamento inicial estava, globalmente, muito bem escolhido.” Assim, e sempre através de sobreenxertias (técnica que permite mudar castas conservando um vinhedo maduro), foi reforçada a aposta nos brancos, Arinto e Verdelho (Gouveio, no caso), eliminado o Cabernet Sauvignon, reduzido o Aragonez, e introduzido o Grand Noir (casta tradicional de Portalegre) e a Touriga Nacional (já com alguma presença na região). Para além destas, a propriedade conta igualmente com Syrah, Alicante Bouschet (as duas castas que, com 5 vindimas feitas, Charles coloca no patamar mais alto de consistência qualitativa), Tinta Amarela, Alfrocheiro, e ainda 2,5 hectares de vinha velha em field blend.
Que estilo de vinho pretende a família Symington para Fonte Souto? “Queremos vinhos, brancos e tintos, com grande potencial de envelhecimento, mas também com muito boa fruta, sem precisarem de esperar muito tempo para serem bebidos”, esclarece Charles Symington. “E, acima de tudo, estamos focados em vinhos que, além da superior qualidade, evidenciem o carácter da Quinta da Fonte Souto e da Serra de São Mamede.”
A Quinta da Fonte Souto é um “work in progress” permanente. “Desde que chegámos que ainda não parámos de fazer obras”, diz Rupert Symington. O enoturismo vai, por isso, ser uma ambição concretizada a breve prazo. “Fonte Souto tem dimensão, com floresta, montado, vinha, castanheiros, e um potencial tremendo em termos de turismo de natureza. Juntando a isso os maravilhosos vinhos que aqui produzimos, temos tudo o que ambicionámos.”
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2021)